quarta-feira, 30 de março de 2011

SOBRE OS TANQUES DE DESATIVAÇÃO DE INSETICIDAS


Quando se fala de meio ambiente, a atividade de controle de pragas é um exercício profissional que está constantemente em foco, uma vez que se trata de um trabalho executado mediante o emprego de substâncias químicas aplicadas sobre o ambiente. Não é somente isso, sabemos, mas o uso de inseticidas assusta as pessoas, cada vez mais preocupados com sua integridade física pessoal e de seus familiares e com a preservação do meio ambiente. Vivemos em uma sociedade cada vez mais quimiofóbica (medo de substâncias químicas), ainda que sejamos, até hoje, extremamente dependentes de compostos químicos de toda sorte.
O profissional controlador de pragas é legal e inteiramente responsável pelo ato do emprego de biocidas, razão pela qual tem a obrigação e o dever de saber (e muito) o que está fazendo, conhecer (mais que as pessoas comuns) dados sobre os instrumentos que usa (equipamentos e produtos químicos), conhecer e seguir rigorosamente as instruções contidas nos rótulos e esclarecer aos usuários de seus serviços, todos os aspectos de segurança ligados ao trabalho que está executando.
Essa preocupação deve se estender ao meio ambiente. Nesse particular, há uma grande quantidade de itens e temas que poderiam ser discutidos, mas, neste post, vamos comentar sobre o que deve ser feito com relação aos restos e resíduos de inseticidas que restou nos equipamentos utilizados. Vamos falar dos tanques de desativação. Tudo o que teve contato com os inseticidas utilizados deve ser lavado ao final da jornada. E esta água resultante da lavagem, ralo abaixo direto para a rede pública de esgoto? Nem pensar! Isso só causaria aumento da carga poluidora dos esgotos que, de um jeito ou outro, vai sempre acabar no mar! É aí que entra o sistema de tanques de desativação, uma interessante alternativa para diminuir substancialmente a carga de inseticidas que temos que nos desfazer diariamente. Propusemos essa alternativa pela primeira vez em 1989 quando publicamos um manual sobre o controle de insetos urbanos, promovido por uma indústria produtora de insumos para a qual trabalhávamos na época.
Por esse sistema, qualquer água de lavagem dos equipamentos, embalagens e/ou utensílios que estiveram em contato com inseticidas, será recolhida em um primeiro tanque aberto colocado em plano acima de um segundo tanque idêntico. Observe o desenho acima para melhor compreender a proposta. O tanque aberto recebe diretamente de um tanque de lavar destinado exclusivamente à essa função ou ali despejado de equipamentos ou utensílios, os restos dos inseticidas empregados no trabalho. Sendo um tanque aberto, essa água de lavagem ficará diretamente exposta aos raios solares e os inseticidas presentes sofrerão progressiva desativação por “fotólise” (rompimento das moléculas por ação da luz) e por “hidrólise” (quebra das moléculas pela ação da água). Aceleramos essa decomposição adicionando a esse primeiro tanque um pouco de soda cáustica que vai alcalinizar o conteúdo, rompendo as moléculas por álcalineutralização (inseticidas permanecem íntegros somente em meio ácido). Em outras palavras, os restos dos inseticidas presentes nesse primeiro tanque sofrerão a ação dos três processos de destruição. Essa calda residual deve permanecer nesse primeiro tanque por no mínimo sete dias (quanto mais tempo, melhor). Passado esse lapso de tempo, a calda será passada para o segundo tanque por gravidade, já que este se encontra baixo do nível do primeiro. Ali deve permanecer por outro período mínimo de sete dias, onde a desativação vai continuar. Decorridos esse tempo, o conteúdo desse segundo tanque poderá ser descartado na rede de esgoto pois, muito provavelmente, já não há mais nenhuma carga inseticida ativa presente.
Quais as dimensões que devem ter esses tanques? Depende do volume da calda poluidora a ser desativada. Há empresas que duas pequenas caixas d´água já resolvem a questão e há empresas que vão precisar de recipientes bem maiores.
Alguns comentários finais sobre esse sistema de desativação:
• Para efetiva comprovação desse método, seria necessário que praticássemos sucessivas análises laboratoriais para a verificação dos níveis de inseticidas ainda íntegros na calda. Essas análises são bastante custosas e provavelmente deveriam ser praticadas diariamente até a liberação final da calda na rede de esgoto. Como eu não pertencia a nenhum laboratório capacitado a executar tal análise ou instituição científica de pesquisas e, como eu não tive suporte financeiro para arcar com os custos, não consegui comprovar cientificamente a eficácia do sistema. Foi pena! Quem sabe alguém o faça.
• Contudo, algumas empresas controladoras de pragas em busca de solução para o problema, instalaram o sistema. Alguns serviços públicos também o fizeram.
Afinal, é apenas uma proposta bastante razoável.

