quinta-feira, 26 de maio de 2011

CARRAPATOS, PODEM SE TORNAR PROBLEMA


Recebi de leitores do blog, algumas solicitações de que postássemos uma matéria sobre carrapatos. Curiosamente nenhum solicitante especificou que carrapato tinham interesse, mas, assumindo que todos eles sejam controladores de pragas urbanas, acabamos por enfocar o carrapato dos cães por ser possivelmente o alvo desejado.
Como sempre faço, uma rápida revisão do tema antes de entrarmos no assunto central, OK? Definindo: o carrapato é um artrópode (quatro pares de patas) da ordem dos ácaros e podem ser classificados nas famílias dos Ixodídeos ou Argasídeos. São ectoparasitas hematófagos (alimentam-se de sangue), podendo ser responsabilizados na transmissão de inúmeras doenças ao homem (zoonoses) e a animais. Vivem no chão entre folhas do capim, touceiras ou sob cavacos de madeira, sempre esperando que por ali passe algum animal ou um ser humano.
Resumindo a história dessa carrapataiada toda, sabemos que os argasídeos (muitos gêneros e espécies) não ficam muito tempo no corpo do hospedeiro, permanecendo a maior parte do tempo no ambiente, escondidos e só procurando seu hospedeiro para se alimentar (de sangue, naturalmente), geralmente quando estão dormindo. Esses carrapatos podem permanecer longos períodos de tempo sem se alimentar (até mais de um ano, caso não encontrem uma fonte de alimento). Os carrapatos ixodídeos, ao contrário, passam a maior parte do tempo sobre o corpo de seus hospedeiros, onde se fixam e sugam seu sangue o tempo todo.
No Brasil, existem quatro espécies de carrapatos mais comuns:
Amblyomma cajennense e Amblyomma aureolatum: ambos são chamados de carrapato dos cavalos ou micuim (quando ainda é larva) ou carrapato estrela (depois de adulto) que frequentemente podem parasitar o homem, bem como outros mamíferos domésticos ou selvagens e até aves. No pasto, de março a julho (nosso outono) os micuins podem ser encontrados aos milhões. Cães que frequentam terrenos baldios, parques urbanos ou outras áreas onde equídeos (cavalos ou muares) permaneçam, podem ser infestados
Boophilus microplus: o carrapato dos bois, principal responsável pela transmissão da tristeza bovina ou babesiose. Quando infestam um bovino, sem tratamento adequado, podem sugar o sangue desse animal até causar profunda anemia e podendo causar sua morte.
Argas miniatus: popularmente chamado de carrapato das galinhas, podem transmitir uma doença severa aos galináceos, denominada de bouba aviária (uma doença infecciosa semelhante à sífilis).
Rhipicephalus sanguineus: o carrapato vermelho do cão que infesta cães e gatos, preferencialmente nos coxins palmares e plantares e também atrás das orelhas. Quando parasitam um desses animais, sobem pelas paredes, alojam-se em vãos e rachaduras, espalham-se pelo canil e pela casa, se o animal a ela tiver acesso. Vieram da África nos tempos da colonização de nosso país e adaptaram-se muito bem. Não é tão difícil controlá-los.
Esse é o carrapato que mais interessa ao controlador profissional de pragas, pois é muito encontrado em residências onde haja cães (eventualmente gatos). Nas fases ainda jovens, esse carrapato se abriga nas frestas, desvãos, gretas e buracos nas paredes do canil ou nas cercanias do ponto onde os cães dormem. As formas adultas vão ao animal para se alimentar e voltam para o ambiente. Tradução: para controlar esses carrapatos é preciso tratar ao mesmo tempo o cão e o ambiente, certo?
Agora que está perfeitamente compreendido que o tratamento deve ser aplicado tanto no ambiente quanto no animal AO MESMO TEMPO, vamos por partes:
• No animal: banhos carrapaticidas; se a infestação for muito grande, a cada 15 dias até resolver o problema. Animais de pelo longo, uma boa tosa no início do verão, ajuda a evitar o problema. Oriente o proprietário do animal a buscar junto ao seu Veterinário, a indicação de algum produto carrapaticida de longa duração para aplicar no animal.
• No ambiente: tratar o ambiente no mesmo dia marcado para o banho carrapaticida do animal e repetir depois de 15 e 30 dias. É isso mesmo que vc leu: tem que repetir o tratamento para também eliminar as larvas e ovos que estavam protegidos durante a primeira aplicação. Não é tão complicado assim, bastando pulverizar um bom piretróide, de preferência microencapsulado. Aplique em todos os cantos, junções, frestas, rejuntes, gretas, buracos e desvãos do canil (e/ou dos pontos freqüentados pelo animal), bem como cobrindo toda a superfície das paredes circundantes (por overlapping). Por experiência própria, recomendo o uso de vassoura de fogo (maçarico modificado com vara e bico de aplicação) ANTES da aplicação do produto escolhido. A alternativa que funciona igualmente bem é aplicar vapor de água a 200˚C usando uma desses equipamentos de limpeza a vapor; neste caso, aplicar o vapor, esperar secar (não leva muito tempo) e só depois aplicar o carrapaticida. O animal só pode voltar ao ambiente tratado, depois que ele estiver completamente seco.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

