segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

SOBRE AS ARANHAS – PARTE III

Ficou faltando falarmos um pouco sobre as perigosas aranhas viúvas negras e as temidas aranhas marrons. As viúvas negras são as do gênero Latrodectus spp (“ladrão escondido”, em bom latim) conhecidíssimas no mundo todo; cita-se o espantoso número de 10.000 vítimas por ano no mundo inteiro com algumas dezenas de mortes. Quem já viu uma viúva negra (refiro-me à aranha, ora pois pois!) não esquece, porque ela tem pernas fininhas, um corpo arredondado de cor negra e uma característica mancha vermelha em forma de ampulheta situada no ventre. Medem cerca de 8 a 1,5 cm de corpo e outro tanto de pernas; portanto são relativamente pequenas. Movimentam-se lentamente e são tímidas, sempre abrigadas sob uma folha ou algum detrito vegetal; têm notada preferência para habitar as regiões litorâneas, especialmente na vegetação da orla das praias. Constroem teias irregulares sob as plantas das praias ou qualquer outro local escuro, onde não sopre o vento. Os machos são bem menores que as fêmeas e se alimentam de restos de insetos capturados pelas teias construídas pelas fêmeas. A viúva negra recebeu esse nome, porque logo após o coito, as pontas dos “êmbolos”, os apêndices (2) sexuais dos machos, quebram-se e eles morrem ficando seu cadáver preso à teia, razão pela qual se pensava que eram as fêmeas que os matavam. Injustiçadas! O veneno das Latrodectus é potente e afeta tanto o sistema nervoso periférico (dor), como o central, fazendo efeito sobre a musculatura lisa que reveste alguns importantes órgãos internos (ex: coração). No local da picada quase não há alterações, mas quando o veneno começa a se espalhar pelo corpo, a vítima chega a gritar de dor; calafrios, tremores, cãibras principalmente nas pernas, pés e dedos do pé que se encurvam. Palpitações cardíacas, suores frios, retenção de urina, alucinações mentais, fadiga e outras encrencas mais dependendo do peso da vítima e da quantidade de veneno injetado. O soro antilatrodectus reverte esse quadro quando secundado por terapêutica de suporte (medicamentos contra a dor, tônicos cardíacos, calmantes, etc). É muita encrenca para uma aranha tão pequena! Encrenca? Encrenca é o que causa nossa próxima aranha: a aranha marrom! Nome científico: Loxosceles spp. Em certas regiões do Paraná, por exemplo, é o problema número 1 em saúde pública. Seis olhos brilhantes como pérolas, corpo de cor cinza esverdeada (lembrando uma azeitona) e pernas, hábitos estritamente noturnos, vida sedentária em sua teia, corpo entre 8 e 15 mm apenas e pernas longas (até 23 mm) e dotadas de um veneno potentíssimo. São encontradas sempre em lugares escuros, buracos, fendas, nos entulhos e materiais de construção, sob cascas de árvores e folhas mortas, nas adegas, garagens, alpendres, quartos de despejo, etc. Constroem uma teiazinha irregular onde ficam imóveis, são pacíficas, não picam e parecem não prejudicar ninguém até que sejam tocadas inadvertidamente. Nesse instante, essa aranha anteriormente mansa reage rapidamente, ferroando a vítima, quando inocula uma pequena quantidade de seu veneno; a partir daí, o mal está feito. Sua toxina é necrosante (provoca gangrena em torno do ponto da picada) e boa parte da pele, musculatura e outros tecidos locais entram em necrose, resultando a perda de todo esse conjunto, às vezes deformando seriamente a vítima. Tô fora! Já não gosto de aranha mesmo, o que dizer dessa aí! Antes que vocês perguntem, vamos sim falar das caranguejeiras e depois do combate às aranhas. Aguarde nosso post a respeito e que será o derradeiro sobre esse tema, prometo. Não perca!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