domingo, 27 de março de 2011

DESCOBERTO OUTRO ROEDOR. SABE ONDE? NO BRASIL!


Sabemos que os roedores constituem o maior grupo de mamíferos do mundo com mais de 3.000 espécies já catalogadas e sabemos que ao longo do tempo (olha a teoria darwiniana evolucionista novamente!) esse grande grupo foi adquirindo e desenvolvendo certas capacidades que lhes garante a sobrevivência em qualquer tipo de ambiente com bastante sucesso. Por isso, vez ou outra, surge a notícia que uma nova espécie de roedor é descoberta. Você não escuta falar que uma nova espécie de elefante foi descoberta, ou de girafa ou de hipopótamo. Mas... de roedores!
Pois um trio de pesquisadores acaba de descobrir um novo roedor na mata atlântica do Estado de Espírito Santo, ao qual denominaram Drymoreomys albimaculatus, um roedor arborícola cujo parente mais próximo habita vale áridos do Andes peruanos. Conforme foi noticiado pelo jornal A Folha de São Paulo (folha.com - edição de 18/03), o trio de pesquisadores, Alexandre R.Percequillo (Dep. Ciências Biológicas da USP de Piracicaba), Marcelo Weksler (Museu Americano de História Natural) e Leonora Costa (Universidade Federal de Espírito Santo) esse novo roedor tem hábitos arborícolas (vive preferencialmente nas árvores), suas patas possuem uma espécie de almofadas que o auxiliam a prender-se aos galhos das árvores e o pênis é dotado de glândulas especiais que secretam uma substância viscosa depositada na vagina da fêmea com a qual copulou formando uma espécie de tampão, o qual impede o coito com outro macho, garantindo assim a paternidade da prole. A mãe Natureza produz coisas que a gente nem imagina!
O exemplar capturado em uma armadilha colocada no chão, infelizmente veio a morrer, mas os pesquisadores levaram-no ao laboratório onde exames de DNA confirmaram sua possível classificação sistemática. Isso pode ser transitório, pois os estudos de identificação ainda continuam e, como comentei em post anterior, esses taxidermistas e especialistas em Sistemática são muito volúveis e a qualquer momento podem mudar a nomenclatura do bicho, se descobrem razões para tanto.
Por enquanto, há registros dessa espécie em São Paulo (Serra do Mar) e no Espírito Santo.