POMBOS: CONTROLE SÓ DENTRO DO ESTABELECIDO PELA IN 141 DO IBAMA




Considero-me medianamente informado sobre legislação, especialmente a que se refere aos assuntos relacionados com as pragas e seu controle. Tenho prazer em ler acuradamente toda Portaria, Instrução Normativa ou qualquer outro instrumento que baixe normas sobre o tema a que me referi. Com isso, vou me mantendo informado, crio minha opinião (nem sempre compartida pela maioria dos colegas, mas às vezes fazendo coro com a opinião predominante) e, de vez em quando, a emito pessoal e publicamente seja em palestras, seja através deste blog. Nosso amigo leitor Leandro, há alguns dias atrás, solicitou minha opinião sobre a questão dos pombos, especialmente à luz da Instrução Normativa n˚ 141 de 19/12/2006 emitida pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) que tem efeito de lei (e, portanto, deve ser cumprida), que regulamenta o controle e o manejo ambiental da fauna sinantrópica nociva.
Não pretendo analisar neste post o tema “controle de pombos”, isso vai ficar para outra oportunidade, mas vamos procurar atender ao leitor Leandro em sua solicitação de esclarecimentos da lei e a outros leitores que possam ter as mesmas dúvidas. Para melhor compreensão deste texto, sugiro fortemente que o leitor interessado leia antecipadamente a íntegra oficial da IN 141 a qual, para maior facilidade, pode ser acessada clicando em: http://www.pragas.com.br/legislacao/bancodedados/in_141.php
Já que estamos sendo lidos em outros países lusofônicos, a eles não custa esclarecer que este post destina-se apenas aos leitores brasileiros, já que se trata de uma lei limitada ao Brasil.
Logo no Art. 2º. da IN 141 encontramos uma série de definições para efeito da lei, tais como: controle de fauna, espécies domésticas, fauna exótica invasora, fauna sinantrópica, fauna sinantrópica nociva e manejo ambiental. Cada uma dessas definições por si só já situa as chamadas pragas e define até onde podemos ir no interesse do controle, incluindo os pombos. Se começarmos a enquadrar os pombos nessas definições (e para entender as disposições legais da IN temos que fazê-lo), vamos facilmente perceber que essas aves em ambiente urbano podem ser enquadradas nas definições de “fauna exótica invasora” e de “fauna sinantrópica nociva”. Sim o pombo (Columba lívia) não é um animal da fauna autóctone brasileira; trata-se de uma espécie européia que foi trazida para nosso país ainda nos tempos da colonização. Por outro lado, não só se urbanizou de forma muito bem adaptada, como passou a causar sérios transtornos ao sujar com suas fezes o meio onde habitam. Defecam profusamente sobre imóveis, parques, monumentos e outros equipamentos ao seu alcance. Com frequência, defecam mesmo sobre pessoas que inadvertidamente possam estar passando ou permanecendo abaixo de algum ponto onde os pombos possam estar pousados. Além disso, os pombos são os principais responsáveis pela disseminação da histoplasmose, uma doença pulmonar de curso extremamente sério para o ser humano. Portanto, não há dúvidas que o pombo pode, desde já, ser enquadrado nos incisos III e V como citei acima.
