sábado, 25 de fevereiro de 2012

AS FORMULAÇÕES – Parte IV


Já que comecei, vamos terminar. Falávamos sobre as formulações e agora só falta comentar um pouco sobre as próprias, isto é, sobre as diversas formulações disponíveis em diferentes produtos à venda no mercado brasileiro profissional.
a)Inseticidas aerossóis. Dentro de uma lata pequena, um inseticida líquido (ou pó) é premido e quando se aperta a válvula, o produto sai na forma de uma fina névoa. É a formulação mais empregada nos produtos de venda livre e uso doméstico. Há poucos produtos de uso profissional apresentados nesse tipo de formulação que vêm em embalagens dotadas de prolongador na válvula para que o operador possa tingir pequenas fendas, gretas e nichos.
b)Concentrados Emulsionáveis (CE) ou Emulsões Concentradas (EC), o que é a mesma coisa. São formulações líquidas que contêm o ingrediente ativo (i.a.) mais algum solvente mais um emulsificante (e outros componentes conforme o fabricante). Os CE são misturados à água no momento do uso, formando uma calda esbranquiçada opaca. São fáceis de diluir e misturar, requerem pouca agitação e raramente deixam resíduos visíveis nas superfícies tratadas. Contudo, alguns EC, devido ao solvente utilizado, podem afetar determinadas superfícies. Se o EC escolhido por você lhe for novo, é melhor testá-lo sobre diferentes tipos de superfície antes de empregá-lo extensivamente. Os EC são bastante absorvidos por nossa pele (proteja-se!) e alguns podem ser fitotóxicos (tóxicos para plantas). Em superfícies porosas, são bastante absorvidos e assim diminuem sua eficácia.
c)Pós Molháveis (PM) ou Wettable Powders (WP), o que também é a mesma coisa. São formulações sólidas onde o i.a. vai misturado a um carreador como talco, por exemplo, e um agente umectante (para permitir sua mistura à água). Uma das primeiras vantagens dessa formulação é que ela é menos fitotóxica (por não conter solventes) e dificilmente é absorvida em superfícies porosas, onde vai permanecer ativa, razão pela qual é indicada para tratamentos externos. No entanto, os PM requerem agitação durante a aplicação porque seu peso faz com que o pó dissolvido na água possa decantar e depositar-se no fundo do equipamento comprometendo a aplicação correta. Outra coisa: os PM podem deixar um resíduo esbranquiçado em certas superfícies onde foram aplicados, o que não deixa de ser um problema em interiores. Os PM resistem bem mais a ação da luz solar do que os CE. Outro risco para o operador é que durante a manipulação de um PM ao preparar a calda, ele pode ser absorvido por inalação; alguns PM comerciais já vêm em saquinhos de plástico solúveis em água (feitos de álcool polivinílico), evitando assim esse risco.
d)Suspensões Concentradas (SC). Um artifício químico transforma um PM em uma formulação que pode ser misturada com água e não decanta ou separa. Há poucos produtos SC em nosso país.
e)Suspensões Microencapsuladas (ME ou CS). Através de processos industriais avançados, um i.a. é introduzido no interior de pequenas microcápsulas de uma espécie de nylon e essas pequenas esferas são colocadas em suspensão em água. Confesso, sou um particular fã desse tipo de formulação, pois há inúmeras vantagens no seu uso profissional, ainda que no mercado brasileiro haja bons microencapsulados e outros nem tanto. Tomamos uma certa quantidade do produto microencapsulado e, de acordo com as instruções do