quinta-feira, 24 de março de 2011

LIVRO CONTROLE DE PRAGAS EM HOSPITAIS NOVAMENTE DISPONÍVEL. POUCOS EXEMPLARES


Pois é! No meio de uns guardados e esquecidos, eis que encontro um pacote contendo 35 exemplares do GTO 01/98, CONTROLE DE PRAGAS EM HOSPITAIS, um manual nosso publicado em 1998 e que se esgotou rapidamente naquela ocasião, sem re-edições. Com freqüência, esse livro me tem sido solicitado por profissionais controladores de pragas interessados em adquiri-lo e nada posso fazer pois não tinha nenhum exemplar disponível mais, até agora. Encaminhei esses exemplares ao Romildo do Pragas on Line que usualmente distribui meus livros e ele está disponibilizando esses poucos exemplares para os 35 primeiros interessados através do site www.pragas.com.br (ou se o leitor clicar sobre o banner desse site aí na coluna de Apoiadores, à esquerda, fará um link automático).
O livro de 87 páginas aborda de forma sistemática, todos os aspectos que um profissional controlador de pragas precisa saber para executar um trabalho de controle de pragas em hospitais, casas de saúde, clínicas médicas, ambulatórios e assemelhados. Não fala somente de insetos, mas também de roedores, aracnídeos, aves e outros mamíferos. Começa por discutir esse universo particular dos imóveis destinados a atender pessoas enfermas, suas peculiaridades e todas as premissas que precisam ser de conhecimento do profissional, bem antes de pensar em tratar essas dependências. Passo a passo vai conduzindo o leitor a caminhar com segurança nesses ambientes muito delicados e particulares, bem diferentes de tratar um estabelecimento comercial, uma residência ou uma indústria. Aborda o manejo das pragas e fala um pouco sobre os biocidas que deverão ser escolhidos e empregados.
Portanto, é um passeio rápido, mas interessante para os profissionais do ramo de controle das pragas. Tomara que o leitor consiga seu exemplar. Depois desses, esgotou mesmo!

“RATOS EM NOVA IORQUE”


Esse é o título em português que deram ao filme The Rats, (20th Century Fox) uma produção canadense com ótimos efeitos especiais. Lá atrás, em outro post sobre tema semelhante, contei que sou cinéfilo e encantado por “garimpar” raridades nas baciadas de DVDs que encontro em alguns supermercados e restaurantes de beira de estrada. Comentei que de vez em quando encontro pérolas cinematográficas, filmes estranhos, clássicos perdidos no tempo, cults e outras moscas brancas. Pois nesta semana, garimpei em um supermercado, um DVD que me custou R$ 6,80 novamente sobre ratos, um tema recorrente. O filme, com atores canadenses completamente desconhecidos, é uma produção razoavelmente bem cuidada filmada em Toronto. Na verdade é um filme que explora da primeira à última cena, o atávico medo que ratos causam em grande parte das pessoas (musofobia). Um laboratório meio clandestino bem no centro da cidade de NY foi fechado e abandonado, deixando para trás os animais de experiência e ratazanas transgênicas (por acaso!) muito fortes e agressivas. Encurtando a história, multiplicaram-se aos milhões e começaram a invadir a cidade de NY, sem ação de combate por parte do serviço público por razões políticas. O mais interessante é que o principal “mocinho” dessa trama, é... um profissional controlador de pragas! Olha o dedetizador aí, gente! E ele acaba ficando coma mocinha!
A parte técnica do filme foi bastante razoável até que planejaram concentrar os ratos em um só lugar para ali aplicar um certo gás chamado de “fenolacufina”, que seria um tóxico nervoso de ação fulminante, o qual afetaria somente os ratos e sem risco para os humanos. Puxa! Fiquei torcendo para chegar logo a essa cena, mas os produtores não ousaram chegar a tanto e os ratos foram concentrados em uma piscina pública, atraídos por um perfume feito com uma flor que havia sido utilizado nos experimentos onde esses ratos foram originados, e foram explodidos. Menos mal!
Destaque especial para quatro chafarizes de ratos (quaquilhões) na cena final quando eles adentraram pelos drenos à piscina fatal. Formidável!
Cool!