O parágrafo 1º. do Artigo 4º. dispõe que, observadas a legislação e demais regulamentações, para órgãos de governo da Saúde, da Agricultura e do Meio Ambiente, certas espécies animais podem ser passíveis de controle, sem a necessidade de autorização por parte do Ibama. Veja bem, órgãos governamentais, não empresas privadas! No inciso “c” lê-se: - animais domésticos ou de produção, bem como quando estes se encontrem em situação de abandono ou alçados (ex: Columba livia – o pombo (o grifo é nosso), Canis familiaris (cães), Felis catus (gatos) e roedores sinantrópicos comensais (ex: Rattus rattus – rato preto, Rattus norvegicus – ratazana e Mus musculus – camundongo).
Mais adiante, a IN 141 em seu Art. 5º. define os limites de ação para pessoas físicas e jurídicas (nesse caso, subentende-se as empresas controladoras de pragas) que estejam interessas no manejo ambiental ou controle da fauna sinantrópica nociva: estas devem solicitar autorização junto ao órgão ambiental competente nos respectivos Estados. Contudo, em seguida, a IN 141 logo no parágrafo 1º. desse mesmo Art. 5º. esclarece que, observada a legislação e demais regulamentações vigentes, pessoas físicas ou jurídicas devidamente habilitadas podem exercer atividades de controle sobre espécies sinantrópicas nocivas (isso inclui os pombos, lembra-se?), SEM A NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO POR PARTE DO IBAMA, observada a legislação vigente especialmente no que se refere a maus tratos, translocação e utilização de produtos químicos. No Art. 6º. a IN esclarece que os venenos e outros compostos químicos utilizados no manejo ambiental e controle da fauna devem ter registro específico junto aos órgãos competentes (no caso, registro dos produtos na Anvisa do Ministério da Saúde).
A IN 141 termina informando que há penalidades legais a serem impostas às pessoas físicas ou jurídicas que agirem em desacordo com o disposto nessa regulamentação.
Toda e qualquer lei admite interpretações (por isso mesmo existem advogados); posso estar certo ou posso estar errado, mas minha leitura dessa Instrução Normativa 141 é em resumo:
a) Sim, empresas controladoras de pragas devidamente registradas nos órgãos competentes podem executar serviços de controle de pombos, seja por manejo ambiental, seja por captura e transposição, seja por métodos químicos, sem a necessidade de ter que solicitar licenças especiais ao Ibama.
b) Os métodos selecionados pela empresa para executar tal serviço não podem caracterizar maus tratos aos animais alvos.
Portanto, amigo Leandro e demais leitores interessados, para mim esse é o resumo da ópera. E outra coisa, Leandro, não faço a mínima idéia se o Estado pretende intervir nesse assunto através de campanhas de controle ou qualquer outra coisa. Não tenho essa informação.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

