quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A EVOLUÇÃO DO CONTROLE DE PRAGAS URBANAS

Ontem estive em Santos/SP, no 39o. Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária, onde fui profeir uma despretenciosa palestra sobre a evolução do controle de pragas urbanas. Eis aqui a síntese do que falamos. "Desde os primórdios da civilização, homens e pragas não se entendem. A princípio por uma razão simples: a disputa pelo alimento, que era comum e raro. Só depois é que vieram outras razões como o incômodo e mesmo a transmissão de zoonoses, de acidentes com peçonhentos, etc. De lá para cá, essa luta contínua e diuturna jamais cessou, apenas se modificou de parte a parte. O homem, escorado em seu raciocínio, sua inteligência, sua capacidade inventiva e criatividade, armou-se com notórios produtos químicos e inovadores equipamentos. As pragas, escoradas em seu potencial genético, enfrentaram essa ameaça armadas apenas com espertas adaptações, com tolerância crescente e resistência com base genética. O advento dos modernos biocidas orgânicos que substituíram os antigos naturais e minerais, trouxe grande alento para a humanidade e marcou o ponto de virada na nossa luta até então inglória contra as pragas. O DDT, o avô desses biocidas modernos, permitiu não só defender a lavoura, como combater e debelar grandes problemas de saúde pública. Esse biocida, e seu séquito de outros inseticidas organoclorados, mudaram o panorama até que outros biocidas não tão agressivos ao meio ambiente os substituíram. A descoberta dos rodenticidas hidroxicumarínicos desempenhou o mesmo papel crucial na luta contra os roedores sinantrópicos que tanto mal haviam causado à humanidade com a transmissão da peste bubônica. Até os anos recentes, o foco dessa luta estava nas pragas em si; combatia-se o roedor, o mosquito, o escorpião, a mosca, a pulga, etc. Verdade seja dita, sem retumbantes sucessos, ainda que a vitória pendesse para o nosso lado. Depois de muito recurso gasto, de intenso desperdício de tempo e dinheiro, chegamos à conclusão de que havia alguma coisa errada e que deveria existir uma nova alternativa de controle que a um só tempo fosse mais eficaz e que não fosse tão agressivo ao meio ambiente e à biocenose que nele vive. Dessa forma, surgiu o MIP (Manejo Integrado de Pragas) inicialmente aplicado à lavoura e hoje já estendido aos centros urbanos, onde a visão passou a ser o todo, ou seja, a praga considerada dentro do seu contexto ambiental. Ao mesmo tempo, equipamentos e principalmente os biocidas, experimentaram notório desenvolvimento e começam a ser mais específicos e seletivos, preservando espécies não alvos. Hoje, pode-se afirmar que não há situação que não possa ser resolvida com as armas e especialmente com o conhecimento que temos sobre as pragas e seu controle. O que virá depois?"

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

PROPOSTAS "INDECOROSAS"

Em minha atuação profissional atual como consultor em controle de pragas, coisa que tem me absorvido de forma crescente, tenho tido a oportunidade de examinar inúmeras propostas técnico-comerciais de empresas controladoras de pragas para meus clientes. Tenho visto de tudo! De propostas bem elaboradas a verdadeiras excrescências e, por isso, resolvi comentar um pouco esse assunto. Concordo que o nível geral dessas propostas melhorou muito, considerando, por exemplo, os últimos 30 anos. Naquele tempo, o importante era “encher linguiça”. Quanto maior o volume da proposta, mais impressionava o cliente em potencial. Eram páginas e páginas de... nada! Dos meus guardados, pincei uma proposta daquele tempo de uma empresa (bem pequena na época) e transcrevo um pequeno trecho: -“... e, como sabemos, a barata tem uma capacidade impressionante de sobrevivência, resistindo inclusive a uma explosão nuclear. Destarte (essa palavra estava em moda na época), não adianta eliminar somente as baratas adultas; é preciso também eliminar as larvas (opa!) e os ovos”. E o texto seguia em frente com alguns tropeços ocasionais. Só nessa parte das baratas, tinha uma página e meia de blá blá blá... Depois vinha roedores, vinha moscas, vinha mosquitos e assim por diante. Do outro lado desse barbante enrolado estava o cliente, possivelmente um executivo, pois a tal proposta era dirigida a uma indústria. Embasbacado, impressionado ou já aborrecido com aquele palavrório todo? Afinal, ele só queria saber quanto iria pagar pelo serviço! Pois bem, o mundo mudou, as pessoas mudaram. Hoje, esse mesmo executivo iria no máximo pulas da folha de rosto para a última, onde deveria estar o preço, desprezando completamente o existente entre elas. Sabem por que? Por absoluta falta de tempo! Hoje, a moeda de troca chama-se tempo. Os abusivos discursos de algum participante de uma reunião empresarial, só entendiam os demais e se o chefe for esperto, corta logo o babado e exige que se vá direto ao ponto. Propostas extensas, às vezes nem são lidas e se minimamente lidas, desprezadas. Portanto, propostas técnico-comerciais como as que compilamos em nosso ramo profissional, devem ser concisas, precisas e se aterem somente aos pontos essenciais ou vitais para a compreensão dos objetivos. De acordo? Mas, entretanto, continuo a ler propostas de algumas empresas controladoras de pragas com imensos palavrórios desnecessários, às vezes até repetitivos. Não corram o risco de terem suas propostas não lidas ou mão consideradas. Sejam objetivos e discutam somente o que interessa. Ninguém mais julga o cabedal técnico da empresa pelo conteúdo da proposta. Esse aspecto é muito mais relevante na entrevista pessoal que ocorrerá entre o executivo contratante e o representante da empresa a ser contratada. Pensem nisso!

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

EXTRA, EXTRA: FINALMENTE O "CHUMBINHO" FOI BANIDO!

Hoje (05/11/2010) a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) anunciou a proibição de produção, comercialização e uso de qualquer agrotóxico à base de aldicarb, um defensivo agrícola fabricado pela Bayer com o nome comercial de Temik que, embora destinado contra ácaros e nematódeos exclusivamente em culturas de batata, café, citros e cana de açúcar, vinha tendo desvio de uso e empregado ilegalmente como raticida há muitos anos. Vendido em qualquer esquina e feiras livres nos centros urbanos em pequenos frascos daqueles que se usa em certos antibióticos injetáveis, a um preço muito barato, o agrotóxico tornou-se popularmente conhecido com o nome de “chumbinho” e passou a ser responsável por quase 60% dos 8.000 casos de intoxicação humana que ocorrem no Brasil quase todos os anos. A Bayer anunciou que encerrou as importações do ingrediente ativo aldicarb, sua industrialização e comercialização, comprometendo-se ainda a efetuar o recolhimento de qualquer sobra do produto em posse de agricultores. O criminoso comércio do tal chumbinho, geralmente a pessoas desavisadas e de baixa renda, provocou incontáveis acidentes intoxicativos em humanos e animais, muitos dos quais foram a óbito. Há também incontáveis registros de tentativas e assassinatos cometidos com esse produto. Vamos ver qual será a reação da bandidagem, talvez contrabandeando o produto de algum país vizinho cuja legislação não seja tão rígida. Quem viver, verá!

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

SOBRE AS ARMADILHAS LUMINOSAS PARA MOSCAS

A maioria das moscas (mais de 110.000 espécies de moscas já catalogadas em todo o mundo) demonstra atração pela luz, o que significa que basicamente são insetos diurnos. As moscas domésticas (Musca domestica), por exemplo, respondem positivamente a determinados comprimentos de onda do espectro da luz. É só observar as janelas com vidros fechados que você verá algumas moscas tentando “atravessar” o vidro para sair da instalação. Pois bem, essa atração natural pode muito bem ser aproveitada nos programas de controle de moscas. As armadilhas luminosas de captura de moscas (e outros insetos voadores) foram inventadas e desenhadas exatamente para capturar esses insetos voadores dentro de instalações, onde são muito eficazes se corretamente empregadas. Além da captura propriamente dita, essas armadilhas servem também para que o profissional identifique as espécies de insetos voadores que foram capturados e tirar conclusões sobre de onde as infestações estão se originando, auxiliando o plano de combate. Muitas empresas controladoras de pragas ainda não perceberam os benefícios das armadilhas luminosas e falham em aproveitar a utilidade desses equipamentos na completa satisfação de seu cliente que deseja uma abordagem mais ampla no manejo das pragas dentro de suas instalações. Mais no fundo, muitas empresas controladoras deixam de oferecer serviços de controle de moscas, esquecendo-se que todo estabelecimento alimentício (produção, armazenamento, preparo ou consumo) frequentemente experimenta o problema de infestações de moscas, em maior ou menor grau. As armadilhas luminosas não devem ser consideradas a resposta a todos os problemas com insetos voadores. Muitos desses insetos não são atraídos pelo espectro de cor emitido pela lâmpada utilizada na armadilha. Insetos voadores noturnos, por outro lado, são bastante atraídos pela armadilha e são capturados com facilidade. Insetos voadores diurnos demonstram atração periódica pela armadilha dotada de lâmpada ultravioleta. A mosca comum (M.domestica), por exemplo, pode voar durante horas dentro do recinto, até que sua atenção seja atraída pela lâmpada ultravioleta da armadilha; armadilhas luminosas bem dispostas no recinto podem ter sua eficiência bastante aumentada. As armadilhas luminosas devem fazer parte de um programa de controle de moscas, onde diversas ações de combate realizadas no exterior da instalação comporão a primeira linha de combate. Existem numerosos tipos e tamanhos de armadilhas luminosas disponíveis no mercado e quase todas dispõem de uma ou mais lâmpadas ultravioleta. Muito se tem discutido sobre qual lâmpada a armadilha deve empregar, mas o consenso é de que a luz ultravioleta (também chamada de luz negra) seja a mais indicada. As primeiras armadilhas luminosas eram do tipo eletrocutadora: havia uma grade eletrificada que instantaneamente eletrocutava os insetos que a tocassem. Muito eficazes, porém apresentavam um problema: com frequência o inseto ao tocar a grade, explodia (devido a rigidez de seu exoesqueleto), além de produzir um som característico, e várias partes do seu corpo se espalhavam ao redor do ponto onde a armadilha estava instalada, razão pela qual em boa parte dos estabelecimentos alimentícios, esse tipo de armadilha passou a ser contraindicada (imagine essa armadilha numa sala de restaurante, por exemplo). Mesmo porque, a Vigilância Sanitária não permite o uso desse tipo em determinados estabelecimentos. Todavia, em armazéns e outros recintos amplos, esse tipo de armadilha pode perfeitamente ser utilizada. Sua variante é a armadilha colante, a qual não eletrocuta o inseto, mas gruda-o ao tocar um painel colante disposto junto à luz atrativa. Esse tipo apresenta o inconveniente da necessidade de trocar com certa frequência o painel colante, por razões estéticas principalmente. Dessas, a armadilha própria para ser colocada em cantos, demonstra melhores resultados, porque podem ser vistas pela mosca de qualquer pondo do recinto. Muito do sucesso do emprego de armadilhas luminosas reside na maneira correta e adequada de dispô-las em um determinado ambiente. Algumas dicas podem ser citadas com a finalidade de aumentar a captura: • As moscas comuns são mais ativas na faixa compreendida até 1,80m do solo; obviamente as armadilhas devem ser montadas dentro dessa faixa, mas se por razões estéticas isso não for possível, monte-as no extrato superior, onde a vista humana não seja capaz de ver a placa colante com insetos capturados. Muitas pessoas não gostam de ver essa cena. • A colocação de uma armadilha junto do coletor de lixo pode ser bastante eficaz. • Evite colocar a armadilha em pontos que podem ser vistos do exterior da instalação, pois a lâmpada poderá atrair voadores que estava somente de passagem. • A armadilha deve ser instalada, sempre que possível, o mais longe de outra fonte luminosa para evitar a competição em atratividade. Evite proximidade de janelas ou focos de luz. • Não coloque a armadilha a menos de quatro o cinco metros da entrada ou saída de um recinto. Os voadores que entrarem, vão fazê-lo em alta velocidade e nem terão tempo de perceberem a luz que os atrairia. • Não instale a armadilha próximo a fontes de calor ou em áreas onde a corrente de vento seja particularmente forte. Hoje, muitas empresas controladoras de pragas já instalam, elas mesmas, armadilhas luminosas nos recintos de seus clientes. Algumas empresas cobram pelas armadilhas, outras, espertamente, oferecem esse serviço com um diferencial e assim cativam o cliente. A qual grupo você pertence? Ou ainda nunca se interessou por esse assunto?