domingo, 20 de março de 2011

SOBRE A MISTURA DE INSETICIDAS


Bruno, leitor deste blog, nos sugeriu aí na coluna de Perguntas&Respostas situada à esquerda desta área de temas, um post sobre o emprego de misturas de inseticidas. Essa prática no controle de pragas não tem nada de novo, nem na agricultura (onde é muito empregada) e nem no controle de pragas urbanas. Os profissionais controladores de pragas fazem uso há bastante tempo. Mas, há certos aspectos dessa técnica que merecem alguns comentários.
A mistura de inseticidas baseia-se na utilização de produtos com diferentes modos de ação e/ou grupos químicos. A mistura pode ser sinergista (quando o resultado final é melhor do que se usássemos separadamente os compostos que misturamos) ou pode ser antagonista (quando o resultado final é inferior de alguma forma ao que obteríamos utilizando de forma separada os compostos da mistura). Certamente, a não ser em algum caso muito especial e específico, ninguém buscaria uma mistura antagônica, ela acontece por acaso, por acidente ou mesmo por desinformação de quem a praticou. Por exemplo, pode acontecer de misturarmos dois compostos que quimicamente reajam entre si formando um terceiro composto ou um deles pode anular, total ou parcialmente, o efeito do outro. Já na mistura sinergista, ocorre o contrário, ou seja, o resultado final da mistura é potencializado em certas características dos componentes da calda. Por exemplo: misturo um inseticida de notório poder residual a um que tenha um bom efeito fulminante e/ou desalojante. Há certo tempo atrás, tornou-se frequente a mistura de tanque do DDVP (um organofosforado) com um piretróide qualquer; resultados inegavelmente bons, mas um tanto arriscados devido à alta toxicidade do diclorvos, de notório efeito fulminante/desalojante, ainda que compensado por uma vida média muito curta, desaparecendo em 24 a 48 horas. Aliás, esse tipo de mistura, um biocida de efeito imediato com outro de efeito residual, tem sido uma busca constante dos profissionais controladores de pragas.
Alguns parâmetros básicos devem ser observados na prática da mistura de inseticidas:
• Não se deve misturar formulações de diferentes tipos, por exemplo, um concentrado emulsionável com um pó molhável, porque suas características físico químicas são completamente diferentes, mesmo que o ingrediente ativo possa ser o mesmo.
• De nada adiantará a mistura de dois compostos do mesmo grupo químico, com as mesmas características e modos de ação. Portanto, essa prática tão comum de misturar o piretróide A com o piretróide B que vemos sendo praticada por aí, nada acrescenta ao resultado final. É ilusório pensarmos que certas características desse produto A vão complementar as do produto B só porque seus respectivos fabricantes anunciam coisas diferentes em suas propagandas.
• A mistura sinergista deve contemplar compostos de grupos químicos diferentes, primeiramente porque terão diferentes mecanismos de ação sobre os insetos, evitando-se assim a tão temida resistência e segundo porque, aí sim, as características de um podem complementar as do outro. Essa estratégia, a mistura de piretróides e compostos organofosforados, por exemplo, tem mostrado um forte efeito sinérgico, prolongando o período efetivo de controle de certos insetos. A mistura de inseticidas para o manejo da resistência da praga aos mesmos é baseada no princípio de que os indivíduos resistentes a um determinado produto serão controlados pelo outro componente da mistura e vice-versa.
• Mais recentemente, algumas misturas têm recebido aprovação da Anvisa e já foram lançados no mercado brasileiro, mas são misturas já de fábrica (e não as que praticamos no tanque de nossos pulverizadores). O que há de comum nesses novos inseticidas comerciais é que eles combinam um piretróide com um neonicotinóide (IDI), este, sabidamente de baixíssima toxicidade para seres humanos e mesmo animais).
• A compreensão do conceito de toxicidade de misturas e o desenvolvimento da capacidade para calcular quantitativamente a toxicidade adicionada de misturas de agentes químicos, podem ser ferramentas úteis para se determinar as vantagens e desvantagens do uso de misturas.
• A DL50 (a dose que mata 50% dos animais testados e que expressa a toxicidade de uma dada substância) da mistura, absolutamente não será igual à do produto menos tóxico ou igual à do mais tóxico e nem à somatória dos dois valores. Cada mistura terá sua própria DL50, às vezes, desconhecida (ainda não determinada). Portanto, cuidado.
• Aproximadamente 6 milhões de substâncias químicas sintéticas são conhecidas e 63 mil são de uso cotidiano, podendo ser encontradas no ambiente, sendo que 118 agentes químicos são considerados mundialmente como prioritários para efeito de controle. Com estes dados é fácil verificar a necessidade de desenvolver-se legislação e mecanismos formais para controlar e avaliar o risco para a saúde e para o meio ambiente em função da exposição individual e múltipla aos agentes químicos tóxicos.
• A mistura de tanque (praticada pelo profissional controlador no momento da aplicação) sempre foi uma prática de risco, especialmente quando ocorre um acidente intoxicativo. Nada desnorteia mais um médico socorrista do que receber um paciente intoxicado por uma mistura de inseticidas.
São esses os toques que eu pensei em lhes dar, falando sumariamente de misturas de inseticidas, atendendo ao Bruno, leitor deste blog.