rótulo, a diluímos em água. Quando aplicamos essa calda, uma enorme quantidade das microcápsulas (vários diâmetros, mas todos microscópicos, não perceptíveis a olho nu) vai ficar depositada nas superfícies tratadas; pouco depois a água da calda evapora e as microcápsulas (contendo o i.a.) ali permanecem aguardando a passagem de algum inseto. Quando isso ocorre, dezenas e dezenas das microcápsulas adere ao corpo do inseto, sendo dali removidas. O atrito com o corpo do inseto provoca a erosão da parede da microcápsula e seu conteúdo (o i.a.) penetra no tegumento desse inseto, injetando-lhe uma dose mortal do inseticida. Vejo algumas vantagens: os CS não são absorvidos por superfícies porosas; o i.a. perdura no ambiente muito mais tempo que os CE e mesmo os PM, posto que o i.a. estará protegido dentro das microcápsulas, conferindo assim um longo efeito residual ao produto; baixo odor é outra característica dessa interessante formulação.
f)Pós Solúveis (PS ou SP, a mesma coisa). É uma formulação parecida com os PM, mas só que esses pós formam verdadeiras soluções quando misturadas à água. Requerem pouca agitação na forma de calda e deixam resíduos menos visíveis nas superfícies tratadas. Há poucos produtos PS porque há poucos i.a. solúveis em água.
g)Grânulos (G). Quando solúveis em água recebem a denominação de WG. Os grânulos são feitos com diferentes substâncias, mas, curiosamente uma delas, é... espiga de milho! Basta impregnar o carreador com o i.a. Claro que outros componentes entrarão na formulação. Os G, depois de aplicados em calda aquosa, resistem muito bem às adversas condições ambientais mesmo a céu aberto.
h)Pós Secos (P). É o i.a. misturado a algum carreador sólido inerte. São empregados através de polvilhadeiras na forma de pó mesmo. Alguns P podem perder seu efeito quando molhados, mas se continuarem secos têm ótimo efeito residual. Todavia, não são aplicáveis em muitos pontos dos recintos infestados pois deixam um filme aparente do pó.
i)Iscas. É uma formulação muito usada pelos profissionais controladores de pragas especialmente nas infestações por baratas, formigas e cupins. As iscas inseticidas são formadas de um i.a. misturado a alguma substância atrativa para os insetos alvos. Podem ter a forma de grânulos, de géis ou de pastas. Muitos produtos não agem rapidamente, de forma que o inseto afetado pode voltar à sua colônia e contaminar de alguma forma aos demais insetos. As iscas são sempre prontas para usar e não requerem manipulação. Há disponíveis no mercado diferentes equipamentos aplicadores como pistolas, bisnagas e seringas plásticas. São fáceis de aplicar e podem ser removidos quando o controle for atingido. O custo final do tratamento pode ser alto, especialmente porque o efeito de controle das populações infestantes não é atingido rapidamente, requerendo reaplicações.
Muito bem, creio que abordamos pelo menos a principais formulações do mercado nacional. O tema, como vimos, é amplo e há muitas outras coisas envolvidas nas formulações, mas isto aqui não possa de um simples post cujo objetivo é relembrar alguns aspectos do tema, tirar algumas dúvidas e revisar alguns conceitos. Os leitores que sentirem a necessidade de mais informação, devem se reportar a livros técnicos ou pesquisar na Internet, ainda que as fontes sejam, na sua maioria, na língua inglesa.
Acabou!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