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

PASSAMOS DAS 70.000 VISITAS!

Surpresa em cima de surpresa! Já passamos das 70.000 visitas neste blog! Lembram-se da Kombi que lotamos de visitantes na primeira semana de vida do blog do Higiene Atual? Pois agora precisaríamos de umas 10.000 Kombis para acomodar todos nossos visitantes! Ou três navios transatlânticos. Ou dois Maracanãs. Ou um enorme coração para acomodar todos os leitores que nos prestigiam, do Brasil e do exterior. Não custa repetir nosso muito obrigado a todos vocês. Vamos continuar a levar-lhes temas técnicos com linguagem simples, sem nenhuma pretensão de erudição ou falar difícil. Gosto de contar um “causo” aqui ou ali, pinçados de minha vida profissional. Quero comentar, sempre que for possível, algum estudo de caso, uma situação interessante que mereça um post. Afinal, este blog foi criado exclusivamente para comentar assuntos que, a nosso ver, possam interessar ao profissional controlador de pragas. As 70.000 visitas nos levaram à liderança absoluta entre os blogs técnicos que abordam pragas e seu controle e o Google já nos posiciona em absoluto primeiro lugar nas buscas por esses temas. Vamos em frente, porque atrás vem gente! Assinado: o Editor.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

ESTUDO DE CASO 2: OS RATOS DA PARÓQUIA

Este é o segundo estudo de caso arquivado no baú das memórias, donde buscarei algo de vez em quando, no sentido de ilustrar situações bem sucedidas em minha vida profissional. Hoje vamos comentar um interessante e intrigante caso de um hotel com infestação de três espécies de roedores. Tratava-se de um hotel de construção bem antiga, localizado no chamado centro velho da cidade de São Paulo. Nossa empresa foi contratada para resolver os (muitos) problemas de pragas que o tal hotel experimentava e desejava solucionar, eu diria necessitava! Algumas empresas controladoras de pragas por ali já haviam passado, mas sem maiores sucessos e, como já por essa ocasião nossa empresa havia granjeado sólida reputação na rede hoteleira, acabamos sendo contratados por aquele hotel. Falando só do problema roedores, encontramos infestação das três espécies sinantrópicas: havia camundongos (M.musculus) em determinados pontos, ratazanas (R.norvegicus) indo e vindo nas proximidades da cozinha central onde o lixo orgânico aguardava remoção (sempre feita de madrugada) e ratos pretos incursionando dentro da própria cozinha. Nos dois primeiros casos não foi difícil entendê-los e eliminá-los. Todavia, no caso dos ratos pretos (R.rattus), havia uma situação um pouco complicada, pois embora tivéssemos localizado as rotas que os traziam à cozinha e o tratamento sempre produzia carcaças, eles continuavam surgindo. Quebramos a cabeça para entender de onde estavam permanentemente vindo, até que finalmente o esperto operador que eu sempre enviava forro adentro para remover carcaças, dispor raticidas e tentar descobrir de onde vinham, saiu do alçapão e nos relatou que havia observado a presença de fezes junto à parede que separava o hotel de seu vizinho. Supondo que o problema original não estivesse então nas instalações do hotel, mas nas do vizinho, ocorreu-me conversar (e se possível inspecionar) as instalações desse vizinho e assim fiz. Sucede que o tal vizinho, com paredes geminadas com o hotel, era nada mais, nada menos, que... uma antiga e vetusta igreja! E lá fui eu conversar com o pároco sobre o problema dos ratos. Enquanto ele decidia se eu deveria rezar 10 ou 15 terços para resolver o problema, eu fui mais esperto e pedi a ele que resolvesse a infestação da igreja onde esses ratos, possivelmente já excomungados, estavam competentemente protegidos e de onde saiam para buscar alimento na cozinha do hotel ao lado, já que as hóstias, depois de grandes perdas, foram trancadas a sete chaves. O alegre padreco, no entanto, alegou constrangido, que a paróquia era pobre e não dispunha de dinheiro para solucionar esse problema. Fiquei no mato sem cachorro! Se a infestação da igreja não fosse suprimida, meu problema no hotel igualmente não seria resolvido. Vou resumir essa ópera: reuniões com a gerência do hotel, com a presença do padreco e sem ele e finalmente a luz se fez: o hotel arcaria com os custos da desratização da igreja o que aconteceu e, finalmente, pudemos resolver a situação. Naturalmente o hotel foi lembrado nas missas e deve ter sido abençoado, pois ainda hoje lá está, operante e lucrativo!

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

BACTÉRIA WOBACHIA IMPEDE A TRANSMISSÃO DA DENGUE PELO Aedes aegypti

Na edição de abril de 2010, o jornal científico PLOS, seção Patógenos, trazia um artigo científico de autoria de um grupo de pesquisadores do Depto. de Entomologia e Programas Genéticos da Universidade Estadual de Michigan, localizada em East Lansing/Mch (Guowu Bian, Yao Xu, Peng Lu, Yan Xie e Zhiyong Xi), dando conta dos resultados de seus estudos, comprovando que a bactéria endossimbiótica Wolbachia é capaz de induzir resistência em mosquitos Aedes aegypti contra o vírus da dengue. Essa promissora descoberta criou uma nova abordagem no controle da Dengue e vem sendo alvo de intensos estudos desde então em vários centros de estudos científicos em todo o mundo, particularmente nos países onde essa doença incide; no Brasil, o Instituto Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro, tem dado seguimento a tais estudos. Diferentes estratégias genéticas para reduzir ou bloquear a transmissão patogênica por mosquitos, têm sido propostas como alternativa de combate aos vetores e consequente redução da incidência de zoonoses. Há tempos a bactéria endossimbiótica Wolbachia foi promovida à condição de veículo potencial para introduzir gens resistentes a doenças nos mosquitos, assim tornando-os refratários aos patógenos humanos que transmitem. Os resultados do estudo desse grupo de cientistas demonstraram que a Wolbachia inibe a replicação viral no principal vetor da Dengue, o mosquito Aedes aegypti. Após 14 dias da infecção de mosquitos Aedes com a Wolbachia, cerca de 37,5% deles foram incapazes de transmitir o vírus da Dengue. Dessa maneira, uma nova perspectiva, uma nova abordagem se abre para o controle dessa zoonose, tão logo conheçamos as maneiras de infectar os mosquitos transmissores com a bactéria. Boas novas!

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

UMA MORTE E SETE CONTROLADORES DE PRAGAS PRESOS

Notícia veiculada em 13/09/2012 por um jornal da longínqua Bangladesh (e viva a Internet!) nos dá conta que sete controladores de pragas foram presos pela polícia da cidade de Sharjah, acusados de terem provocado a morte da menina Habiba de seis anos de idade e de nacionalidade egípcia; seu irmão, também menor de idade, foi igualmente intoxicado e ainda se encontra em estado crítico internado em uma UTI hospitalar. A morte foi provocada pela inalação do gás fosfeto de alumínio (também conhecido como fosfina) que foi empregado no apartamento vizinho para eliminar roedores e insetos quando seus ocupantes estavam viajando e deixaram o serviço encomendado. O gás teria entrado no apartamento vizinho, onde as crianças se encontravam, através do duto de ventilação do prédio. Dois operadores foram implicados diretamente no acidente e outros cinco foram igualmente detidos porque a empresa onde trabalhavam, não era legalizada. O Coronel Dr.Abdul Kadir Al Amiri, chefe do Laboratório da Polícia Forense local, disse que todos os testes laboratoriais e da necropsia foram conclusivos e provaram que a morte da menina se deveu à inalação de fosfeto de alumínio, um gás letal conhecido desde a segunda guerra mundial e que já foi utilizado em vários países com a finalidade de controlar pragas, até seu banimento progressivo devido ao risco que representa. A inalação desse gás provoca uma intoxicação aguda onde a morte geralmente ocorre por falência cardíaca (enfraquecimento rápido e progressivo do miocárdio). Com base no relatório médico exarado pelo hospital onde as crianças foram internadas, a polícia local imediatamente iniciou uma investigação buscando possíveis causas tóxicas e assim que adentrou ao apartamento da família egípcia, a equipe de investigadores notou um forte odor exalando do apartamento oposto ao das crianças, ocupado por uma família de asiáticos e que naquele momento encontrava-se de férias fora do país. Ao abrir e entrar nesse apartamento, a equipe encontrou 26 tabletes de fosfeto de alumínio em diferentes pontos evidenciando que a família havia encomendado o serviço durante sua ausência. A polícia investigou e rapidamente chegou a dois operadores responsáveis pela execução do serviço. Os dois foram detidos e verificou-se que a dita “empresa” não era legalizada. Na residência onde os operadores moravam, a polícia encontrou um verdadeiro laboratório onde produtos eram mesclados, latas de fosfeto de alumínio (igualmente proibido em Bangladesh) e grande quantidade de folhetos de propaganda dos serviços e que eles deixavam nas portas de residências. A polícia deteve ainda outras cinco pessoas que ali também moravam e que participavam da arapuca. Alarmada, a polícia através de agendas e anotações da quadrilha, entrou em contato com possíveis clientes alertando-os para o risco. Temos sempre alertado nossos leitores sobre os riscos envolvidos em nossa profissão, que é naturalmente de risco. Qualquer passo em falso ou descaso pode acarretar acidentes eventualmente irreversíveis. Usar gás dentro de residência... tenha dó!