ATENÇÃO, ATENÇÃO: O HIGIENE ATUAL INFORMA. SÃO 20.000 VISITAS!


Este blog nasceu em novembro de 2009; nesse mesmo mês conseguiríamos lotar uma Kombi de visitantes! Comemoramos. Mais uns meses e já estávamos lotando um micro ônibus e depois um daqueles ônibus grandões de dois andares que a gente cruza nas estradas. Comemoramos. Passou um pouco e lotamos de visitantes um enorme Boeing ou um Airbus desses grandões que cruzam continentes levando um bando de excitados turistas a passeio. Comemoramos. Um nadinha depois, lotamos um navio transatlântico, dois, três... Claro que comemoramos e muito. E agora, nossos visitantes lotariam um estádio de futebol de tamanho razoável; não chega a um Morumbi ou um Maracanã, mas certamente um estádio como o do Bragantino, por exemplo! Só temos é que comemorar e nos orgulharmos muito desse feito. Afinal, 20.000 (já passando um pouco) visitantes, não são para qualquer blog técnico. Outro dia li que uma determinada dupla sertaneja abriu um blog e em pouquíssimo tempo já teria recebido perto de cem mil visitantes. Vocês pensam que ficamos deprimidos por causa disso? “De modus in rebus” como diriam os advogados, de jeito nenhum! Não cantamos, não dançamos, não interpretamos e nem pertencemos ao showbizz tupiniquim, apenas postamos assuntos que possam interessar a profissionais controladores de pragas. Quer dizer, entre o blog dos tais sertanejos e o nosso, vai uma certa diferença de interesses (e de leitores) e entre os dois, eu fico com o Higiene Atual, ora essa!
Nosso blog dá mão de obra, acreditem. Claro que o retorno é imediato e palpável, medido através do número de visitas diárias que recebemos. Nossos apoiadores também estão satisfeitos, por certo. O pessoal da redação, como eu costumo brincar, está exultante. Bem a propósito, na foto que ilustra este post vocês estão vendo todo os componentes do staff de produção do blog, tirante alguns amigos e amigas, colaboradores que nos ajudam com sugestões de matérias a serem abordadas. Na foto estão à esquerda os diagramadores, diretores de arte, sequencistas, pós produtores, e artefinalistas. Á direita figuram o editor, redatores, diretores de pauta, revisores, onbudsman, produtores e controladores de qualidade. É a dupla David&Golias que já está junta desde os tempos em que nascia o Higiene Atual em sua versão impressa, na década de 80.
Como novidade, passamos a publicar na coluna da esquerda da tela, um seguidor de acessos que nos informa “on line” de onde estão chegando os visitantes (país, cidade, data e horário) do blog. Qualquer leitor pode acompanhar. Para surpresa nossa, temos recebido muitas visitas de outros países, alguns até bem estranhos. Quer dizer, tem muita gente neste mundo que lê português! Ou seriam os brasucas e lusitanos espalhados pelo mundo? Outra coisa, sabem qual post tem sido líder absoluto de busca no blog? Acreditem, o famoso Carlos Lineu! Como tem gente interessada nessa figura!
Está bem, agora já chega de comemorações. Prometo voltar só quando atingirmos 30.000 visitas, certo? Dá um tempo, meu!

terça-feira, 3 de maio de 2011

ASPERSÃO AÉREA DE BACILOS CONTRA O CULEX EM SÃO PAULO/SP



Exatamente dentro de quatro dias (em 07/05/2011) estará em teste no canal do Rio Pinheiros, um rio problemático que atravessa parte da cidade de São Paulo desaguando no Rio Tietê, a técnica de aplicação por helicóptero com uso de Sling Bucket empregando o Bacillus sphoericus granulado para controle larvário de mosquitos Culex quinquefasciatus. Como é sabido, especialmente pelos paulistanos, o Rio Pinheiros é, talvez, o maior foco criatório de mosquitos Culex devido sua carga poluidora altíssima e sua sinuosidade em determinados pontos onde a água praticamente fica estagnada. O teste está a cargo da Gerência Centro de Controle de Zoonoses da Prefeitura local, conforme nos informa o biólogo Carlos Alberto Madeira, assíduo colaborador deste blog, que nos fez a gentileza de enviar a ficha técnica do teste com esse equipamento. Olha só:
Altura de vôo do helicóptero durante a aplicação:30 metros.
Velocidade do helicóptero durante o tratamento: 30 Km/h
ESTAÇÃO RETIRO USINA DA TRAIÇÃO
9,72 km - (faixa de aplicação: 3 m)
*USINA TRAIÇÃO PONTE TRANSAMERICA
7,61 km - (faixa de aplicação: 3 m)
*RIO PINHEIROS CANAL GUARAPIRANGA
1,61 km - (faixa de aplicação: 3 m)
TOTAL: 38 km (aplicação nas duas margens)
38 km = 38.000 m
38.000 x 3 m(faixa de aplicação) = 114.000 m2
114.000/10.000 = 11,4 ha
1 ha = 10.000 m2