quarta-feira, 16 de março de 2011

15.000 VISITAS. CHEGAMOS!


Abri o blog do Higiene Atual hoje e quase tomei um susto! Sem aviso prévio a 15.000ª. visita, ou seja, em bom português: a décima quinta milésima visita! Pelo andar da carruagem, eu imaginava atingir esse expressivo número lá pelo final deste mês, mas errei na previsão, para nossa inteira satisfação. Posso estar bem errado em minha análise, mas para um blog de caráter técnico destinado essencialmente a uma única classe de profissionais, os controladores de pragas da atividade privada e da pública, creio que o Higiene Atual tornou-se um blog de referência em nosso país. Tenho recebido com indisfarçável orgulho, diversas manifestações favoráveis de leitores e seguidores assíduos. Um deles relata que visita o blog diariamente para ver se saiu algo novo; outro afirma que tem usado matérias publicadas no Higiene Atual para preparar aulas de treinamento em sua empresa. Alguém afirmou que imprime certos posts de seu interesse e que está assim organizando uma apostila de consultas. Que mais poderia eu querer? Afinal, depois de mais de 40 anos nessa estrada e ainda ter o privilégio da atenção de meus colegas de profissão, é uma recompensa e tanto! A meus leitores, seguidores e apoiadores, meu mais sincero agradecimento. Vocês é que fazem o Higiene Atual ter tamanho sucesso. Eu... apenas o escrevo.

segunda-feira, 14 de março de 2011

SOBRE OS GÔNGOLOS OU GONGOLOS OU GONGOLÔS OU PIOLHOS DE COBRA OU VACAS PRETAS OU EMBUÁS OU MARIAS-CAFÉ OU BICHOS DE VACA OU CONGOLOTES