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

ESTUDO DE CASO 1: MOSCAS SARCÓFAGAS EM UM SUPERMERCADO

Nas minhas apresentações em palestras, com frequência tenho sido instado a falar sobre diferentes casos interessantes que ocorreram em minha vida profissional. Recentemente, um dos leitores deste blog pediu-me a mesma coisa e eu julguei que seria interessante aqui relatar certos casos e situações que encontrei por aí nesses mais de 40 anos perambulando como controlador de pragas. Portanto, aqui vai o primeiro estudo de caso que, sem nenhum critério, fui buscar no baú das memórias profissionais. Entre as mais de 110.000 diferentes espécies de moscas já catalogadas e estudadas em todo o mundo, uma que nos centros urbanos causa repulsa, é a mosca sarcofagídea que põem seus ovos em cadáveres (animais ou humanos). A simples presença de uma ou mais moscas sarcófagas voando em um recinto fechado, significa que ali estará alguma carcaça em putrefação. Não é muito difícil identificar essa mosca a olho nu: ela é maior e mais pesada que a mosca doméstica e tem uma espécie de xadrez desenhado na parte de cima de seu abdômen. Eu mesmo já as utilizei algumas vezes moscas sarcófagas com o objetivo de localizar cadáveres de roedores que não estavam à vista: capturava, com um puçá de filó, uma ou mais moscas sarcófagas, dispondo a céu aberto uma carcaça de rato e tocaiando essa “isca”. Em questão de minutos apareciam essas moscas pousando sobre a carcaça e eu rapidamente as capturava; verdade seja dita, quase nunca na primeira tentativa. Transferia duas ou três moscas para uma caixinha de fósforos (vazia, naturalmente) e as levava para o recinto onde o odor nauseabundo denunciava a presença de algum cadáver de rato, embora ninguém houvesse conseguido localizar para que fosse removido. Aliás, o cliente me havia solicitado que resolvesse essa situação, de certa forma causada pela minha equipe que havia sido muito bem sucedida, diga-se de passagem, ao eliminar os roedores ali infestantes. Nesse recinto, com janelas fechadas, eu soltava as moscas sarcófagas e as observamos voando por todo o recinto por alguns poucos minutos e convergindo, todas elas, para um mesmo ponto. Dito e feito, ali se encontrava escondido das vistas, o cadáver do rato, o qual era rapidamente removido para o gáudio de todos os envolvidos (incluindo o finado rato que finalmente teria um descanso eterno em paz!). Mas, voltando ao caso que eu queria relatar, uma vez um supermercado cliente nosso nos chamou porque estavam aparecendo muitas moscas sarcófagas na área externa junto a um depósito. A própria aglomeração dessas moscas já nos indicou o ponto onde deveríamos procurar alguma carcaça de animal (o conhecimento faz uma enorme diferença! O que era para o cliente um problema, foi facilmente solucionado pelo simples fato de que conhecíamos um pouco sobre a biologia e o comportamento das moscas sarcofagídeas). No caso, era um cadáver de um pardal em adiantado estado de putrefação, eivado de larvas de moscas sarcófagas, que estava escondido atrás de um anteparo localizado no beiral do depósito. Como sempre tenho dito: saber não ocupa espaço!

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

NOVAS ROTULAÇÕES PARA OS RATICIDAS NOS ESTADOS UNIDOS

Americano é um povo sério, isso não se pode negar. Quando então o assunto é inseticidas e raticidas de uso urbano, nem se fala! São regras e mais regras que balizam o uso desses produtos, timtim por timtim! A quatro anos atrás, a EPA (a agência governamental americana que regulamenta os assuntos ambientais) baixou uma norma que regulamentava a redução dos riscos ambientais envolvidos no uso de raticidas (RRMD – Rodenticide Risk Mitigation Decision), que estabelecia algumas importantes alterações na rotulagem desses produtos. Desde então, naturalmente, as indústrias produtoras vinham providenciando novos rótulos para cumprir a lei. O prazo a elas dado pelo governo e no ano passado (a 04/6/11), expirou. Mas, em março deste ano, a norma de rotulagem das embalagens de raticidas mudou novamente, pois a agência governamental ouviu as ponderações das indústrias produtoras e também de associações de classe representativas das empresas controladoras de pragas e algumas disposições foram alteradas. A mais importante delas é a que expande a distância máxima que um raticida pode ser disposto no terreno a partir de uma edificação infestada. Anteriormente essa distância máxima era de 50 pés (aproximadamente 165m) e agora dobrou, passando a 100 pés (cerca de 330m). Os controladores profissionais de pragas ponderaram que às vezes, os roedores infestantes de uma edificação vinham de distâncias superiores a 50 pés e que, pela lei, não podiam ser combatidos em seus locais de origem. Outra coisa que fizeram foi a troca do termo “edificação”, para “estrutura construída” que é mais abrangente. A mesma norma permite ainda o uso de raticidas em distâncias superiores a 100 pés, se aplicação for no interior de tocas e túneis. No Brasil, ainda não chegamos a esses detalhamentos.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

COMPORTAMENTO E HÁBITOS SOCIAIS DO CAMUNDONGO (Mus musculus)

E, agora,os camundongos. Vocês sabiam que quando se trata da defesa do território ou das fêmeas de um grupo, os camundongos machos podem se tornar extremamente agressivos e envolvendo-se em lutas que podem ir até a morte de um dos contendores? Na maioria das espécies animais, as lutas terminam quando um dos contendores se dá por vencido e bate em retirada; pois entre os camundongos, a luta só termina quando um macho se sobrepõe ao outro e o mata ou o perdedor se submete completamente ao vencedor. Que coisa, tão pequenininho e tão bravo! Quando há fêmeas presentes, o grupo familiar se desenvolverá com um macho dominante, auxiliado ou não por uma ou mais fêmeas adultas quando há necessidade de defender o território. As fêmeas não se locomovem em busca de outros territórios; isso cabe aos machos quando atingem a idade adulta de quatro meses. É comum encontrarmos duas ou mais fêmeas compartindo o mesmo ninho, cada qual com sua prole em aleitamento. Cada grupo familiar estabelece um território de aproximadamente 3,5m de raio e é tridimensional (para os lados e para cima). Com um território tão limitado, é comum encontrarmos vários grupos familiares dentro de um mesmo depósito de alimentos, por exemplo. Contudo, quando as colônias se estabelecem a céu aberto (sempre próximas às fontes de alimentos, como por exemplo em granjas avícolas ou suinícolas), não ocorre essa definição precisa de territórios e as trilhas são utilizadas por todos como se fossem de um único grupo. Como os ratos, os camumdongos machos adultos marcam os limites de seus territórios com sua urina particularmente concentrada misturada com secreções de sua glande prepucial. A urina do macho também deflagra o cio nas fêmeas do grupo e é capaz de atrair outras fêmeas de outros grupos. Outro comportamento individual do camundongo é seu hábito de apenas mordiscar uma porção de alimento encontrada em seu território e em seguida sair em busca de outra porção, mesmo que se comesse da primeira porção encontrada, iria se satisfazer plenamente. Esse comportamento parece estar ligado ao sistema nervoso dessa espécie: sendo presa fácil para gatos e também para eventuais ratazanas e ratos pretos que cruzem seu caminho, os camundongos não podem se dar ao luxo de ficar exposto por muito tempo, nem para se alimentar. Portanto, comem um pouquinho aqui, outro pouquinho ali e vão levando a vida. Não poderia deixar de comentar que os camundongos (Mus musculus) são animais dotados de intensa curiosidade (neofilia) por objetos novos que surjam em seu território, daí advindo o relativo sucesso no combate através de ratoeiras, armadilhas e outros artefatos. Para sorte nossa!

sábado, 25 de agosto de 2012

ESTRUTURA SOCIAL E COMPORTAMENTOS SOCIAIS DOS RATOS PRETOS (R.rattus)

Bem, já que falei da estrutura e comportamento social da ratazana (R. norvegicus), sinto-me obrigado a comentar qualquer coisa sobre o rato preto (Rattus rattus), também conhecido como rato de telhado, rato de forro, rato de navio e por aí afora. Depois eu também comentarei sobre o camundongo (Mus musculus), não se amofinem! O comportamento social do rato preto não é tão bem estudado como o da ratazana e mesmo do camundongo, mas sabe-se que essa espécie não é tão gregária (tendência a reunir-se em grupos) quanto as ratazanas e evita contatos corporais quando estão se alimentando. Os grupos familiares são bem menores e os ninhos geralmente contêm não mais que uma mãe com sua ninhada. O número de trilhas é bem maior do que o das ratazanas e os territórios são muito mais tridimensionais do que os da ratazana. Ratos estranhos ao grupo são fortemente atacados e nenhum deles é bem recebido nas colônias estabilizadas, principalmente porque em sendo a colônia de menores tamanhos, os intrusos são facilmente reconhecidos. Em contraste com o que ocorre com as ratazanas, nos ratos pretos parece não existir um sistema hierárquico, mas os comportamentos agressivos são os mesmos para essas diferentes espécies. Depois comentarei sobre os camundongos, tá?

