domingo, 27 de novembro de 2016

QUESTÃO DE LEGISLAÇÃO

QUESTÃO DE LEGISLAÇÃO Fui anexado, com prazer, a um grupo de discussão composto por profissionais do ramo do controle de pragas, cujo interesse principal é o de levantar temas e discuti-los na busca de informação, disseminar conhecimentos e tirar dúvidas. Originalmente do oeste catarinense, esse grupo autodenominado fórum de discussão, proliferou enormemente e hoje já conta com profissionais e empresas de muitos Estados. Todos os dias meu celular registra incontáveis manifestações desses profissionais; alguns, percebe-se, pouco tecnicamente preparados, outros ainda iniciantes e outros esbanjando conhecimentos, exatamente como é nossa comunidade. Os assuntos são os mais variados, mas todos em torno do exercício de nossa profissão. Uma dúvida manifestada sobre o controle de baratas, por exemplo. Imediatamente surgem informações e opiniões sobre o tema e um grande número de perguntas e respostas correlatas aparecem. Todos querem opinar, do simples RT (Responsável Técnico) carregando um caminhão de responsabilidades e que afirma ter a solução mais adequada, aos autodenominados falaciosos professores doutores, campeões de buscas à rede antes de “dar explicações”, não esquecendo o profissional comum cheio de dúvidas e com uma valorosa vivência dos problemas. O fato é que, para espanto de todos, muitas respostas e conhecimentos surgem prontamente, tornando o fórum extremamente interessante. Ao lado de proveitosas discussões sobre temas técnicos, no entanto, percebeu-se extensos debates sobre a legislação brasileira que deveria doutrinar as regras pelas quais o ramo do controle profissional de pragas, mas é omissa ou confusa; duram dias e dias. Refiro-me de um lado, à atuação da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a quem caberia legislar sobre esse assunto baixando regras de conduta às quais as empresas do ramo, todas, estariam submetidas e deveriam cumprir as disposições. De outro lado, estão as próprias empresas controladoras desnorteadas, pois as regras legais são aplicadas ao bel prazer dos fiscais da Vigilância, muitas vezes seguindo critérios tortos, errados ou simplesmente pessoais. Na prática, não há uniformidade na aplicação de critério fiscalizador para uma legislação que deveria ser única e inequívoca em todo o território nacional. Todos os envolvidos, verdade seja dita, querem “puxar a brasa para sua sardinha”. Vigilâncias Sanitárias Federal, Estaduais, Municipais, Conselhos Regionais, Sindicatos e agora Associações de classe, um emaranhado de órgãos e instituições cada qual julgando-se donos da verdade. É obvio que nunca haverá consenso. Aliás, nem bem sei quem o fará e de onde deve partir. Mas percebo claramente que se não houver regras, não haverá jogo!

