quarta-feira, 13 de junho de 2012


HIPERCALCEMIA (VITAMINA D COMO RODENTICIDA)

Olá, amigos leitores! Depois de um longo e tenebroso inverno, estamos de volta ao nosso HIGIENE ATUAL, cheio de ideias acumuladas durante nosso recesso hospitalar. Nesse intervalo, recebi, via celular, várias sugestões de posts, ao lado de dúvidas e tópicos a esclarecer, pelo que só tenho a agradecer. Pincei, dentre todo o material sugerido, uma solicitação de esclarecimento de um leitor e ainda no hospital comecei a pensar no assunto; verifiquei que nunca havia postado nada mais específico sobre o tema e resolvi reinaugurar a etapa 2012 justamente pelo tema VITAMINA D como rodenticida. Ainda não temos em nosso país nenhum raticida à base de colecalciferol, a Vitamina D3, como um composto comercial para uso anti ratos, mas como sempre achei que saber não ocupa espaço, aí vai.

A chamada Vitamina D, na verdade, é mais de uma: o colecalciferol (Vitamina D3) e a ergocalciferol (Vitamina D2), ambas já utilizadas em outros países como rodenticidas, sendo mais comum a primeira. Essas vitaminas são tóxicas para os roedores, pela mesma razão que são importantes para os humanos: elas afetam o importante equilíbrio cálcio/fósforo no organismo, vital para os mamíferos. As Vitaminas D são necessárias em doses ínfimas diárias para o ser humano (algumas IUs – Unidades Internacionais – por quilo de peso corporal, ou seja, somente uma fração de um miligrama) e, como outras vitaminas solúveis na gordura, são tóxicas em quantidades maiores que as necessárias, causando o que chamamos de hipervitaminose com suas consequências. Daí a recomendação médica de extremo cuidado na ingestão de vitaminas; em outras palavras, não se deve ingerir diariamente esses comprimidos polivitamínicos de aparência inocente, sem a devida supervisão médica. Pois bem, se a ingestão da vitamina D, por exemplo, for muito grande (em outras palavras, se a intoxicação for muito grande), pode ocorrer a morte. Nos roedores que ingerirem isca raticida à base de Vitamina D, ocorrerá uma hipercalcemia aumentando em muito o nível de cálcio circulante no sangue provocando a mobilização de cálcio dos ossos na forma ionizada (principalmente cátion de cálcio monohidrogencarbonato), parcialmente ligado às proteínas plasmáticas que circulam livremente no plasma sanguíneo. Tenho uma porção de amigos e conhecidos que adoram essas explicações bioquímicas!

Após a ingestão desse raticida em dose letal, os níveis de cálcio livre são suficientemente aumentados para causar uma mineralização (lembrem-se: o cálcio é um mineral) dos vasos sanguíneos, rins, paredes do estômago e pulmões que se tornam calcificados, ou seja, endurecidos, deixando de funcionar adequadamente. Cristais de sais de cálcio depositam-se nas paredes dos órgãos afetados, danificando-as. Problemas cardíacos na contratibilidade  começam a ocorrer (o miocárdio – parede muscular do coração – é muito sensível às variações dos níveis de cálcio sanguíneo livre); também ocorrem hemorragias internas devido aos danos nas paredes dos vasos e falência renal.

Nos roedores, a Vitamina D como raticida é considerada tanto como dose única, quanto de efeito acumulativo, na dependência da quantidade de isca ingerida e da concentração do produto. A dosagem de 0,075% de colecalciferol na isca já é letal para a maioria das espécies roedoras sinantrópicas após uma única ingestão do produto, em quantidades razoáveis. A morte ocorre usualmente de alguns dias até uma semana após a ingestão da isca.

Como tudo o que foi dito vale também para o ser humano, embora este precisasse ingerir uma enorme quantidade de isca para verificarmos o efeito danoso, é preciso bastante cautela no uso das Vitaminas D como rodenticida, razão pela qual esses produtos ainda não são liberados para uso em muitos países.

Com a palavra, a indústria produtora e a Anvisa/MS.