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

ESTRUTURA SOCIAL E COMPORTAMENTOS SOCIAIS DA RATAZANA (R.norvegicus) – Parte II

Eu dizia em post anterior que graças aos estudos de uma série de pesquisadores há algumas décadas atrás (esqueci-me de incluir Barnett entre eles), hoje sabemos muito sobre a biologia, os mecanismos sociais e a estrutura social dos roedores sinantrópicos, especialmente do Rattus norvegicus, a ratazana. Por exemplo: o significado social dos sons emitidos pelas ratazanas ainda não foi bastante estudado. Sabe-se que os sonidos emitidos pela prole em aleitamento quando sente frio, quando deixada fora do ninho ou com fome, desperta na mãe determinados comportamentos de atenção. Mas os guinchos de adultos quando atacados e mesmo de fêmeas defendendo sua prole, não provoca nenhuma reação nos demais. Aliás, são sintomas de agressividade e prontidão para a luta o craquejar dos dentes, os pelos eriçados principalmente nas costas, as pernas estendidas, a espinha arqueada e o flanco exposto ao adversário. É briga na certa! Outro comportamento materno: ela expulsa do ninho os derradeiros remanescentes da prole entre 60 e 85 dias de idade, esteja ela prenhe ou não; as mães em aleitamento tendem a ser particularmente agressivas com os filhotes com mais de 46 dias de idade. Pressupõe-se que o reconhecimento de outros membros da mesma colônia se dê em bases olfativas. Fêmeas no cio procuram atrair machos esfregando as laterais do corpo e a região anal em obstáculos e também no solo; somente depois de começar a ter essa atitude é que a fêmea permitirá o acasalamento. Aliás, fêmeas no cio podem ser perseguidas incansavelmente por diversos machos, até impedindo que ela se alimente ou beba água. O macho dominante de uma família defende o grupo de fêmeas da aproximação de outros machos, mesmo quando as fêmeas não estão no cio. Enfim, há uma enorme variedade de conhecimentos sobre os mais diferentes aspectos da biologia e dos comportamentos sociais do R.norvegicus, assim como há do Rattus rattus e do Mus musculus. Qualquer hora dessas, eu comento um pouco sobre isso, OK?

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

ESTRUTURA SOCIAL E COMPORTAMENTOS SOCIAIS DA RATAZANA (R.norvegicus)

Muito do que hoje sabemos sobre a biologia dos roedores sinantrópicos, devemos a pesquisadores como Steiniger, Calhoun e Mogens Lund, sem nos esquecermos de alguns outros nomes, todos que devotaram muito tempo de suas vidas pesquisando e observando as espécies murinas urbanas comensais e publicaram artigos científicos muito interessantes sobre os resultados de suas pesquisas, há décadas atrás. Afirmam eles que há enormes diferenças entre observar ratos e camundongos em pequenas jaulas laboratoriais, observá-los em ambientes fechados e controlados e observá-los em vida livre, ou quase isso. Afirmam também que o comportamento desses roedores estudados pode variar bastante segundo uma série de variáveis incluindo a extensão do habitat em que foram observados. Todavia, através de técnicas científicas, é possível chegar-se a conclusões bastante corretas. Por exemplo, se introduzirmos em um ambiente confinado onde uma colônia de R.norvegicus vai levando a vida de forma equilibrada e pacífica, imediatamente a colônia inteira reage à presença desses novos personagens. Mesmo que haja espaço suficiente e abundância de alimento, a reação da colônia vai ser agressiva contra o invasor. Esses estudos comportamentais são feitos em certos ambientes confinados, de amplas dimensões contendo elementos (objetos) que simulem um ambiente de vida livre e onde os espécimes presentes se sintam à vontade organizando-se tal e qual uma colônia selvagem o faria. Observações noturnas são feitas sob luzes vermelhas, porque os ratos não conseguem detectar essa luz e agem como se estivessem em plena escuridão. Sem ser percebido, o pesquisador que os observa visualmente pode presenciar, em silêncio absoluto e de posições privilegiadas, o comportamento da colônia e de indivíduos. Por exemplo, foi assim que se descobriu que uma fêmea de ratazana no cio copula com vários machos ou que um rato invasor do território será atacado até a morte por quase todos os membros da colônia ali residente. Sabemos hoje que as ratazanas são gregárias (vivem juntas) repartindo ninhos e áreas de alimentação, não obstante demonstrem comportamentos de competitividade e conflitos que contribuem para o equilíbrio da colônia e regulagem da densidade populacional. As ratazanas são territoriais e cada família defende seu pedaço; o grupo geralmente é constituído por um macho dominante e algumas fêmeas com suas proles. Há uma hierarquia entre os grupos familiares, ficando os grupos inferiores com as piores partes do território donde obter alimento, por exemplo, é mais complicado sem invadir o território do grupo alheio. Fêmeas prenhes podem repartir o mesmo ninho até a parição, quando a fêmea reloca sua ninhada para outro ninho ao qual passa defender mesmo de outros espécimes de sua própria colônia. Em condições naturais, o macho dominante protege as fêmeas que tenham por ele sido emprenhadas, evitando que sejam incomodadas por outros machos em busca de cópula. Na verdade, o território de um macho dominante não é uma área, mas sim somente trilhas que são frequentemente marcadas e remarcadas com sua urina e secreções de suas glândulas prepuciais. Contudo, não há indicação de que essa marcação seja capaz de repelir estranhos e, ao que parece, serve mais para orientação noturna. Outra coisa que sabemos: a defesa do território diminui surpreendentemente à medida que a população aumenta e assim, em colônias pequenas, a defesa do território é muito mais feroz que nas grandes colônias. Pensa-se que esse fenômeno nas colônias muito numerosas seja devido às dificuldades do reconhecimento de algum invasor. Também nessas grandes colônias (ex: no interior de uma rede de esgotos) observa-se certo movimento migratório constante com ratos deixando a colônia e outros entrando. Ratos jovens, por volta de 30 dias de idade, deixam o ninho individualmente e entram em contato com outros membros da colônia ao longo das trilhas e passagens; são geralmente ignorados até por volta dos 85 a 115 dias de idade quando se tornam sexualmente maduros, podendo se tornar alvos dos machos dominantes se estes não forem evitados nas trilhas; eles têm que aprender a não provocar agressões dos adultos. A posição social de um rato subordinado pode ser percebida por um dominante a distâncias de 3 a 7 metros durante o cair da noite e mesmo em noite aberta e para evitar um confronto de alto risco, o subordinado busca refúgio ou muda seu rumo bem antes que o dominante o perceba. Algumas vezes, o subordinado até muda seu horário de buscar alimento somente para evitar tais confrontos (por exemplo, passa a alimentar-se durante o dia). Esses indivíduos de baixa posição social caracterizam-se por baixas taxas de crescimento, baixo peso corporal mesmo quando adultos e notória tendência a reentrar em armadilhas; frequentemente acumulam alimentos em seus ninhos e aproximam-se de outros ratos de forma hesitante. A graduação social de um grupo pode ser estimada pelo número de fêmeas (altos números, mais alta a graduação), pela localização próxima das tocas às fontes de alimento, pelo sucesso reprodutivo das fêmeas e pelo número de ferimentos obtidos em disputas com outros grupos. O assunto é vasto e interessante para quem gosta de conhecer os detalhes da biologia dos roedores (eu sou um destes). Em próximo post, vou lhes contar mais coisas que já sabemos sobre os R.norvegicus, só porque alguns cientistas resolveram deixar para a posteridade os resultados de seus estudos. Obrigado a eles por isso.

domingo, 5 de agosto de 2012

SOBRE O CONTROLE BACTERIANO DOS ROEDORES

Atendendo o leitor Ariovaldo de Campinas/SP, faço uma rápida revisão sobre o emprego de bactérias para controlar roedores. O assunto não é exatamente novo e trata-se do uso de bactérias patogênicas do tipo salmonela no combate a roedores sinantrópicos, assunto observado e pesquisado por Kitasato no Japão, no final do século XIX (1800 e tanto). De forma recorrente, de vez em quando alguém pensa que descobriu a roda e se entusiasma com essa abordagem, o biocontrole dos roedores. Sintetizando, inicialmente pensava-se que a salmonela pudesse ser interessante se empregada em alguma isca apetecível aos roedores; a salmonela, como se sabe, causa profusas diarreias que podem levar ao roedor que ingeriu a isca contaminada à morte. O fato é que essa abordagem é anterior ao advento dos anticoagulantes e chegou a ser amplamente utilizada na Europa na primeira metade do século XX com certos resultados, particularmente na antiga União Soviética. Quando surgiram em cena os raticidas warfarínicos (anticoagulantes), o emprego das salmonelas rapidamente caiu em desuso na maioria dos países ocidentais. Por razões políticas, já que os warfarínicos foram descobertos nos Estados Unidos, a União soviética relutou em usar esses novos compostos e continuou privilegiando o uso das salmonelas, chegando a desenvolver cepas supostamente “atenuadas” tentando assim evitar o alto risco para os humanos e outras espécies animais não alvos. No final do século XX, a agora Rússia passou a associar salmonela com warfarina (não sei bem por que!). Naturalmente, Cuba igualmente abominava o uso de warfarínicos, seguindo a orientação política da URSS e um produto cubano tentou, sem sucesso felizmente, há coisa de 10 ou 15 anos atrás, obter registro de um raticida à base de salmonela, registro esse que foi acertadamente negado pela Anvisa/MS. Nessa tentativa chegaram a fazer alguns ensaios em Niterói/RJ em acordo com a Prefeitura local. O fato é que o emprego de cepas patogênicas de salmonelas é de alto risco e não há garantias que não possam escapar ao controle e afetar seres humanos (como outros mamíferos, sensíveis às salmonelas), o que foi comprovado por inúmeros relatos científicos na literatura. Dessa forma, a Organização Mundial da Saúde passou a desrecomendar essa metodologia e em diversos países ocidentais seu uso foi proibido. No Brasil não existe raticida à base de salmonela permitido. A descoberta de algum organismo patógeno específico para roedores não é impossível, como aconteceu com o myxoma vírus empregado na Austrália para o controle massivo de coelhos e lebres. Só que essa pesquisa vai levar muito tempo e vai custar verdadeiras fortunas para chegar a algum resultado. A menos que acidentalmente...