AS FORMULAÇÕES – Parte III

Em posts anteriores, estávamos fazendo uma revisão sobre as formulações que o profissional controlador de pragas pode utilizar em seu trabalho. Vimos a importância de uma boa vistoria prévia nas áreas a serem tratadas, o que nos ajudaria a definir que tipo, ou que tipos, de formulação daria o melhor resultado possível. Um pequeno questionário de 10 perguntas iria orientando nossa seleção e, após abordarmos os cinco primeiros itens, eu dizia que ainda faltavam mais cinco. Aqui estão eles:
6) A formulação selecionada tem um bom custo/benefício?
Algumas variáveis devem ser levadas em conta para podermos responder a essa pergunta. Primeiramente considere a diluição do produto e então determine o custo para tratar uma dada área (por exemplo de 100m2 de área tratada ou de uma residência ou de um restaurante, etc). Considere o tempo que pode ser ganho com aquela determinada formulação; economia na mão de obra pode permitir o uso de uma formulação mais cara. Usando tal formulação você pode evitar repasses? Aliás, poucos profissionais levam o indesejável repasse em consideração quando apresenta um orçamento. Quero dizer, não estou recomendando prever repasses no seu preço final, mas sim faça o trabalho de forma que não haja repasses! O produto mais barato nem sempre é o que dará melhor custo/benefício.
7) A formulação mistura-se com facilidade com o diluente ou com outros produtos?
Ao contrário das formulações de uso livre como iscas, pós e aerossóis, os profissionais quase sempre têm que praticar uma mistura de tanque em suas operações. Algumas formulações são mais fáceis de misturar que outras. Formulações líquidas, tais como os EC (ou CE), SC e ME (ou CS) são muito mais usadas que a formulações secas como os PM (ou WP), embora esses pós hoje já possuem solubilidade muito grande e fácil. Se você não tiv er certeza que os inseticidas selecionados se misturem bem, faça uma amostra pequena em um frasco de vidro transparente e observe o resultado; misturou bem, pode usar.
8) A formulação pode escorrer durante a aplicação?
Sabemos que a mão do operador é que determinará se a calda utilizada vai escorrer em uma parede ou não. Isso é básico e não depende da formulação escolhida. Movimentos lentos ou bico do pulverizador muito aberto, provavelmente ocasionarão escorrimento da calda. Bom treinamento do operador devidamente sob supervisão direta de um técnico, pode resolver essa questão. Mas, por incrível que pareça, as condições do tempo pode provocar escorrimento da calda aplicada nas paredes. Se o tempo estiver chuvoso, a alta umidade do ar pode provocar saturação das superfícies a serem tratadas e quando a pulverizarmos, é possível que a calda escorra. Isso é particularmente verdade nas paredes externas. Sob condições adversas, use formulações em grânulos (diluídos) que formando uma calda mais grossa, dificilmente escorrerá.
9) Resíduos visíveis após a aplicação podem ser um problema?
Certas formulações poderão deixar resíduos aparentes após sua pulverização. É o caso de formulações PM (ou WP) em caldas saturadas ou que exijam grandes volumes por unidade de área. Esses resíduos são devidos ao carreador da formulação (talco, cal, etc) que é utilizado pelo fabricante quando produz o inseticida. Naturalmente, esse problema é mais importante em paredes internas, onde nossa preferência deve recais sobre formulações como os EC (ou CE), as SC e as ME (ou CS), minimizando o risco de causar resíduos aparentes. E sempre é bom relembrar: paredes sujas de pós certamente ficarão manchadas após uma pulverização, o que nada tem a ver com a formulação escolhida, mas sim devido ao próprio pó da parede!
10) Há itens legais que possam limitar o uso do biocida?
Jamais use um inseticida sem antes ler cuidadosamente seu rótulo. Isso é fundamental! Se você tiver dúvidas sobre o uso do biocida em determinado local, consulte o fabricante ou seu distribuidor.
Após revisarmos essa lista de 10 itens, fica claro que não existe uma “super formulação” capaz de ser utilizada em qualquer situação, em qualquer lugar e contra qualquer pragas, com máximo custo/benefício. O conhecido “Zé Bombinha” não sabe disso, certamente. Mas, o bom profissional vai utilizar diferentes formulações ao longo do dia de trabalho, sempre com o intuito de obter os melhores resultados possíveis.
Bem, falta comentarmos um pouco sobre as formulações em si. Puxa, como tem coisa que precisamos saber simplesmente para eliminarmos um grupelho de pragas urbanas! No post seguinte desta série, continuamos. Tenha fé, leitor amigo!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

AS FORMULAÇÕES DOS INSETICIDAS- Parte II


Vimos, no post anterior, alguns dos diferentes termos que são empregados nas formulações de biocidas e concluímos que o profissional controlador de pragas deve atentar para os diferentes tipos de formulações. Antes de selecionar a formulação a ser utilizada, é preciso conhecer o local onde temos que efetuar o tratamento contra pragas. Isso parece mais ou menos óbvio, mas a maioria das empresas controladoras de pragas simplesmente não executa uma vistoria prévia atentando para esse detalhe. Acaba empregando o que sempre empregou, não importa onde e como.
Um rápido questionário de 10 pontos a respeito pode servir de guia (check list) para que selecionemos a melhor formulação para uma dada situação:
1) A formulação pode ser empregada em áreas sensitivas?
• Exemplos dessas áreas: hospitais, clínicas e assemelhados, áreas de armazenagem, manipulação ou consumo de alimentos, salas de aula, certas linhas de produção industrial, certas áreas de zoológicos, etc. Alguns cuidados especiais e adicionais devem ser levados em consideração para evitarmos riscos potenciais na utilização de determinados biocidas. Antes de tudo, leia o rótulo e certifique-se de que aquele produto tem indicação para uso na área pretendida. Pulverização de produtos residuais deve ficar na aplicação localizada em frestas e reentrâncias e não devem ser aplicados em dependências ocupadas. Selecione inseticidas de baixo odor (ou mesmo sem odor) e que tenham baixa pressão de vapor. Espera aí, vamos explicar que papo é esse. Um produto que tenha alta tensão de vapor libera odor e o i.a. rapidamente, fazendo efeito rápido sobre os insetos, mas permanecendo no ar ambiente. Um produto de baixa tensão de vapor, será mais lento em seu efeito, mas não irritará tanto a mucosa respiratória dos ocupantes posteriores do recinto. Cappice? Portanto, leia a ficha técnica do produto selecionado (procure nos sites dos respectivos fabricantes) para saber sobre sua tensão de vapor. Em áreas sensitivas, considere a possibilidade de fazer uso de formulações sólidas (iscas, pós, pastas e géis). É mais seguro.