sexta-feira, 22 de julho de 2016

ÉTICA E MORAL

Vivemos tempos difíceis. Sem entrarmos nos aspectos econômicos, nosso planeta atravessa tempos rubicundos com crescentes dificuldades até no simples ato de sobrevivermos, de produzirmos alimentos suficientes para todos. Isso para não falarmos da saúde, da moradia, dos meios ambientes terrivelmente danificados, das confusões sociais, das convulsões, das guerras e por aí vai. Parece que ninguém se entende. As correntes de pensamento surgem do nada, crescem, ganham seguidores que acabam por entrechocar-se com maiores ou menores danos e consequências. Morremos aos milhares e por qualquer coisa, todos os dias. Os códigos que regem cada país, cada povo, cada nação, cada etnia, cada agrupamento humano são diferentes entre si e dos mais diversos. Passamos do caos... ao caos, na breve história das civilizações cujos registros não datam muito além de 20 ou 30.000 anos, se tanto. Mas, se chegamos até aqui, não foi por mero acaso. Séculos e séculos se passaram enquanto a humanidade buscava civilizar-se, buscava evoluir, buscava o auto conhecimento dos princípios filosóficos que hoje norteiam os rumos da mais bem sucedida das espécies animais, o Homo sapiens. Ou, pelo menos deveriam nortear. Regras de conduta individuais e coletivas foram concebidas para ajudar a humanidade a dar pequenos passos avante e que permitissem um entendimento mínimo entre os povos. A enorme necessidade sentida pelos mais antigos povos de entender o mundo que os cercavam e, mais além, de compreender a si mesmos, suas próprias comunidades e até mesmo os indivíduos, levou o homem a criar um código de conduta que tentava colocar a casa em ordem. Claro que cada povo criava seu próprio código de acordo com sua época, seus costumes e seu entendimento. Surgiram então tantos códigos de regras de conduta quanto eram povos dos continentes, alguns mais rígidos e outros mais brandos. Surgiu então o conceito de Moral. Esta reflete os costumes, as regras, os tabus e convenções estabelecidas para cada sociedade. A ética, no contexto filosófico, está associada ao estudo fundamentado dos valores morais que orientam o comportamento humano em sociedade. Embora de significado parelho, os termos possuem origem etimológica distinta. A palavra “ética” vem do grego “ethos” que significa “modo de ser” ou “caráter”. Já a palavra “moral” tem origem no termo latino “morales” que significa “relativo aos costumes”. Ética é um conjunto de conhecimentos extraídos da investigação do comportamento humano ao tentar explicar as regras morais de forma racional, fundamentada, científica e teórica. É uma reflexão sobre a moral. Moral é o conjunto de regras aplicadas no cotidiano e usadas continuamente por cada cidadão. Essas regras orientam cada indivíduo, norteando as suas ações e os seus julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo ou errado, bom ou mau. No sentido prático, a finalidade da ética e da moral é muito semelhante. São ambas responsáveis por construir as bases que vão guiar a conduta do homem, determinando o seu caráter, altruísmo e virtudes, e por ensinar a melhor forma de agir e de se comportar em sociedade. Não existe (ou não deveria existir) éticas e moral individuais, já que nosso comportamento social é regido pela ética e moral do povo a que pertenço. Não posso e não devo ter ações ditadas por mim mesmo. Isso é outra coisa, é livre arbítrio. Se meu código de ética diz que não devo matar outra pessoa, então não devo puxar o gatilho só porque quero. Serei punido na forma da lei. É assim para os tão temidos terroristas que cometem barbáries? Não, mas cometem seus atos atrozes porque são regidos e orientados por suas próprias regras. A moral para eles tem outros valores, com base em tudo que acreditam. Dessa maneira, logo se percebe que cada grupo humano tem sua ética e sua moral. Esta publicação não pretende ir além em sua análise. Seu intuito é meramente de manifestar algumas opiniões pessoais do autor sobre ética e moral de um pequeníssimo (e importante) segmento da sociedade contemporânea, o dos controladores profissionais de pragas urbanas. Recentemente, convidado que fui, passei voluntariamente a participar de um grupo virtual, desses que a rede (Internet) está repleta. Cada grupo é composto por pessoas que têm alguma coisa em comum e na rede se comunicam, emitem suas opiniões pessoais, se manifestam contra ou a favor, trocam informações e partilham conhecimentos. No caso deste Editor, o grupo é um foro de debates sobre pragas urbanas sinantrópicas, como o são todos os seus membros. Assuntos dos mais variados surgem à discussão todos os dias. Como toda comunidade, há indivíduos muito diferentes entre si; uns mais preparados que outros, uns iniciantes e outros mais experientes e assim por diante. Qual o código de ética que rege esse grupo? Quais são seus conceitos de moral que os levou a formar um grupo social? Não são regras escritas, lamento informar. Os conceitos morais de nossa própria sociedade é que ditam o comportamento do grupo e dos indivíduos que o compõe. A ética nos diz o que podemos ou não fazer, que condutas tomar. A busca da coexistência pacífica e da harmonia das relações deve ser um dos objetivos do grupo. Podemos querelar, sem nos agredirmos. Podemos ter opiniões diferentes e divergir sem ofender. Devemos ser parcos nos adjetivos e pródigos nos argumentos. Se tem conceitos morais na argumentação, a ética estará sendo preservada e isso... queremos todos!