Eta bicho danado para ter nomes regionais, aqui e em Portugal! Vai ver que recebe outros nomes por aí que nem desconfiamos. Aqui no Brasil, suponho que o nome mais usado seja mesmo piolho de cobra, que não deixa de ser singular porque cobra não tem piolho. Quer dizer, não que eu saiba.
Até certo tempo atrás, esse artrópode de jardim era classificado na Sistemática na classe dos Miriápodes, junto com a centopéia, por exemplo. Mas, os especialistas mudam essas classificações a toda hora. Revisam, acham que não está correto e mudam simplesmente em seus congressos e seminários meio herméticos para quem é de fora, defendendo valentemente as reclassificações. Se aprovado, oficializam e então temos que seguir as novas nomenclaturas, como se fosse fácil para nós, míseros mortais, memorizar os novos nomes científicos e suas classificações mutantes. Por exemplo: recentemente mudaram a classificação sistemática do velho cupim de alvenaria, de Coptotermes havilandi para Coptotermes gestroi (publiquei um post lá atrás sobre isso). Então, agora há duas novas classes: os Quilópodes (têm forcípulas para injetar a peçonha que produzem, são caçadores e carnívoros, corpos achatados, antenas longas ou sem antenas e um par de patas por segmento do corpo; ex: centopéias e lacraias) e os Diplópodes ou Milípedes (corpo cilíndrico, herbívoros ou detritívoros – comem detritos animais ou vegetais; dois pares de patas por segmento do corpo, antenas curtas, ex: gongolos).
Nossos amigos piolhos de cobra são inofensivos, tímidos e ficam escondidinhos nos jardins, principalmente nos gramados, sob folhas, pedras e troncos. Podem, no máximo, desavisadamente invadir áreas da casa e causar certa crise histérica em algumas donas de casa menos informadas. Seu aspecto, um corpo alongado e um “quaquilhão” de patinhas se movimentando com certa rapidez de forma incrivelmente coordenada (na verdade, de 80 a 800 patas conforme a espécie), pode assustar nossas clientes e frequentemente são erroneamente referidos como centopeias. Segundo a espécie, o comprimento de seu corpo pode variar de alguns poucos centímetros até 20 ou 40cm. Tem uns bem grandinhos por aí! Algumas espécies quando ameaçadas ou quando esmagadas, exalam um forte odor acre (cianeto de hidrogênio).
Ficam, como disse, fazendo do jardim gramado, a sua casa. Só se expõem em áreas sombreadas e úmidas ou então quando desaparece o sol, pois seu corpo se desifrata rapidamente sob a incidência direta dos raios solares. Sendo ovíparos, as fêmeas colocam centenas de ovos que eclodem quase todos ao mesmo tempo, resultando nas tais invasões de gongolos tão temidas pelas donas de casa.
Como combatê-los dentro de casa? Combater dentro da casa? Que bobagem! Basta removê-los com pá e vassoura. Ali eles estão erraticamente. Não têm nada a fazer dentro de uma casa. Erraram o caminho, por certo; se perderam, talvez. A verdade verdadeira é que os gongolos não fazem mal nenhum e não deveriam ser eliminados, posto que até tëm um papel de certa utilidade ao se alimentarem de plantas e insetos mortos. Mas, “Vox populi, vox Dei” (a voz do povo é a voz de Deus) e lá vamos nós para atender os pressurosos chamados contra a invasão de piolhos de cobra. Coitados!
O combate deve ser feito no jardim, lá nos gramados. Resolveu o problema lá, a invasão cessa aqui. A escolha do ingrediente ativo é do profissional, mas recomendamos que seja empregada alguma formulação PM (Pó Molhável) ou WP (Wetable Powder), conforme o fabricante, por ser uma formulação bem mais resistente às condições deletérias aos inseticidas quando aplicados a céu aberto. Esses pós são aplicados na forma de calda por pulverização ou rega e, quando a água evaporar, o produto volta à forma de pó, ficando aderido às folhas, caules e raízes expostas da grama, afetando assim os gongolos por um bom período de tempo (vai depender das condições metereológicas como temperatura ambiente e regime de chuvas).
Não é difícil, certo?

sexta-feira, 11 de março de 2011

A ARCA







quinta-feira, 10 de março de 2011

SIT? AEDES TRANSGÊNICOS? CALMA LÁ!