2) A formulação escolhida pode ser fitotóxica (tóxica para plantas)?
• Produtos fitotóxicos são aqueles que causam dano às plantas. Frequentemente, a fitotoxicidade de um inseticida não está no seu i.a., mas vem dos solventes ou outros inertes que entraram na formulação. Se o ambiente for cheio de plantas, será melhor optar por inseticidas que não contenham solventes, tais como as formulações pós molháveis (WP ou PM), SC (Suspensões Concentradas) ou ME (microencapsulados). Devemos evitar as Emulsões Concentradas (EC ou CE). Se tiver que tratar diretamente as plantas, evite fazê-lo sob a luz solar direta ou nas horas mais quentes do dia. Está em dúvida? Experimente aplicar em alguma pequena parte da planta para certificar-se de que o produto não a afeta.

3) A formulação é efetiva contra a praga alvo?
• Independentemente da praga a ser controlada, o princípio básico é aplicar o biocida sobre superfícies por onde a praga possivelmente entrará em contato direto. Leia o rótulo e verifique se a praga infestante está ali listada. Iscas podem ser boa alternativa.

4) A formulação vai ter um bom desempenho nas superfícies onde pretendo aplicar o produto?
• A interação entre a superfície tratada e a formulação escolhida pode influir bastante no resultado final. Para pulverização residual, escolha uma formulação que permaneça ativa na superfície tratada. Estas, podem ser classificadas a grosso modo em: superfícies porosas, semi porosas ou não porosas. Exemplos de superfícies porosas: concreto, madeira não envernizada, gesso, papel e plásticos. As não porosas: vidro, cerâmica e metálicas. As semi porosas: esmalte, látex, vinil e fórmica. Numerosos trabalhos científicos demonstraram que as formulações EC (emulsões concentradas) ou CE (concentrados emulsionáveis) são absorvidas em superfícies porosas e semi porosas, de forma que não ficarão disponíveis para afetar os insetos. As formulações WP ou PM (pós molháveis), as SC (suspensões concentradas), os pós e as ME (microencapsuladas) não são facilmente absorvíveis nas superfícies porosas ou semi porosas, de maneira que ficam mais disponíveis para afetar as pragas alvos. Dessa forma, se a praga alvo for um inseto rasteiro, escolha uma formulação que permaneça na superfície tratada sem ser absorvida. Mas, se a praga alvo é uma daquelas que se esconde sob as superfícies (cupins, brocas, etc) uma formulação EC (ou CE) é a recomendada (diluída em solvente orgânico). Durante a inspeção prévia dos ambientes a serem tratados e antes do tratamento, procure verificar qual o tipo de superfície predominante e identifique a praga alvo, de forma que a escolha da formulação a ser empregada seja a mais adequada. E você pensava que era só ir encostando a barriga no balcão do distribuidor e sair dali com a solução para seus problemas! Ledo engano, amigo!

5) De que maneira os fatores ambientais adversos à formulação vão afetar o biocida (temperatura ambiente, umidade, luz solar)?
• Uma vez aplicado no ambiente, uma série de fatores vão afetar seu desempenho e resultados. Por exemplo, a temperatura ambiente, já foi provado, pode afetar as moléculas do produto; quanto mais alta for, mais afeta o biocida (por termólise). A umidade ataca os biocidas aplicados(por hidrólise), especialmente quando combinada com altas temperaturas, mas isso vai depender do tipo de superfície onde a calda foi aplicada. As altas temperaturas, igualmente, podem aumentar a tensão de vapor de certos i.a. e fazer com que volatilizem mais rápido (menor efeito residual). Correntes de ar fortes produzem esse mesmo efeito. Contudo, certas formulações resistem mais a esses fatores deletérios do que os CEs (ou Ecs); é o caso dos microencapsulados (MS) e dos PMs (ou WPs). Por que estou insistindo nesse fator adverso da temperatura? Porque boa parte dos tratamentos é executada em cozinhas e outros tipos de dependências onde a temperatura ambiente é sempre alta. É preciso estar atento e forte!
Nessa história há ainda mais cinco itens a serem verificados, no sentido de ajudar a escolher a melhor formulação para cada caso, mas vamos deixar essa discussão para o próximo post, OK? Não perca!