domingo, 15 de maio de 2016

EM TEMPOS DE CRISE

Nosso país está atravessando a pior crise econômica e social desde a proclamação da República. São incontáveis indústrias de todos os portes que fecham suas portas inflingindo milhares e milhares de cidadãos à condição de desempregados que ficam sem ter como alimentar suas famílias; fala-se em vinte milhões de cidadãos que perderam seus empregos. São outros milhares de pequenas empresas baixando suas portas. São indicadores econômicos que despencam ou que sobem, conforme a leitura. Essa enorme crise afeta todos os setores produtivos do país, incluindo, e por que não, o ramo dos prestadores de serviços, dentre os quais, as empresas controladoras de pragas. Com a forte diminuição da procura desses serviços técnicos especializados, muitas empresas desse ramo ou já desistiram, já mudaram de ramo ou, no mínimo tiveram que repensar em planos de recuperação ainda que dentro de um mercado podre. O que fazer? Muitos empresários enxugam seus quadros (essa sempre é a primeira opção). Esses apostam no negativismo e acham que não haverá recuperação do mercado tão cedo. Outros empresários, no entanto, apostam que serão capazes de vencer os tempos difíceis; apostam que o mercado vai reaquecer a médio e longo prazo. Estes são os empresários progressistas, capazes de operar verdadeiros milagres em seus negócios. Em nosso ramo, os negativistas começam por dispensar parte de seus funcionários (administrativos e, aí está um grande erro, os operacionais), esquecendo que com isso vai comprometer toda a estrutura da empresa que, convenhamos, deu uma trabalheira para treinar. O resultado é um só: direto e reto para o abismo. A segunda opção do empresário negativista é cortar custos supérfluos (e nisso ele está certo) e tentar diminuir os custos dos insumos (equipamentos e produtos). Exatamente aí reside o grande erro! As prateleiras dos distribuidores estão repletas de diferentes marcas de biocidas e seus respectivos princípios ativos. Felizmente chegamos a um ponto de nossos serviços onde oferta e variedade já não representa mais um problema. Os preços aparentes cobrados ao empresário controlador de pragas, às vezes chega a ser exorbitante e disso se aproveitam pequenos fabricantes que produzem produtos aparentemente “genéricos”. Seja como for e felizmente, já há produtos de segunda linha, mas de qualidade a preços razoáveis. Mas, não tentem substituir bons produtos (ainda que com preços aparentemente mais caros) por produtos de má qualidade, só porque eles são mais baratos; esse erro pode sair muito caro para a empresa que não só terá que executar repasses, como perderá inevitavelmente a clientela. Corte no pessoal e corte nos insumos só vai levar a empresa prestadora de serviços, a um buraco negro. O que fazer então? Mudança de atitude! Começando por uma (ou mais quando necessário) visita técnica comercial bem feita. Se o cliente (que ainda não é) chamou a empresa é porque ele necessita dos serviços. Como, quando e onde ele será atendido, é um assunto que deve acaba surgindo necessariamente durante a entrevista inicial. Essa visita define tudo e por isso é tão importante. É a chance que a empresa tem de expor seus conhecimentos, descobrir e definir exatamente o que quer o cliente e, principalmente, negociar o valor dos serviços. Aliás, esse ponto torna-se secundário se os serviços forem bem expostos. Muito bem, a empresa conquistou o futuro cliente. E daí? Supondo que os serviços deram os resultados esperados, vem outra parte muito importante: o pós serviço. Quer dizer, esse cliente tem que receber toda a atenção da empresa através de visitas frequentes onde os resultados obtidos serão rediscutidos e oferecidos serviços suplementares. Poderíamos ficar horas discutindo só esses dois pontos: atenção ao chamado e pós visitas frequentes. Isso pode gerar fidelidade e novos clientes. É só tentar!