domingo, 29 de julho de 2012

OS PROBLEMAS CAUSADOS PELA AÇÃO DOS ROEDORES SINANTRÓPICOS

Em um recente treinamento que dei em Gramado/RS uma pequena discussão se estabeleceu entre dois colegas participantes do evento e eu apenas mediei aquela interessante troca de ideias. Um dizia que os roedores sinantrópicos não deveriam ser combatidos (da forma com que fazemos) porque eles desempenham importante papel na Natureza ao consumir lixo e outros dejetos. O outro querelante dizia que isso não era suficiente e que havia um papel nocivo em suas ações e hábitos. Ao final da discussão, a questão me foi endereçada e eu me posicionei, com o que transcrevo abaixo. À medida que a população humana cresce e se expande em todo o globo, os recursos alimentícios não crescem na mesma proporção e em certas regiões da Terra, escasseiam. Boa parte desses alimentos não chega às nossas mesas, consumidos que foram em algum momento e situação por hordas de insetos e roedores, as conhecidas pragas urbanas (e mesmo rurais). Preservar esses alimentos e proteger nossa saúde das doenças veiculadas por essas pragas se tornou uma necessidade absoluta. As próprias técnicas atualmente utilizadas nesse combate não devem ser excessivamente caras. Tampouco podem ser utilizadas de forma descuidada para que não causem impactos na biocenose e demais espécies não alvos. Esses efeitos são mais sentidos em países em desenvolvimento onde cada centavo conta. Razão pela qual, a busca de biotécnicas de controle e a visão macro dos ambientes infestados, devem prevalecer. Os problemas urbanos:- as espécies murinas sinantrópicas são os conhecidos Rattus norvegicus, Rattus rattus e Mus musculus e talvez alguma outra que, em determinados locais e regiões, por determinadas condições, estejam em processo de sinantropização (Ex: Bandicota bengalensis na Índia, Bangladesh e Burma; Mastomys natalensis na África) . Essas espécies sinantrópicas geralmente estão confinadas a centros urbanos e não se espalham por áreas não habitadas, embora possamos encontrá-las infestando granjas de produção animal para onde foram levadas passivamente. Nos centros urbanos destroem e contaminam incalculável quantidade de alimentos armazenados e geram grande número de doenças (zoonoses), além de causarem danos estruturais. A peste, a leptospirose e as salmoneloses estão entre as enfermidades onde os roedores desempenham papel ativo na transmissão, nossas preocupações principais. As infestações de armazéns, depósitos de gêneros alimentícios, estabelecimentos de consumo, pode ser severa se não combatidas adequadamente. Mais de 200 diferentes espécies murinas já foram arroladas como participantes efetivos na manutenção e transmissão do bacilo pestoso em todo o globo. Sem nos esquecermos da tularemia, da febre da mordida do rato e do tifo murino. Sem entrarmos na análise dos notórios problemas causados pelos roedores sinantrópicos na zona rural, é fácil perceber a importância negativa dos roedores sinantrópicos, o que justificaria plenamente seu combate. Assim penso eu.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

COMO OCORREM AS INTOXICAÇÕES POR INSETICIDAS PROFISSIONAIS

Não é toda hora que ocorre, ainda bem, mas vez ou outra a gente escuta falar que alguém, geralmente um operador do controle de pragas, se intoxicou com algum inseticida, ainda que esse fato seja discretamente encoberto pela maioria das empresas controladoras. Se não fosse a rádio peão, não haveria estatística para contar. Independentemente disso, o fato é que intoxicações acontecem. Mas, como acontecem? Foi o que nos perguntou José Alexandre de Sta.Catarina. Vamos ver se consigo resumir: • Pela boca: a. Pós e pulverizados entrando pela boca. Geralmente quando o operador tem suas vias respiratórias semi bloqueadas por algum processo inflamatório, como gripes e resfriados, ele desiste de usar a máscara nasal protetora e assim acaba inalando pela boca o inseticida que está aplicando. b. Ao beber algo que estava em algum recipiente que anteriormente continha inseticida ou que foi contaminado durante a aplicação aérea. c. Comendo algum alimento contaminado. Uma vez soube de um caso onde os operadores estavam tratando uma cozinha de hotel e um deles, aproveitando o descuido do preposto que os acompanhava, rapidamente ingeriu uma grossa fatia de bolo, resto de uma sobremesa não servida e que, como acontece nos hotéis, vai para o lixo. Sucede que outro operador, inadvertida e displicentemente, havia pulverizado inseticida na área e a fatia de bolo acabou sendo contaminada. Duplo erro. Quem pagou o pato foi nosso coleguinha que avidamente quis provar o acepipe a ser desprezado. Foi para Hospital, depressinha. d. Usando a boca para começar a sifonar inseticida de um recipiente para outro. e. Passando a mão contaminada pelos lábios. • Através da pele: a. Respingos acidentais diretamente sobre a pele ou indiretamente nas vestimentas do operador. b. Pulverizando contra o vento. c. Pulverizando sem luvas de proteção ou com guarda pó de mangas curtas. d. Durante o preparo da calda inseticida, derramar ou respingar sobre a pele. e. Durante a execução de alguma manobra de manutenção de equipamentos contaminados ou mal lavados. f. Contato direto com superfícies recém tratadas e ainda molhadas. • Pela respiração: a. Inalando (sem máscara nasal protetora) pós, nuvens de pulverizados ou fumos inseticidas. b. Fumando durante a aplicação ou através de cigarros contaminados. Portanto, olho vivo moçada!

sábado, 21 de julho de 2012

O "CAUSO" DO RATICIDA BLOCO

Coisas e “causos” da vida, guardados no baú das memórias que abro de vez em quando para pegar algo e lhes contar. Houve uma época (por 16 anos) em que tive uma empresa controladora de pragas (com muito sucesso, diga-se). Uma das razões do sucesso, sem dúvida, é que eu acompanhava pessoalmente a maioria dos serviços, pois sempre acreditei no ditado popular “- o gado só engorda sob os olhos do dono”. Era puxado, mas eu acompanhava meus operadores que não passavam de quatro moços. Quando um deles saia ou “era saído”, admitia-se outro em seu lugar e reiniciávamos outra vez um treinamento pessoal; enquanto esse novo operador não dominasse os fundamentos, ele acompanhava a equipe operacional, mas ficava mais restrito ao apoio dos operadores mais antigos. Buscava produtos no carro de transporte, ajudava com os equipamentos, abria portas e janelas, arrastava móveis e removia utensílios, etc. Enquanto o fazia, ia se familiarizando com o assunto prático. Pois bem, um dia admiti um novo operador totalmente sem o conhecimento básico das operações. Era amigo de um de meus operadores mais antigos e trazia a referência de ser honesto e trabalhador, como de fato ficou comprovado com o tempo; a principal característica do rapaz era sua total incapacidade de fechar a boca, onde exibia permanentemente um largo sorriso com uma invejável dentadura branco/alvíssimo, de botar inveja. Naqueles dias iniciais, fiz com ele o que fazia com todos os novos operadores: treinamento teórico e acompanhamento prático da equipe. Numa dessas, fomos desratizar um depósito de gêneros alimentícios bastante infestado e ali distribuí as tarefas. No meio do trabalho, acabou o raticida bloco e sem prestar muita atenção pedi ao novo operador que me trouxesse mais blocos. O rapaz demorou mais que o usual, pois o carro não estava tão longe assim e eu já ia mandar alguém atrás dele para ver o que estava acontecendo, quando eis que surge o mancebo com seu eterno sorriso. Indagado, explicou: “- Chefe, não foi fácil achar os blocos, mas na parte de trás do depósito havia alguns”. E nos exibiu dois blocos de construção, desses perfurados que são conhecidos popularmente como “tijolo de baiano”. Não sei por onde anda Jonas, pois a vida não nos fez trilhar o mesmo caminho, mas a derradeira notícia que dele tive foi que ele havia se tornado um pastor evangélico e que havia aberto seu próprio templo em uma periferia de Sampa. E que siga bem na vida... em nome de Jesus!!!

sexta-feira, 13 de julho de 2012

MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS - MIP

Há tempos que prometi a mim mesmo escrever um post específico sobre o MIP – Manejo Integrado de Pragas, ao mesmo tempo em que atendo as sugestões dos leitores Rogério e Wanderley, ambos de São Paulo. Lá por volta da década de 40, se tanto, surgiram os primeiros profissionais que se propunham controlar pragas urbanas, na época do vovô DDT. Aliás, essa profissão só conseguiu decolar produzindo bons resultados, com o advento dos primeiros inseticidas organoclorados, hoje praticamente banidos devido ao risco de acúmulo ambiental. Saíram, ao longo do tempo, os organoclorados como o DDT, o BHC, o Endrin e Dieldrin e entraram os organofosforados como o diazinon, o malation, o diclorvos, o clorpirifós e a saga continuou. Chegaram os carbamatos (ex: bendiocarb) e os piretróides (cipermetrina, aletrina, ciflutrina, lambdacialotrina, bifentrina, etc) e agora surgiram os IDIs (Inibidores do Desenvolvimento dos Insetos) como a ciromazina e outros compostos. Contra roedores, os anticoagulantes cumarínicos mostraram serviço e continuam até hoje a resolver toda e qualquer situação de infestação murina. Quem viveu profissionalmente esses últimos 30 anos, teve a oportunidade única de assistir ao nascimento de todos esses compostos destinados ao controle de insetos e aracnídeos urbanos. O quadro atual é de que possuímos à nossa disposição, um verdadeiro arsenal de ferramentas precisas (produtos e equipamentos) para que atinjamos ótimos níveis de controle de pragas urbanas. No entanto, com tantos e tão diversificados compostos químicos, por que os resultados eram sempre medianos? Neste caso bons resultados, naquele outro nem tanto. Claro que intermediando tudo isso, existe a famosa “mão de obra”, a ação dos operadores de controle de pragas, um item complexo e de vital importância. Mas, mesmo que o operador fosse bem treinado, fosse inteligente e destro, nem sempre os melhores resultados eram atingidos. Por volta do final dos anos 60 e na década de 70, começou a tomar forma na área agrícola uma nova abordagem do sério problema das pragas da lavoura e que modificou o panorama para melhor. Era o conceito de uma abordagem ambiental, mais que especificamente a praga a ser combatida. Por esse novo conceito, a praga passou a ser interpretada (corretamente, diga-se) como uma espécie de consequência e não como causa. Quer dizer, a praga ali penetrava e causava perdas substanciais, porque havia outros fatores que assim estavam favorecendo. Esse conceitual foi tomando forma e sendo codificado em bases técnicas resultando no que hoje é conhecido como Manejo Integrado de Pragas - MIP. Um pouco mais tarde, principalmente porque os resultados de sua aplicação mostraram ser muito bem sucedidos, o MIP acabou sendo adaptado para o controle também das pragas urbanas. O conceito fundamental do MIP é que a praga alvo deve ser vista como parte integrante do ambiente onde sobrevive. Ali estarão as condições que facilitam a entrada das pragas, as condições que garantem sua sobrevivência e proliferação e as populações das pragas infestantes. Pois bem, tudo isso terá que ser observado, estudado e equacionado para que consigamos atingir níveis de controle satisfatórios. Portanto, não basta saber que em um determinado ambiente tem baratas da espécie tal; é preciso que descubramos de onde vem, de que alimentam, onde se escondem e o que as está favorecendo. Um pouco mais complexo do que simplesmente aplicar algum inseticida que as elimine (aparentemente). Na verdade, o MIP pressupõe que tomemos ações de correção das condições que estão garantindo a permanência da praga considerada em um dado ambiente, que tomemos ações preventivas que evitem novas penetrações de pragas naquele mesmo ambiente e, finalmente, ações que eliminem as populações de pragas já existentes naquele local. Corrigir, prevenir, eliminar. Nessa ordem! Uma rachadura na parede, azulejos mal rejuntados, fendas e gretas abertas, vazamentos do sistema hidráulico, esgotos expostos, má higiene ambiental... tudo isso (e muito mais) precisa ser corrigido ou se não, jamais atingiremos bons resultados. Paredes íntegras, portas e janelas firmemente fechadas sem deixar espaços nos batentes, alimentos adequadamente guardados em recipientes fechados, manejo adequado de substratos orgânicos que possam vir a sustentar populações de pragas e muitas outras ações preventivas devem ser instaladas. E daí vem o mais fácil: a escolha do método, dos equipamentos e dos biocidas que utilizaremos para atacar as populações de pragas ali já existentes. O que hoje se sabe é que faz parte do trabalho de um profissional controlador de pragas consciente e atualizado, a apresentação do panorama a seu contratante e o convencimento de que sem a abordagem do MIP, não conseguiremos resultados satisfatórios e duradouros. Tarefa fácil? Quem disse isso!