SOBRE O EMPREGO DE ULTRASSOM NO COMBATE AOS ROEDORES


Vamos dar um rápido passeio, bem superficial, naturalmente, sobre o tema ULTRASSOM no combate a roedores, sugerido por nossa leitora Alice, a quem desde já agradeço pela sugestão e pela oportunidade. Começando pela definição do que seja freqüência sônica e freqüência ultrassônica, ambas baseadas na sensibilidade auditiva do ser humano (audibilidade): somos capazes de ouvir sons entre 20 Hertz e 20 KiloHertz. Abaixo disso seria infrassom e acima seria ultrassom. Aparelhos que produzem sons cuja saída seja predominantemente acima de 20 kHz são, portanto considerados “ultrassônicos”. Isto posto, senta que lá vem história.
Na década de 60 começaram a surgir no mercado especializado norte americano, uns aparelhos capazes de produzir uma freqüência sonora muito alta que era perfeitamente audível aos roedores, mas que não era escutada pelos seres humanos. Na verdade, esses dispositivos ultrassônicos apenas seguiram uma linha muito antiga de experimentos iniciada empiricamente pelos agricultores chineses que já tinham sérios problemas com roedores atacando a agricultura e os depósitos de cereais. Eram dispositivos mecânicos que, supostamente, deveriam repelir através de sons e movimentos ou vibrações, os roedores infestantes de um dado local; funcionavam com mecanismos movidos à água ou vento. Donaldson, Lehrnann e Busnel em 1963 publicaram um interessante trabalho avaliando e comparando esses métodos antigos e já citavam que as respostas envolviam fatores de estresse fisiológico (intensidade do estímulo, duração, etc) como também sobre a resposta audiogênica dos roedores comensais. Nos últimos 30 anos, uma grande variedade de aparelhos de ultrassom, eletromagnéticos, vibratórios e de barreira elétrica têm sido estudados e introduzidos no comércio; para esses aparelhos ainda não existe regras legais que definam parâmetros a serem cumpridos pelos fabricantes, de forma que qualquer um pode colocar seu produto no mercado e anunciá-lo da forma que desejarem contra qualquer tipo de praga. Que felicidade! Pelo menos no nosso país, enquanto não existirem parâmetros legais. Nos Estados Unidos onde já existem parâmetros definidos pela EPA (Environmental Protection Agency), alguns aparelhos de ultrassom demonstram eficácia apenas marginal (30 a 50% de redução de movimentação) e rápida acomodação dos roedores (3 a 7 dias).
A bem da verdade é preciso dizer que bem pouca coisa tem sido publicada sobre o uso de aparelhos ultrassônicos que quase nenhuma atenção tem recebido de eventuais pesquisadores. Em vinte anos surgiram em revistas científicas não mais de dois ou três trabalhos. Mesmo assim, vamos tentar aclarar certos pontos e aspectos dessa discussão. Os aparelhos que produzem e emitem ultrassons usados contra roedores baseiam-se no conhecimento científico de que esses mamíferos são capazes tanto de emitir, quanto de ouvir, sons de alta freqüência muito alta, acima da faixa de audição do ser humano. Cães e gatos também conseguem ouvir ultrassons, mas não os emitem. A razão disso é que roedores usam ultrassons para se comunicarem entre si, enquanto cães e gatos, atávicos inimigos de ratos e assemelhados, desenvolveram a capacidade de ouvir o ultrassons que suas presas naturais emitiam e assim poderiam melhor localizá-los. Sempre a mãe Natureza agindo. Darwin entendeu isso perfeitamente e nos explicou.
Os aparelhos ultrassônicos, teoricamente, agiriam como protetores contra roedores para uso especialmente em depósitos de alimentos evitando assim que fosse consumido ou contaminado por ratos e camundongos. O uso de estímulos ultrassônicos para repelir ou controlar roedores apóia-se em parte no fenômeno conhecido como resposta audiogênica aguda que envolve sinais fisiológicos de estresse exibidos por ratos quando estimulados por determinados sons e ultrassons originados, por exemplo, pelo simples balançar de uma penca de chaves (quanta coisa interessante e útil já foi descoberta por acaso, bastando haver um observador atento por perto!). Esse mesmo fenômeno foi observado, além de ratos, em camundongos, coelhos, galinhas, cães e cabras. Centenas de trabalhos foram publicados sobre esse fenômeno audiogênico em ratos no laboratório que é caracterizado em sucessivas fases: um período latente com a reação de um salto inicial seguido de movimentos rápidos do rato em torno de sua gaiola, rápidas corridas sem