sexta-feira, 8 de abril de 2016

MOSCAS EM ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS

De repente, bato os olhos no blog e encontro uma promessa não cumprida de falar um pouco sobre o combate às moscas comuns (Musca domestica) em estabelecimentos comerciais, subentendendo restaurantes, padarias, lanchonetes, açougues, botecos, supermercados e qualquer outro ponto comercial que manipule alimentos para onde as moscas adultas são atraídas. Vamos recapitular um pouco: as moscas comuns (e vamos falar só delas devido sua importância nos centros urbanos) têm quatro fases de seu desenvolvimento: ovo – larvas (três estadios) – pupa e adulto. Sobre as fases chamadas de jovens, já falamos aqui mesmo neste blog (basta procurar as postagens onde o tema é abordado logo aí na coluna da esquerda). Mas, é a última fase, a de adulto, é que se torna problema para o profissional controlador de pragas. Como resolver esse problema e atender seu cliente? Antes de tudo, lembremos que as moscas domésticas não são “vetoras” de doenças, mas, ao frequentar e buscar alimentos em dejetos humanos ou animais, em matéria orgânica em decomposição e putrefação, colhem em suas patas bactérias potencialmente perigosas e quando pousam no alimento humano, ali deixam boa parte das bactérias que transportam em seus corpos. Além de serem muito incômodas, o que transmitem é sempre uma imagem de sujeira e falta de higiene ambiental, coisas importantes quando e onde estamos consumindo nossas refeições. Seja como for, uma empresa controladora de pragas entra em cena nesse momento, chamada para “resolver” esse problema. “- Essa vai ser fácil!” pensa o profissional menos preparado ou desatento. Ledo engano! Primeiro: você vai ter que se envolver com a pior parte do problema das moscas, a fase de adultos alados que após saírem de seus criadouros, se espalham pela redondeza em busca de alimento e para acasalar-se. Por exemplo: 1.000 larvas de moscas juntas concentradas em um único ponto do criadouro, é facílimo controlar, pois, resumindo, aplicar um pouco de larvicida nesse ponto já se elimina tal quantidade de larvas; todavia, depois de adultas, essas mesmas 1.000 moscas se espalham e não há como eliminar todas. O bom senso já me diz que não devo aplicar um tratamento geral por termonebulização, porque esse método não é seletivo e, portanto, afetará toda a fauna ambiental, coisa que todo profissional controlador deve evitar. Além do que, ninguém manda no vento e ele soprará em qualquer direção espalhando a nuvem inseticida (até que nosso governo encontre um método de engarrafar o vento, como preconizou a presidente). Então o que devo fazer para combater essas mesmas 1.000 moscas depois que se tornaram adultas aladas? Posso obter essa concentração de moscas se conseguir atraí-las a pontos tratados com adulticidas. Voltando ao tema central da conversa, o combate às moscas infestantes de um restaurante começa por uma boa inspeção... do lado de fora do estabelecimento. Temos que nos certificarmos de que não exista ali nesse entorno nenhum foco criadouro de moscas; atenção à chamada “rota do lixo”. Se houver a existência de qualquer monturo de lixo esquecido em algum canto, ele deve ser rigorosamente removido e o local higienizado. Se percebermos que as moscas estão vindo do perímetro externo do estabelecimento, devemos, dentro do perímetro interno do terreno e suas instalações estabelecer uma primeira linha de combate às moscas adentrantes. Como posso fazer isso? Com o auxílio de algum produto mosquicida adulticida (existem ótimos no mercado capazes de atrair e imediatamente eliminar a mosca que ingira o produto, geralmente com isca de açúcar), o qual será diluído e aplicado a pincel nos principais pontos onde as moscas costumam pousar, tais como corpos cilíndricos, fios, pontas de objetos. Se eu não encontrar onde aplicar, posso fazer uso de barbante de algodão embebido em uma calda feita com o mosquicida e estender esses barbantes um pouco acima da cabeça de um homem. Se houver chance, posso criar os chamados “painéis papa moscas” que nada mais são que superfícies verticais de qualquer largura pintadas em amarelo com listas diagonais vermelhas (combinação de cores muito atrativas para as moscas), onde se aplica um bom mosquicida adulticida. Quanto mais, melhor! Só com essas ações de combate já eliminaremos grande parte das moscas que estiverem chegando. Contudo, algumas moscas podem adentrar ao estabelecimento e ali causarem problemas. Em superfícies planas, sempre longe das vistas das pessoas (geralmente acima do campo de visão de um homem adulto), podemos estabelecer outra linha de combate usando mosquicida em isca (também encontrado no mercado) cuja isca são grânulos de açúcar cristal coloridos em amarelo e vermelho, impregnados com o mosquicida adulticida (na praça, há algumas iscas que contém feromônio -substância de cheiro - melhorando bastante o poder de atração para as moscas). Os melhores mosquicidas são à base de imidaclopride ou thiametoxan com hormônio azametifós. Parapeitos e batentes das janelas são os melhores pontos para usar essas iscas. E, por fim, podemos também fazer uso das tais armadilhas que atrairão (lâmpada ultravioleta) e eliminarão moscas passantes (as melhores são as colantes, cujos cartões com cola devem ser trocados com certa frequência). Pronto, cumpri o prometido!