domingo, 1 de julho de 2012

BEM VINDO SEXAGÉSIMO MILÉSIMO VISITANTE!
60.000 vezes eu digo obrigado pela visita, volte sempre! 60.000 vezes abro a porta e recebo honrosamente o leitor visitante do blog HIGIENE ATUAL. 60.000 vezes comemoro mais uma visita ao nosso despretencioso blog. Há dias em que as visitas não são muitas, mas há dias que sai visitante pelo ladrão; afinal, desde a abertura deste blog (09 de novembro de 2009) estamos recebendo uma média de 63 visitas por dia! Nada mal para um blog técnico. O mais interessante é que nossos leitores são extremamente participativos , pois recebemos grande quantidade de sugestões de posts. Consigo atender a maioria , uma vez ou outra deixo de fazê-lo seja porque o assunto é muito complexo para caber no espaço de um pois (às vezes tenho que dividi-lo em três ou quatro partes), seja porque não domino o tema de forma satisfatória. E com tudo isso há ainda assunto para ser discutido? Se há? Tem um caminhão cheio de temas e outros babados para postarmos. O difícil é selecionar o próximo post. Nosso leitor assíduo já sabe que nossos posts nem sempre são temas técnicos; vez ou outra publico um “causo” curioso, cômico ou interessante que pinço de minha vida profissional, ou vou buscar um tema polêmico ligado à profissão do controlador de pragas ou, outras vezes, comemoro uma nova marca atingida, exatamente como faço hoje com minhas 60.000 visitas. Afinal, tenho esse direito, certo? Abraços amigos leitores.

quarta-feira, 13 de junho de 2012


HIPERCALCEMIA (VITAMINA D COMO RODENTICIDA)

Olá, amigos leitores! Depois de um longo e tenebroso inverno, estamos de volta ao nosso HIGIENE ATUAL, cheio de ideias acumuladas durante nosso recesso hospitalar. Nesse intervalo, recebi, via celular, várias sugestões de posts, ao lado de dúvidas e tópicos a esclarecer, pelo que só tenho a agradecer. Pincei, dentre todo o material sugerido, uma solicitação de esclarecimento de um leitor e ainda no hospital comecei a pensar no assunto; verifiquei que nunca havia postado nada mais específico sobre o tema e resolvi reinaugurar a etapa 2012 justamente pelo tema VITAMINA D como rodenticida. Ainda não temos em nosso país nenhum raticida à base de colecalciferol, a Vitamina D3, como um composto comercial para uso anti ratos, mas como sempre achei que saber não ocupa espaço, aí vai.

A chamada Vitamina D, na verdade, é mais de uma: o colecalciferol (Vitamina D3) e a ergocalciferol (Vitamina D2), ambas já utilizadas em outros países como rodenticidas, sendo mais comum a primeira. Essas vitaminas são tóxicas para os roedores, pela mesma razão que são importantes para os humanos: elas afetam o importante equilíbrio cálcio/fósforo no organismo, vital para os mamíferos. As Vitaminas D são necessárias em doses ínfimas diárias para o ser humano (algumas IUs – Unidades Internacionais – por quilo de peso corporal, ou seja, somente uma fração de um miligrama) e, como outras vitaminas solúveis na gordura, são tóxicas em quantidades maiores que as necessárias, causando o que chamamos de hipervitaminose com suas consequências. Daí a recomendação médica de extremo cuidado na ingestão de vitaminas; em outras palavras, não se deve ingerir diariamente esses comprimidos polivitamínicos de aparência inocente, sem a devida supervisão médica. Pois bem, se a ingestão da vitamina D, por exemplo, for muito grande (em outras palavras, se a intoxicação for muito grande), pode ocorrer a morte. Nos roedores que ingerirem isca raticida à base de Vitamina D, ocorrerá uma hipercalcemia aumentando em muito o nível de cálcio circulante no sangue provocando a mobilização de cálcio dos ossos na forma ionizada (principalmente cátion de cálcio monohidrogencarbonato), parcialmente ligado às proteínas plasmáticas que circulam livremente no plasma sanguíneo. Tenho uma porção de amigos e conhecidos que adoram essas explicações bioquímicas!

Após a ingestão desse raticida em dose letal, os níveis de cálcio livre são suficientemente aumentados para causar uma mineralização (lembrem-se: o cálcio é um mineral) dos vasos sanguíneos, rins, paredes do estômago e pulmões que se tornam calcificados, ou seja, endurecidos, deixando de funcionar adequadamente. Cristais de sais de cálcio depositam-se nas paredes dos órgãos afetados, danificando-as. Problemas cardíacos na contratibilidade  começam a ocorrer (o miocárdio – parede muscular do coração – é muito sensível às variações dos níveis de cálcio sanguíneo livre); também ocorrem hemorragias internas devido aos danos nas paredes dos vasos e falência renal.

Nos roedores, a Vitamina D como raticida é considerada tanto como dose única, quanto de efeito acumulativo, na dependência da quantidade de isca ingerida e da concentração do produto. A dosagem de 0,075% de colecalciferol na isca já é letal para a maioria das espécies roedoras sinantrópicas após uma única ingestão do produto, em quantidades razoáveis. A morte ocorre usualmente de alguns dias até uma semana após a ingestão da isca.

Como tudo o que foi dito vale também para o ser humano, embora este precisasse ingerir uma enorme quantidade de isca para verificarmos o efeito danoso, é preciso bastante cautela no uso das Vitaminas D como rodenticida, razão pela qual esses produtos ainda não são liberados para uso em muitos países.

Com a palavra, a indústria produtora e a Anvisa/MS.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

O “CAUSO” DO INSETICIDA AMARELO


É muita matéria técnica! Deixe-me aliviar um pouco e lhes contar mais um “causo” que me aconteceu durante minha vida profissional. Um dia, fui contratado por uma grande indústria produtora de biocidas de uso profissional, com a missão de recuperar sua fatia do mercado perdida devido à ação nefasta de uma empresa de auditoria que, anos antes, havia recomendado a descontinuidade dessa linha de produtos. Aos poucos fui me enfronhando no assunto e revisando produto a produto da linha antiga, enquanto estudava o “pipe line” da empresa para futuros lançamentos. Entre os produtos que julguei que deveriam ser recuperados, figurava um inseticida organofosforado de meia vida muito curta, mas de efeito fulminante formidável. Até aí, tudo bem. Preparamos o relançamento e o mercado o recebeu otimamente. Passado um pouco de tempo, comecei a registrar algumas queixas de clientes que observavam que havia variação da coloração amarela do produto, de lote para lote. Achavam que o inseticida ficava “mais fraco” quando a coloração amarelada esmaecia. O Departamento de Produção garantia que não e que o teor era exatamente 100% m/v independentemente da coloração do lote. Essa variação de cor se devia a condições inerentes da própria produção.
Mas, eu tinha um problema nas mãos e os clientes deveriam receber um pouco mais que uma simples explicação negativa. Pedi à Produção que procurasse resolver a questão tendo em vista a reação do mercado. Pouco depois eles vieram com a solução: juntaram um corante ao produto, de tal sorte que todos os lotes produzidos doravante iriam ter sempre a mesma cor final. Excelente solução, pensei. Não mais teria reclamações. E assim, o tal inseticida passou a ser produzido com a mesmo tom de amarelo.
Nem bem colocamos o novo produto no mercado, estourou a bomba. Uma empresa controladora de pragas usou o inseticida no apartamento de uma cliente classe A todo acarpetado em branco (na época usava-se muito isso). Na verdade a dona tinha fixação pelo branco e o apartamento inteiro era dessa cor; móveis, paredes, forrações, armários de fórmica, pisos frios, tetos, tudo impecavelmente branco. Até o gato da madame era branco (angorá, se estou lembrado). Era uma brancura só! A empresa controladora executou seu trabalho contra pulgas principalmente, mas também contra insetos rasteiros em geral. Dia seguinte, foi uma gritaria geral. O apartamento da Sra. White estava, literalmente, amarelo! O carpete imaculadamente branco parecia que havia sido trocado por outro, imaculadamente amarelo. As paredes estavam amarelas, os móveis de fórmica, amarelos e assim por diante. Vários tons de amarelo conforme o tipo de material onde a calda havia sido aplicada, mas tudo amarelo. A madame estava em crise histérica quando cheguei para constatar o problema, devidamente acompanhado pelos proprietários apavorados da desinsetizadora e pelo Gerente de Produção de minha empresa. Mil explicações técnicas surgiram e nada de amenizar a crise da infeliz e raivosa dona do apartamento. Houve um momento em que parecia que a crise da mulher estava passando e ela já não estava tão nervosa, mas daí... surgiu o famigerado gato angorá branco em cena. Com a barriga toda amarela. Daí não teve jeito.
Concluindo: através do seguro da empresa produtora, a Sra. White voltou a ter um apartamento imaculadamente branco, pois tudo, completamente tudo foi devidamente reposto. O seguro cobriu até um banho antiamarelo do gato. E o lote amarelo do inseticida que já estava no mercado foi discretamente recolhido e trocado por um lote sem corante. Recall completo!
Que sufoco! Coisas e “causos” da vida.