NÃO AGUENTO MAIS ISSO!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

AS FORMULAÇÕES DOS INSETICIDAS – Parte I


Posso estar errado, mas não me lembro de nenhum inseticida profissional ou raticida que esteja no comércio na sua forma técnica (100% de concentração do i.a.). O composto puro precisa ser misturado (ou formulado) com outros ingredientes para melhorar suas propriedades como a segurança, a solubilidade, o odor, a resistência a fatores adversos, a eficácia, a facilidade de manipulação ou aplicação, a estocagem, etc. Por isso lança-se mão de diluentes, agentes umectantes, solventes e cossolventes, emulsificantes, surfactantes e outros. E busca-se formulações que beneficiem de alguma forma o i.a. (ingrediente ativo) para tornar o produto bem aceito no (disputadíssimo) mercado dos biocidas de uso profissional. Para os inseticidas, os tipos de formulações possíveis são: concentrados emulsionáveis (CE) ou emulsões concentradas (EC), pós molháveis (PM ou WP), suspensões concentradas (SC), microencapsulados (CS), pós solúveis (PS ou SP), soluções oleosas concentradas, iscas, grânulos (G ou GR) e pós (D). Muitos inseticidas são apresentados no mercado em mais de uma formulação, com o objetivo de dar ao profissional controlador de pragas, opções de escolha. Os raticidas (o certo seria dizer rodenticidas) podem ser iscas, pós de contato e blocos. A legislação brasileira não permite raticidas em formulações de pastas ou géis.
Vamos lá, moçada. Vamos começar explicando, antes de tudo, o que significam certos termos que podemos encontrar tanto nos rótulos dos biocidas, como na literatura que aborda esse tema:
• Ingrediente ativo (i.a.): é a substância responsável pelo efeito letal nos insetos, outros artrópodes e roedores.
• Ingrediente inerte: todo composto encontrado em um produto para apenas dar suporte ao i.a. e que não tenha efeito sobre a praga alvo. São o inertes que “desenham” o produto.
• Material técnico: é o i.a. em sua forma pura (95 a 100% de concentração) assim como foi produzido antes de se tornar um produto comercial. Não há no comércio, creio, nenhum material técnico disponível no Brasil. Isso é adquirido pelos laboratórios produtores que levam ao mercado, produtos com concentrações variadas do i.a.
• Formulação: é a forma com que o biocida é apresentado no mercado para ser adquirido por profissionais controladores de pragas (ou cidadãos comuns quando o produto tem uso livre); é composta do i.a. + ingredientes inertes.
• Adjuvante: é a substância (em um produto pode ser mais de uma) que melhora o desempenho do produto, tais como: solventes, emulsificantes, etc.
• Carreador: é um líquido ou sólido inerte que é adicionado ao produto apenas para carrear o produto até a praga alvo. Exemplos: solventes nos quais o i.a. é dissolvido, grânulos nos quais o i.a. é absorvido, pós nos quais o i.a. é misturado.
• Diluente: é todo material líquido ou sólido usado para diluir o i.a. técnico. Água e querosene são dois exemplos de diluentes para inseticidas líquidos; talco ou dolomita são diluentes comuns nos biocidas pós.
• Solução: é a mistura de uma ou mais substâncias em outra substância (geralmente um líquido) na qual os ingredientes ficam completamente dissolvidos.
• Solvente: é um líquido capaz de dissolver certos compostos químicos.
• Emulsão: é uma mistura na qual um líquido fica suspenso em pequeníssimas gotículas em outro líquido.
• Suspensão: é quando partículas de um sólido ou líquido não miscível ficam dispersas em um líquido (mas não dissolvidas). Em uma suspensão estável, essas partículas não decantam no fundo do frasco.
• Emulsificante: é uma substância tenso ativa que estabiliza uma suspensão de gotículas de um líquido em outro líquido, sem o que eles não se misturariam. É comumente usada para misturar, por exemplo, égua e óleo.
• Há ainda outras substâncias que podem estar contidas em um produto biocida, mas vamos ficar por aqui, mesmo porque isto aqui não é, nem pretende ser, um tratado químico! E chega de “entretantos” para irmos aos “finalmentes”, parafraseando o saudoso coronel Odorico Paraguassu.