SOBRE AS ARANHAS – PARTE II

Eu dizia que sendo as aranhas tão úteis ao eliminarem insetos e outros artrópodes que podem devastar nossas lavouras, por que tanta gente sente grande aversão e mesmo medo ao se depararem com uma aranha? A resposta está nos tempos longínquos, nos primórdios da civilização quando cohabitávamos, os humanoides e certas aranhas, nas cavernas onde buscávamos abrigo das intempéries. Lá, aprendemos a evitá-las, pois a dor, o sofrimento e até mesmo a morte podia ocorrer com uma simples picada. Isso ficou gravado de forma atávica em nossos cérebros e nossa tendência natural é evitarmos o contato ou mesmo a simples presença de aranhas em nossos lares (leia “cavernas”). Esse temor não é sem razão, pois existem, em nosso país, algumas espécies perigosas, tais como: as aranhas marrons, as viúvas negras, as armadeiras e as tarântulas. Vamos falar um pouquinho de cada grupo. A “aranha armadeira” (Phoneutria spp) é a aranha mais perigosa do mundo! O povo deu esse nome porque quando ameaçada, costuma armar-se para o bote, isto é, colocando-se rapidamente em pé, encolhe os dois últimos pares de pernas como dois feixes de mola enrolados, eleva seu corpo quase em posição vertical, ergue ameaçadoramente o par dianteiro de pernas e distende suas presas de veneno. Prepara-se e segue os movimentos do inimigo. Se um incauto ou distraído chegar a cerca de 20 ou 30 cm de distância, ela salta rapidamente e crava na vítima seus “punhais” veneníferos. A aranha armadeira vive solitária, não faz teia, é irrascível e feroz, não tolerando nem a presença de outra aranha de sua própria espécie. Em certas épocas do ano adentram às residências passando geralmente por baixo da porta e com frequência escondem-se dentro dos sapatos. Seu corpo mede cerca de três e suas pernas cinco centímetros; tem pelos cinzentos curtos e oito olhos dispostos na frente do que popularmente chamamos de cabeça (cefalotórax), por isso têm excelente visão inclusive à noite. Caçam geralmente ao final do dia e à noite e buscam grilos e gafanhotos, vagalumes e besouros, baratas e outras aranhas menores. Em busca de presas, invadem jardins, lavanderias, garagens. Durante o dia, buscam esconder-se sob móveis, atrás de cortinas, nos armários de roupas que não estejam fechados e, principalmente, dentro de sapatos. A dor de sua picada é extremamente forte, se instala em minutos e perdura por horas a fio. Pulso rápido, suores principalmente na nuca, dificuldades respiratórias, vertigem, queda das pálpebras, dificuldades na visão e, em casos gravíssimos, morte por sufocação. Com o próprio veneno dessas aranhas, perigosa, mas habilmente retirado em laboratório, cavalos são injetados e seu soro sanguíneo conterá anticorpos anti aranha armadeira que tantas vidas têm salvado. Quero ainda falar um pouco sobre as temidas tarântulas, as Lycosas. Vocês já ouviram palavras como atarantado (estonteado, aturdido) ou o verbo atarantar (estontear, confundir, perturbar)? Ou quem sabe a palavra tarantela (um ritmo de dança popular napolitana)? Pois todas essas palavras remetem às aranhas tarântulas que infestavam sem controle desde os tempos dos romanos a cidade de Trento, ou Tarento, no sul da Itália. Os acidentes com humanos eram tantos que já na Idade Média reconhecia-se uma doença chamada de tarantismo ou tarantulismo. Intensa agitação nervosa, perda momentânea do controle de movimentos voluntários, violentas crises dolorosas, convulsões, risos histéricos e choros em altos brados, eram alguns dos sintomas manifestados pelas pessoas picadas por tarântulas. Muitos acidentados dançavam freneticamente até ficarem banhados de suor e caírem de cansaço. No dia seguinte estavam sãos e não se lembravam de nada que haviam feito. Quando então muitas pessoas eram picadas ao mesmo tempo, uma verdadeira multidão dançava freneticamente, gritava e suava. Ao som de um violino e tamborim, com ritmo em compasso de seis por oito, nascia assim a tarantela! Uma vez falei que eu adoro cultura inútil! E como esses ataques coletivos de tarantismo ocorriam em determinadas épocas de ano (época da maior procriação das tarântulas, hoje se sabe), principalmente em torno do dia de São Guido, as procissões seguiam a “dança de São Guido”, coletiva e divertida, dois passos para a frente e um para trás. De minha infância lembro-me os comentários dos mais velhos diante de alguma criança energizada que não parava de se movimentar: “- Está com a dança de São Guido”. Cientificamente, as tarântulas foram denominadas Lycosas e só no Brasil já foram identificadas cerca de 120 espécies. Corpo com um pouco menos de três centímetros e pernas de quatro, pelos de cor cinzenta, mas com listras brancas no dorso; covardes, evitam o confronto e procuram fugir quando descobertas. Não fazem teias e vivem em pequenos buracos no solo onde tenha proteção de vegetais (como a grama dos jardins). Nas residências procuram a proximidade de piscinas; as fêmeas carregam uma bola de ovos presa à extremidade de seu corpo. Para o tratamento da picada das tarântulas, usa-se o soro antilicósico produzido pelo Instituto Vital Brasil. Falta ainda falar das viúvas negras e das temíveis aranhas marrons, o que faremos na terceira parte deste palpitante post!