quinta-feira, 29 de março de 2012

ESTRATÉGIAS PARA IMPLANTAR UM BOM PROGRAMA DE CONTROLE DE MOSCAS Parte III


Estávamos examinando um programa de controle de moscas urbanas que seja eficiente e eficaz. Vimos vários aspectos de um MIP (Manejo Integrado de Pragas) voltado para moscas e chegamos a iniciar as considerações sobre a eliminação física das moscas já infestantes, começando por sugestões (importantes) do que fazer externamente às instalações a serem protegidas. Precisamos agora examinar o que pode ser feito para eliminá-las dentro das instalações.
Como dissemos, apesar de todas as medidas que podem (e devem) ser tomadas do lado de fora contra as moscas, algumas podem adentrar nas instalações onde desejamos que não estejam. Será preciso, então, combatê-las e eliminá-las ali mesmo. Posso começar pela instalação de armadilhas antimoscas luminosas. Algumas considerações:
• Disponha quantas armadilhas você desejar, não há limites. Quanto maior for o número dessas armadilhas, maior será nossa chance de capturar as moscas invasoras.
• Coloque-as de preferência um pouco acima da cabeça das pessoas para evitar a desagradável visão de muitas moscas capturadas na armadilha e também porque as moscas, principalmente as domésticas, voam em uma altura de cruzeiro da cabeça de uma pessoa (em pé, estenda um braço esticado para o alto; essa será a altura média de voo da mosca comum e de muitas outras moscas urbanas).
• Evite fazer uso das armadilhas “fritadoras” de moscas, aquelas que têm uma luz para atração e uma grade eletrificada onde as moscas são eletrocutadas instantaneamente se a tocam. Ao fazê-lo, a carapaça quitinosa do inseto explodirá e dezenas de pedaços da moscas podem se espalhar ao redor da armadilha, com efeitos indesejáveis. Opte pela armadilha dotada de luz atrativa (ultravioleta ou “luz negra”) e papel colante, o qual deverá ser trocado com bastante frequência.
O que mais posso fazer? Claro, nem vamos comentar aqui sobre as questões da limpeza e higiene do ambiente, pois desnecessário seria. Mas, posso fazer combate químico? Resposta correta: depende! Há locais onde posso aplicar mosquicidas nas paredes, sem problemas. Mas, há outros onde o emprego de inseticidas pode ser conflitante com as regras de manejo do ambiente (proteção ambiental) e os fins a que se destina o ambiente a ser protegido contra moscas. Por exemplo: na área de produção de uma indústria alimentícia, não será possível pulverizarmos mosquicidas nas paredes e maquinários. Pois bem, aí entra o que a gente comenta sempre que pode: o conhecimento humano sobre a biologia da praga a ser combatida e como podemos tirar proveito desse conhecimento. No caso das moscas domésticas, sabemos que a mosca ao adentrar a um novo ambiente, voa em círculos para ambientar-se e localizar o alimento que a atraiu. Isso feito, localisa o alimento ou opta por algum dentre várias opções possíveis e vai se alimentar. Depois, de estômago já cheio, a mosca busca uma saída para o ambiente externo onde vai pousar para digerir o alimento ingerido. Óra, seu instinto a dirige à luz natural de alguma janela. Mosca não entende vidro, ou seja, ela voa para uma janela onde supostamente seria o caminho mais curto para sair do ambiente fechado onde se alimentou. Porém, o vidro da janela se interpõe e ela não consegue entender por que não está conseguindo ultrapassar aquele ponto. Fica então se debatendo contra o vidro, na vã tentativa de sair. Debate-se, cansa e pousa por alguns momentos no beiral da janela; volta a se debater, e repousa, sucessivamente. Excelente local para aplicarmos nossa isca mosquicida! Alguns grânulos em sucessivos e diferentes pontos desse beiral de janela e teremos enormes chances que a mosca perceba a isca e a ingira em seguida, indo a óbito. Como eu já havia comentado, já temos em nosso país iscas mosquicidas à base de azametifós, de imidacloprid e de thiametoxan excelentes!
Eu faria assim. Aliás, já fiz e nunca tive um só programa fracassado!
Há também os papéis pegamoscas que podem nos ajudar bastante a controlar moscas em um ambiente fechado.
Boa sorte amigo!

terça-feira, 20 de março de 2012

ESTRATÉGIAS PARA IMPLANTAR UM BOM PROGRAMA DE CONTROLE DE MOSCAS - Parte II


No post anterior falamos dos princípios que devem nortear um programa eficaz de controle de moscas em uma dada instalação urbana. O combate a moscas é um ótimo exemplo do MIP – Manejo Integrado de Pragas, pois passa por ações curativas (corrigir tudo o que esteja facilitando a existência de moscas em um ambiente), ações preventivas (instalar barreiras e/ou modificar estruturas que estejam facilitando a entrada de moscas) e ações de eliminação (o combate direto propriamente dito). Falta comentarmos algo sobre como eliminar as moscas já infestantes. Vamos lá.
Externamente: para eliminarmos moscas infestantes, temos que começar pelo lado de fora da instalação a qual queremos proteger. Temos duas situações possíveis: uma, onde o criadouro das moscas alvos situa-se dentro do perímetro da propriedade e outra quando as moscas estão sendo geradas em propriedades alheias circunvizinhas. No primeiro caso, basta que localizemos o criadouro e o eliminemos. Lembram-se de nosso comentário que as moscas proliferam em matéria orgânica em decomposição? No caso de moscas domésticas (Musca domestica) nos centros urbanos, existe uma marcada preferência por lixo onde restos orgânicos vão garantir sua procriação (uma profusão de alimentos e outra de substrato para ovipor). Só quem já visitou um depósito de lixo urbano a céu aberto pode avaliar a íntima relação das moscas domésticas e o lixo. São, literalmente, milhões e milhões de moscas adultas voando em todas as direções para se alimentar, para acasalar e para pôr seus ovos; são trilhões de larvas em diferentes fases de desenvolvimento até puparem. A maioria das adultas permanece nas cercanias, pois não há razão que as tirem desse lugar tão confortável (na verdade, a maioria das moscas domésticas adultas passa a vida dentro de um raio de 500m em torno de seu criadouro). Nos meus trabalhos onde frequentava tais lixões, cansei de ver os caminhões de coleta pública de lixo, despejando sua carga e voltando para a cidade... levando consigo algumas centenas de moscas nele pousadas, pegando uma carona. Mas, não é só nesses lixões que as moscas proliferam. Dentro do perímetro das propriedades, erros no manejo do lixo orgânico produzido podem criar as condições ideais para que as moscas domésticas procriem. Um exemplo: hotéis são obrigados por regras de higiene e boas práticas (fiscalizados pela Vigilância Sanitária), a coletar seu lixo em pontos situados fora das instalações principais, chamados de “botafora”, onde o lixo deve ser separado em matéria orgânica e materiais não orgânicos; a primeira deve ser acumulada em câmara fria especialmente construída para esse fim e mantidas com porta fechada, exatamente para evitar a proliferação de moscas (e outras razões higiênicas). Na prática, nem sempre isso acontece. Sistema de resfriamento dessa câmara desligado (por “economia”, acreditem se quiserem), porta quase sempre aberta (frequentemente porque a maçaneta quebrou e ninguém se preocupou em consertar), por inépcia, falta de supervisão, preguiça de funcionários ou falta de treinamento adequado. O fato é que um manejo ruim do lixo orgânico acaba propiciando as melhores condições para que as moscas domésticas se aproveitem e façam desses botaforas um excelente criadouro. Estive certa vez em um hotel quatro ou cinco estrelas, não me lembro, para estudar um sério problema de moscas em suas instalações e, dentre vários erros de manejo do lixo que encontrei, pude observar larvas de moscas (creio que eram de segundo ou terceiro estádio) dentro dos containers plásticos onde o lixo diário era depositado aguardando remoção para o botafora. Surpreso, indagando sobre o manejo, fui informado que o container era lavado uma vez por semana... mais ou menos! O exemplo do hotel é apenas um; nas indústrias, nos supermercados e congêneres, mesmo nos estabelecimentos de preparo e consumo de alimentos, podemos encontrar criadouros de moscas. Seja como for, encontrou criadouro (há que procurar, amigo), elimine-o ou você vai morrer seco com formiga na boca e não vai controlar as moscas desse cliente. Mas, há o caso onde as moscas infestantes vem de algum criadouro não situado dentro do perímetro da propriedade. Quer dizer, não temos as formas jovens presentes (ovos, larvas e pupas), mas temos as moscas adultas infestando a área.
Moscas são insetos voadores pesados para suas asas e não executam voos demasiadamente longos, a menos que encontrem um vento favorável. Precisam pousar aqui ou ali para descansar e assim, através de voos curtos, vão se encaminhando a pontos que lhes interessem, geralmente de alimentação. Se pousam, temos uma ótima chance de eliminar as moscas antes que adentrem às instalações. O avanço da tecnologia em mosquicidas foi bem grande na última década e meia e, hoje, dispomos de produtos capazes de atrair e eliminar as moscas domésticas até com relativa facilidade, bastando saber como usar tais produtos corretamente. Entre os organofosforados, o azametifós, um OP de última geração, mostrou-se de grande utilidade e eficácia quando formulado como isca e adicionado a um feromônio sintético, o Z-9 tricozene, de atração sexual. Em nosso país já há algumas marcas desse tipo de mosquicida e quase todas mostram excelentes resultados. Basta dispor os grânulos espalhando-os no solo e nos pontos onde as moscas frequentam e o resultado se dá em alguns minutos. Alguns desses produtos têm seus grânulos coloridos em amarelo ou em amarelo e vermelho, cores muito atrativas visualmente para as moscas, aumentando seu poder de atração.
E chegamos aos poderosos “painéis papamoscas”. Para criá-los, partimos do princípio, estudado e conhecido, de que essas cores citadas, amarelo e vermelho, são visualizadas à distância pelas moscas domésticas. Na Natureza, essas são as cores que observamos nas feridas dos animais: o vermelho do sangue e músculo eventualmente exposto, e o amarelo da linfa exsudada; não há mosca que resista a tais encantos! Pois bem, tirando proveito desse conhecimento, que tal se pintássemos uma placa qualquer, uma superfície de qualquer dimensão, usando o amarelo e o vermelho separadamente, mas juntos(vide foto acima)? Será que atrairíamos moscas domésticas? A resposta foi afirmativa e assim criamos os tais painéis papamoscas. Estudos anteriores demonstraram que se alternássemos faixas amarelas e faixas vermelhas sucessivamente, as moscas visualizariam o painel a grandes distâncias e seriam atraídas. Seriam mais atraídas ainda se essas faixas fossem pintadas no sentido diagonal do painel (por razões ainda não esclarecidas). Atraímos as moscas e daí ? Entram em cena os seguros mosquicidas neonicotinóides (imidacloprid e thiametoxan) já encontrados em nosso país, um avanço no combate às moscas e a muitos outros insetos. Daí eu aplico com pincel (eu prefiro usar um daqueles rolinhos de pintura) ou pulverizado, uma calda feita com um desses ingredientes ativos na superfície pintada do painel e o exponho na vertical. Vai funcionar como ponto de forte atração para as moscas que adentrarem ao perímetro da propriedade e elas serão eliminadas antes que adentrem às instalações. Uma mosca morta de lado de fora, é uma mosca a menos do lado de dentro! Renove a aplicação do produto no painel de 15 a 30 dias após, dependendo da ocorrência de chuvas.
Sim, mas muitas moscas poderão ainda adentrar às instalações. Serão muito menos dos que as que chegaram ao perímetro da propriedade, mas podem entrar, posto que voam! E daí?
Daí, vamos examinar o que fazer em próximo post, tá?