terça-feira, 15 de março de 2016

NOVA AMEAÇA NO BRASIL: FEBRE DE MAYARO

Vem chegando mais uma ameaça à saúde pública brasileira e desta vez, adivinhem quem pode ser o vilão: acertou quem disse Aedes aegypti. Pois é. O Aedes, já responsabilizado cientificamente pelo dengue, pelo chicungunia e pela zika, poderá se transformar rapidamente em transmissor da febre de Mayaro (ou poliartrite epidêmica). Por enquanto, o vírus da mayaro é transmitido por um mosquito encontrado na região amazônica, nas copas das árvores das matas, o Haemagogus (o mesmo mosquito transmissor da febre amarela), que pica durante o dia (certos primatas como micos e saguis). Por ali fica, mas já há provas que ele está se aproximando do homem nas zonas rurais e semi rurais, onde entra em contato direto com a espécie humana. A doença causa uma febre com dores musculares e principalmente articulares (parecida com a dengue), dura de 3 a 5 dias e melhora mesmo sem tratamento. O vírus da mayaro é da família Togaviridae e gênero Alphavirus (uma espécie de primo do vírus chicungunia). O período de incubação (entre a picada do mosquito e o aparecimento dos sintomas), é de 3 a 11 dias e não foi registrado até hoje transmissão entre humanos. Embora somente agora é que se começa a falar do mayaro (identificado em 1954), na verdade sua presença foi oficialmente registrada em nosso país em 1950 e em 1987, Goiás teve um surto; desde 2008 a mayaro já foi encontrada em sete Estados. Quer dizer, ela vem vindo! Traduzindo melhor, o perfil da doença vem se modificando à medida que o mosquito Haemagogus se aproxima dos centros mais urbanizados, onde o Aedes já se encontra instalado; aliás, técnicos da Fundação Oswaldo Cruz e do Instituto Evandro Chagas têm estudos que comprovam a fácil adaptação da doença ao Aedes. Os pesquisadores do Instituto Adolpho Lutz afirmam que o Aedes tem todas as características que o torna possível futuro transmissor da febre mayaro. Atualmente, 34 amostras aguardam análise do Instituto para a confirmação da infecção em Ananindeua (PA). O material partiu de Goiás, Mato Grosso, Roraima e Pará e poucos laboratórios dispõem de tecnologia para dar um diagnóstico fiel baseado em exames sorológicos e moleculares. Mas, de onde veio esse novo vírus? Do sudeste de Trinidad e Tobago, por onde correm as lindíssimas águas azuis (bioluminescência das algas) do rio Ortoire. Dali para as florestas tropicais das Américas, foi só um pulo. Para especialistas, o mayaro avança para ser o próximo vírus da floresta a se urbanizar e causar epidemias. O vírus da mayaro é um dos vírus chamados de emergentes (como o da zika e da chicungunia). O ambiente deles muda com a entrada do homem nas florestas e eles começam a se adaptar buscando novos hospedeiros e meios de transmissão. Na era dos homens, o Antropoceno, as doenças são compreendidas como um desequilíbrio ecológico. À medida que destruímos as florestas e invadimos as casas dos vírus, eles se mudam. E eles se mudam mesmo... para nossas casas. Vírus e insetos silvestres se tornam urbanos, como as da zika e do dengue, surgiram em florestas. Para pesquisadores, erradicar completamente essas doenças é algo impossível. Sempre surgirão outros vírus e mosquitos. O segredo está em manter o equilíbrio das florestas e das cidades, dizem. E nunca negligenciar a vigilância, para que surtos possam ser contidos logo no início. Em relação ao mayaro, parece que aqui ainda não há impedimentos para sua propagação. O clima, a urbanização dos insetos transmissores e a falta de combate ao focos conspiram a favor do vírus.