A escolha da formulação a ser empregada é tão importante quanto à própria seleção do i.a. que vai ser empregado, razão pela qual o profissional deve estar muito atento para esse detalhe. Uma escolha mal feita pode comprometer o resultado final do tratamento, mesmo que o i.a. seja eficiente contra a praga alvo. Ao contrário, uma formulação bem escolhida para o caso, pode produzir excelentes resultados. Na prática, porém, poucos profissionais estão atentos para esse detalhe e acabam escolhendo o produto que vão utilizar, muito mais pela marca (e o que é pior, pelo preço) do que de maneira analítica, raciocinando qual o tipo mais indicado de formulação naquela determinada situação.
Mas, vamos interromper o post neste ponto, para que nossos leitores possam dar um respiro geral. É muita “massarocada” de uma só vez! Um dia, ainda dou um curso para Responsáveis Técnicos e daí eles vão ver o que é bom para a tosse!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O “CAUSO” DO REI DOS RATOS – Parte II


Então, eu contava o “causo” fantástico do rei dos ratos, sua corte e outras estrepolias relatadas pelo celebérrimo Dr. J.J. nos idos dos anos 70, aquele biologista canadense que achava que este era um país de néscios e que ele iria “fazer a América” por aqui.
Eu disse no post I desta série que voltaria a contar a nossos leitores algumas informações contidas em uma espécie de pequena apostila que continha cópia fiel de um de suas palestras (ainda a possuo), cujo inteiro teor me foi repetido oralmente pelo autor em entrevista ocorrida na Prefeitura de São Caetano do Sul/SP.
Lá pelas tantas, o Dr. J.J. enveredou pela emoção e me contou:- “... vou me deter aqui para falar de um traço que existe entre os ratos, muito chocante; trata-se da solidariedade que existe entre eles. Cita-se, por exemplo, o caso de um bando de ratos que havia emigrado de algum local onde a vida tinha-se tornado difícil para eles. Um velho rato cego tinha entre seus dentes um pequeno pauzinho que estava seguro na outra ponta por um outro rato que lhe servia de guia. Duvidam? Um marinheiro do navio Lancaster diz que viu um rato conduzindo pela orelha outro rato maior que ele e que parecia mais velho. Um terceiro rato jovem, juntando-se a eles, percorria o quarto recolhendo migalhas de biscoito que durante a ceia da véspera haviam caído da mesa e as levava ao rato velho. Este estava cego e não mais conseguia encontrar seu alimento. Uma pessoa entrou nesse momento e os dois ratos jovens soltaram um guincho para advertir o rato cego. (a essa altura eu já estava quase em lágrimas!).
Dissertando sobre o comportamento dos ratos, J.J. saiu com esta:- “... o rato também é temeroso. Constatou-se que durante a guerra de 14/18 um pequeno fato entre tantos: nas enlameadas trincheiras, se um soldado conseguisse capturar um rato vivo, ele o enfiava em brasas quentes a fim de somente chamuscá-lo, mas deixando-o vivo; ao soltá-lo, a trincheira ficava tranqüila por 7 ou 8 dias, pois o rato ao fugir, guinchava tanto que seus congêneres fugiam dali temendo sorte semelhante”. (churrasquinho de rato inacabado = um bom método de controle urbano jamais experimentado!).
E, para terminar, J.J. guardou a grande pérola para o final apoteótico:- “... conta-se sobre a invasão das ratazanas na Europa que estas, encontrando-se impedidas de continuar seu trajeto através do rio Volga, permaneceram anos no lado oriental (atual Rússia). Em um dia muito frio de inverno, os camponeses russos confirmaram que viram dezenas de milhares de ratazanas lançando-se no rio, tendo um galho, uma folha morta ou um pouco de palha entre os dentes, permitindo que boiassem nas águas geladas do rio. Com esse amontoado de ratos juntos, a corrente do rio diminuiu no ângulo que eles haviam escolhido e o frio intenso, agindo, as águas foram tomadas por gelo. Imediatamente, com o sacrifício desses milhares de ratazanas, outros milhares de ratos, sem perda de tempo, chegaram em ondas e atravessaram o Volga rapidamente, invadindo a Europa”. (nesse preciso instante... desmaiei!)
Grande Dr. J.J. Que Deus o tenha e que suas penas por mentirinhas já tenham sido cumpridas!