direção, convulsões tônicas e clônicas seguidas por completa recuperação ou morte. Estímulos cerebrais repetidos através desses ultrassons podem levar a hemorragias cerebrais fatais. Certas linhagens de camundongos são extremamente sensíveis a esses fenômenos, enquanto nos ratos a resposta e variável segundo a idade. Marsh, em 1962 (um dos raros trabalhos científicos sobre o tema), observou resultados negativos com um gerador de 15 a 16 kilohertz (kHz) produzindo sons até 100 decibéis (dB). Outro pesquisador, Sproke em 1967, não conseguiu repelência consistente usando um gerador sônico/ultrassônico entre 1,8 e 48 kHz produzindo de 60 a 140 dB. Interessante, um pesquisador chamado Sprock em 1967 apresentou uma variante: ele gravou os gritos sônicos e ultrassônicos de um rato capturado e morto por um gambá e usou a gravação para repelir outros ratos de um local infestado e concluiu que esse método foi bem mais eficaz que os aparelhos ultrassônicos; o método, contudo, não foi transformado em aparelho comercial, porque os gritos do rato capturado eram inaceitáveis para os seres humanos. Mas vamos voltar ao assunto.
Roedores são insensíveis a sons audíveis de baixa freqüência (menos de um kHz), seres humanos também. À medida que a freqüência sobe e entra na faixa do ultrassom, os humanos deixam de registrar o som produzido enquanto os roedores continuam a ouvi-los. Para que os roedores acusem os sintomas que descrevemos acima e sejam, portanto afetados, é preciso que as freqüências emitidas pelos aparelhos sejam bem mais altas (acima de 140 dB). Mas, e aí reside o perigo, nesse mesmo ambiente, uma pessoa não estaria ouvindo o ultrassom, embora seu cérebro esteja “registrando” o som agressivo e tentando se defender de alguma forma. Em minha opinião, OS APARELHOS ULTRASSÔNICOS NÃO DEVERIAM SER UTILIZADOS EM AMBIENTES ONDE PESSOAS PERMANEÇAM POR LONGOS PERÍODOS DE TEMPO (há vários trabalhos científicos sobre o tema demonstrando os efeitos sobre os seres humanos de acordo com o tempo de exposição ao ultrassom). Com o tempo, distúrbios locomotores e até perda da audição podem acometer o infeliz exposto a essa sonzeira toda... inaudível! Em depósitos de grãos e mesmo de alimentos, ainda vá lá, mas em ambientes onde haja seres humanos, o risco, quer me parecer, seja demasiado. Será que algum fabricante de aparelhos de ultrassom coloca esse (importante) aviso em seus produtos? Nunca li nenhum em canto algum, escrito em bom português.
Assim como os sons audíveis (abaixo de 20 kHz), os ultrassons perdem intensidade à medida que nos afastamos da fonte (há uma equação matemática que explica isso, mas vamos deixar essa explicação para outro momento). A maioria dos aparelhos ultrassônicos já estudados produzem ultrassons na faixa de 70 a 140 dB medidos a 30 cm de sua saída; a 4 metros de distância a intensidade do ultrassom já cai para um quarto da intensidade de saída. Quer dizer, o alcance efetivo de um aparelho ultrassônico pode ocorrer nos primeiros 4 m de raio, certo?
Além disso, temos outro problema. O ultrassom tem a desvantagem de ter sua energia inicial rapidamente absorvida por qualquer estrutura ou material macio (ex: tecidos, materiais isolantes), qualquer obstáculo em seu caminho (ex: papel, papelões, mobiliário), como também não contorna ângulos (segue sempre em frente desde o ponto de sua emissão), permitindo assim que os roedores infestantes rapidamente aprendam a evitar os pontos diretamente batidos pelo ultrassom.
E tem outra coisa danada contra os aparelhos ultrassônicos: a tal Mãe Natureza deu a capacidade aos roedores de adaptarem-se às condições mais adversas. Darwin, aquele, acrescentaria: “para garantir a perpetuação da espécie”. E, dessa forma, os roedores infestantes de um dado local onde se coloque um aparelho desses, acabam rapidamente se acostumando à nova adversidade em suas vidas e retomam em pouco tempo suas atividades normais de comer, beber, disputar e gerar descendentes. Tudo o que nós não queremos! Trabalhos técnicos demonstram que o ultrassom pode impactar uma colônia infestante em até 50% apenas por um mês. Depois disso, não há garantias.
Resumo da ópera: em minha opinião (que foi devidamente solicitada) os aparelhos ultrassônicos são impotentes (para não dizer inúteis) no sentido de controlar roedores. Ponto. Mesmo porque, para esses aparelhos... “-La garantia soy yo!”
É isso amiga Alice e demais leitores interessados.