quinta-feira, 10 de março de 2016

E A MALÁRIA? NINGUÉM SE LEMBRA MAIS?

Zika, dengue, febre do Nilo, chikungúnia, dengue... e tome doença transmitida por mosquitos. Algumas delas em condições já epidêmicas em nosso país. Ninguém (exceto os especialistas de institutos de pesquisa ou de área afetadas intensamente) se lembra da tristemente célebre, que pode se reurbanizar a qualquer momento, malária. Causada por um protozoário parasita microscópico (no Brasil, principalmente pelo Plasmodium falciparum) e transmitida pelo mosquito Anopheles (diferentes espécies), estima-se que seja responsável pela morte de 1,2 milhões de pessoas ainda hoje. O parasita penetra na próxima vítima pela picada de um mosquito anofelino já parasitado e no sangue da vítima destrói as hemácias (células vermelhas) que se não for prontamente tratado, leva o paciente à morte. Em Roma, sob o império de Appius Claudius (325 AC), a malária provocou uma enorme mortalidade entre os escravos e demais obreiros que construíam a Via Appia em terrenos pantanosos; percebendo que ali estava o grande criadouro dos anofelinos, os romanos drenaram o terreno pantanoso. Vários imperadores subsequentes continuaram esse trabalho de drenagem porque se acreditava que ali o ar era insalubre e mesmo envenenado. O nome malária significa “mau ar”. O advento do DDT e seu uso contra mosquitos (principalmente na fase alada), surgiu como um alento nessa luta homem x mosquito. Associado a algumas medidas corretiva do meio ambiente, os resultados foram bons e a malária foi contida em seu avanço. Vez ou outra, aqui ou ali, ela ressurge com força e cobra sua taxa em mortalidade humana. Os cientistas, contudo, pensam que a mosquito anofelino trazem dentro de si, a chave para seu próprio controle e talvez até a erradicação. Boas novas! Pesquisadores do Colégio Imperial de Londres têm tentado uma nova técnica de injetar mosquitos com um gen que faz com que 95% de suas proles sejam constituídas somente de machos. Uma vez que somente as fêmeas picam os humanos, essa nova técnica pode suprimir ou eliminar a malária. A técnica funciona pela supressão do cromossoma X paterno evitando seja transmitido à próxima geração dos mosquitos. Ao contrário de técnicas anteriores, essa nova técnica é hereditária (passando de geração a geração). Os pesquisadores estão muito otimistas, embora cautelosos com os resultados a campo. Há países, principalmente do terceiro mundo (áreas tropicais e subtropicais), onde cerca de 40% da população teve ou tem malária; crianças de pouca idade e mulheres grávidas são particularmente suscetíveis à malária. Nas áreas endêmicas e epidêmicas os melhores métodos de combate a essa doença são o uso de inseticidas e redes anti mosquitos nas camas. Tomara que dê certo!