terça-feira, 13 de março de 2012

ESTRATÉGIAS PARA IMPLANTAR UM BOM PROGRAMA DE CONTROLE DE MOSCAS


Há não menos de 110.000 espécies diferentes de moscas em todo o mundo, já estudadas e catalogadas. As moscas representam, com sobras, o gênero de insetos mais bem sucedido na Natureza. A maioria dessas espécies não é urbana (felizmente), mas algumas delas encontraram seu melhor nicho junto ao homem e há até as espécies que repartem conosco nosso habitat há milhões de anos. Incomodam, transmitem doenças, causam asco e em nenhum lugar são bem recebidas. Contudo, se olharmos melhor, as moscas desempenham papéis vitais na Natureza pois executam certas funções importantes. Antes de tudo, representam uma fonte de alimento para uma enorme variedade de animais e até de certas plantas (as carnívoras, por exemplo). Muitas espécies se criam nas fezes de animais, ajudando a reciclar nutrientes de volta ao solo. Outras são decompositoras de carcassas de animais. Infelizmente, certas espécies adaptaram-se muito bem a viver nas instalações humanas e suas redondezas e daí geram os conflitos entre elas e nós. A essas espécies denominamos pragas e exatamente aí é que entra no cenário, a galante figura do profissional controlador de pragas, o “salvador da pátria” quando a coisa fica realmente feia. Lembro-me de uma oportunidade quando fomos chamados a intervir em uma certa cidade do interior de Alagoas onde o problema das moscas (Musca domestica) era tamanho que estava inviabilizando o viver naquela cidade. O Promotor de Justiça local havia dado o prazo máximo de 45 dias para a Prefeitura resolver o problema, sem o que a Promotoria mandaria fechar bares, restaurantes, lanchonetes e outros estabelecimentos de alimentos, em nome da saúde pública. Um enorme programa de combate às moscas foi então iniciado envolvendo todas as forças da comunidade e o problema foi minimizado em pouco tempo.
Não tenho conhecimento se existe alguma cidade, vila ou mesmo uma aglomeração humana que não tenha a omnipresente mosca doméstica incomodando as pessoas e animais domésticos. Sem falar nas outras espécies comuns como as varejeiras de brilhos metálicos, as mutucas que picam doído, as pegajosas moscas dos estábulos, as incômodas moscas dos esgotos, as pequeninas moscas das frutas e outras menos votadas. Daí a importância de identificarmos qual, ou quais, as espécies infestantes de um dado local. Sabendo quem é a nossa mosca alvo, fica bem mais fácil determinarmos quando, onde e como combatê-la.
Falando em combate às moscas, pode parecer anacrônico, obsoleto e ultrapassado o conhecido método de pulverizar com algum inseticida as paredes de uma instalação infestada por moscas, como única forma de combater moscas. Pode parecer, não... é! Um programa consistente, estruturado, moderno e eficaz de controle das moscas domésticas é bem mais que isso!
O manejo das moscas dentro e nas cercanias de uma dada instalação pode parecer, às vezes, uma questão difícil de resolver para determinados profissionais controladores de pragas. Na verdade, a estes, falta a informação, o conhecimento pleno e mais profundo do assunto, conhecimento esse total e completamente disponível em livros técnicos ou de inumeráveis sites da Internet. Sem desculpas, portanto. Uma situação de pesada infestação de moscas deveria ser vista pelo profissional como um interessante desafio a ser vencido, pois os conhecimentos técnicos sobre o assunto já são muitíssimo avançados.
Embora cada caso seja um caso, há alguns pontos comuns a todas as infestações e que, se contemplados, vão conduzir a níveis de controle com certeza. Limpeza, higiene, remoção de criadouros e exclusão, são alguns desses pontos. Vamos examinar, ainda que superficialmente, alguns aspectos capitais de um programa de controle de moscas em um dado local:
• Identificação da espécie infestante: é necessário e vital. Moscas domésticas criam-se em determinados criadouros, enquanto outra espécie, como por exemplo, a mosca dos estábulos, cria-se em outro. Cada espécie tem sua biologia própria e se identificarmos a mosca problema, aumentaremos em muito nossa chance de combatê-la com pleno sucesso.
• Limpeza e higiene: é a chave para avançar o programa de controle. Áreas e dependências limpas, não sustentam moscas que vão procurar outra freguesia mais sujinha para frequentar. Moscas se criam em matéria orgânica em decomposição; portanto, um bom esquema de limpeza regular evita acúmulos de detritos capazes de manter o ciclo vital das moscas. As moscas têm o metabolismo muito acelerado e, portanto, necessitam de muito alimento que lhes propicie energia. Lugar limpo não tem alimento para as moscas. Pense nisso.
• Exclusão: mesmo que as redondezas da instalação onde não queremos moscas estejam com boa limpeza, moscas voam e assim podem penetrar nessas instalações se encontrarem vias de acesso fáceis. Portas e janelas abertas, telas de nylon rompidas ou fendas arquitetônicas são um convite permanente à entrada de moscas em busca de alimentos. Portas e janelas devem ter telas de nylon instaladas (e sempre em boas condições), caso tenham que ficar abertas. Se não, a instalação de molas que as mantenham fechadas vai ser a solução. Simples e barato. Em determinadas edificações, a instalação de cortinas de vento pode evitar a penetração das moscas, quando adequadamente instaladas e mantidas. A iluminação interna de uma determinada instalação pode, sob certas circunstâncias, atrair moscas, ainda que sejam elas insetos diurnos. As lâmpadas internas não deveriam poder ser vistas do lado de fora da instalação.
• Eliminação de criadouros: muitas vezes o criadouro das moscas infestantes está situado dentro do perímetro da propriedade a ser protegida. É preciso inspecionar toda a área em busca de possíveis criadouros (lembrem-se: matéria orgânica em decomposição; ex: lixo) e eliminá-los sob risco de jamais atingir-se níveis de controle desejados.
E o combate propriamente dito? Bem, isso já é outro assunto que fica para um próximo post, mesmo porque este aqui já está ficando longo demais. Não perca.

segunda-feira, 5 de março de 2012

COMO AGEM OS RATICIDAS?


Nosso leitor Jeymisson, na coluna de Perguntas&Respostas aí da esquerda, recentemente postou essa pergunta e como naquele espaço não seria possível explicar tudo como tem que ser, resolvi postar a resposta na forma de um tema. Aqui vai.
Rodenticidas são os biocidas específicos que causam a morte dos roedores. Em nosso país, nos referimos a eles como raticidas, o que já é um erro, posto que camundongos (Mus musculus) embora sejam roedores, não são ratos. A História registra como um dos primeiros rodenticidas a serem empregados pelo homem com a finalidade específica de eliminar roedores, a cila vermelha, uma espécie de cebola que era plantada na região do Mediterrâneo entremeando outras culturas atacadas por roedores; a cila contém um alcalóide, a cilirosida, que é letal para mamíferos de pequeno porte, ainda que de gosto extremamente amargo. Muitos outros ingredientes ativos foram empregados no combate aos roedores, mas que caíram em desuso segundo avançava a tecnologia descobrindo i.a. mais modernos. Poderíamos lembrar da estricnina, do antu, do sulfato de tálio, da norbomida, do arsênico que foram muito úteis a seu tempo; portanto, não vamos discuti-los neste post. Interessa-nos os rodenticidas modernos, os anticoagulantes.
Os rodenticidas anticoagulantes provocam a morte dos roedores que os ingerirem por provocarem hemorragias internas devido à ruptura de vasos capilares, especialmente ao nível do pulmão e do mesentério (um tecido abdominal que segura os órgãos internos em seus lugares). Interferindo no sistema de coagulação sanguínea, o capilar se rompe e não ocorre a formação do coágulo que tamponaria o sangramento; dessa maneira, o roedor vai sangrar até morrer. A morte ocorre geralmente entre o terceiro e o 10˚ dia após a ingestão do produto, mas o pico de mortes situa-se mais entre o terceiro e o sétimo dia. Os rodenticidas anticoagulantes são classificados hoje em: os de dose múltipla (é preciso que o roedor ingira mais de uma dose para verificar-se o efeito) e os de dose única (basta uma dose para causar a morte). Em termos de resultado, o tempo que leva para causar a morte é mais ou menos o mesmo para qualquer um dos grupos e para qualquer i.a. dentro do mesmo grupo, já que o mecanismo de ação é aproximadamente o mesmo para todos. No Brasil podemos encontrar produtos (raticidas) tanto de primeira geração (warfarina, também chamado de cumafeno), cumacloro e clorofacinona), como de segunda geração (brodifacoum, bromadiolone, difetialona e flocoumafen); difenacoum é um i.a. intermediário entre esses dois grupos (é eficaz contra roedores resistentes, mas precisa de mais de uma dose para fazer efeito).
Já que todos esses anticoagulantes agem mais ou menos da mesma forma, a diferença de resultados entre os grupos está na técnica correta de usá-los. Com os de primeira geração (dose múltipla), temos que repor as iscas ingeridas antes de decorrer 48 horas da primeira tomada, pois caso contrário o i.a. será metabolizado e assim não provocará o efeito letal desejado. Com os de segunda geração (dose única) temos que repor a isca não antes de sete dias, para dar o tempo que o i.a. necessita para produzir seu efeito.
Não quero entrar nos detalhes bioquímicos e fisiológicos do mecanismo de ação dos rodenticidas anticoagulantes, pois aí seria demais para um simples blog, mas sugiro ao Jeymisson, e outros leitores interessados, a busca de livros técnicos que abordam esse tema com riqueza de detalhes ou pesquisar pela Internet.