Há alguns dias atrás, publicamos dois posts sobre o mesmo tema: o uso de Aedes aegypti transgênicos para auto controlar essa espécie de mosquito, como uma alternativa interessante de combate à dengue. Comentamos que um grupo de cientistas coordenado pela Dra. Margareth Capurro, pesquisadora do ICB/USP, em convênio com uma empresa privada de biotecnologia de Juazeiro/BA e com o apoio dos governos baiano e federal, estaria já em fase de testes de campo desde fevereiro último fazendo uso de uma cepa de Aedes transgênico. Comentamos, ainda que superficialmente, sobre os riscos envolvidos nessa tentativa experimental (aliás, como em todos os métodos de controle biológico) e sobre as falsas esperanças que a simples notícia do experimento pode dar. Comentamos sobre as dificuldades naturais que a SIT (Técnica de Insetos Estéreis) enfrenta e que são muitas, muitíssimas! A começar pela possibilidade de ocorrer um fenômeno indesejável chamado de “pleiotropia”, ou seja, quando o caráter desejado é atingido pela modificação genética, mas propicia o surgimento inesperado de algum outro caráter não desejado, uma forma de efeito colateral. Ou ainda o risco da “epistasia”, quando gene modificado atua sobre outro gene, modificando-o. Isso, para ficar apenas no plano científico do experimento, sem comentar os aspectos econômicos.
A respeito do assunto, recebemos um não menos interessante comentário do Professor Dr. Carlos Fernando S. de Andrade, do Depto. De Biologia Animal – IB – da Unicamp que alerta sobre o emprego em caráter massivo de Aedes transgênicos. Segundo o Prof. Carlos Andrade “- Os termos usados pela mídia como "promessa", "pode conter" e "pode ser arma" são muito forçados. Os argumentos para isso são vários, desde a falta de qualquer outro exemplo de uso disso para mosquitos, problemas como a hibridação - introgressão, pleiotropia, epistasia, aspectos da ecologia, como o fato das fêmeas copularem com vários machos e uma gigantesca dificuldade logística e alto custo de se aplicar a idéia". Acrescenta o professor: “- É teórico, é possível, mas de sucesso improvável. Vai depender sempre de muita pesquisa e de alta tecnologia (dispendiosas) para uma questão muito fácil de ser resolvida, com baixa tecnologia (e baixo custo)”. E finaliza: “- Na minha modesta opinião ainda, são tantas as dificuldades e tão poucas as chances de sucesso, que esperava que alguns dos mais de 100 países com dengue experimentassem antes do Brasil. Que tal alguma ilha do Caribe de alto PIB, que tal a Flórida? Ou então Porto Rico (com recursos dos Estados Unidos)? Por que verbas ppúblicas do Brasil? Nada interessante!”Como se vê, o Prof. Carlos Andrade é veemente crítico desse experimento em nosso país. Aliás, temos uma ótima entrevista (em áudio) desse professor dada à CNN de Campinas onde ele defende seu ponto de vista. Os leitores que se interessarem podem clicar no link abaixo para ouvir a íntegra dessa entrevista radiofônica:
http://www.portalcbncampinas.com.br/iframe.php?audio=http://www.portalcbncampinas.com.br/dbarquivos/audio/dcebf053ec99a70817a6e298f3722741)
Fica aí mais esse registro sobre o tema SIT. Alguém mais quer se manifestar?

terça-feira, 8 de março de 2011

AEDES AEGYPTI TRANSGÊNICO: ALGO NOVO EM SAÚDE PÚBLICA NO COMBATE À DENGUE NO BRASIL


Mais uma vez, o amigo e leitor deste blog Carlos Madeira, biólogo do Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo nos dá um toque sobre o início dos estudos a campo do emprego de Aedes aegypti transgênicos para controlar populações desse mosquito, responsável pela transmissão da dengue em nosso país.
Conceito bastante divulgado e muito difundido pela mídia falada, escrita e televisada, a transgênese vem sendo amplamente estudada desde 1970 quando foi desenvolvida a técnica do DNA recombinante. Em resumo, a transgênese estuda organismos que, mediante técnicas de engenharia genética, recebem materiais genéticos de outros organismos, imprimindo nos primeiros, características novas ou melhoradas. Essa manipulação genética altamente sofisticada recombina características que provavelmente não ocorreriam na Natureza. Esse conceito é revolucionário na agricultura, pois cria certos produtos com características anteriormente impensáveis. Por exemplo: abóboras e melancias gigantes, vegetais com tempo de vida substancialmente prolongados, plantas resistentes ao ataque de certos parasitas ou mesmo doenças, etc. No mundo animal, o melhor exemplo data de 1970 mesmo, quando cientistas conseguiram produzir uma cepa da bactéria Escherichia coli transgência, a qual passou a produzir a insulina humana. Não é fantástico? Em 2007, na África transsaariana, pesquisadores conseguiram produzir mosquitos bobucha, uma variedade transgênica completamente imune ao parasita da malária, deixando de ser o transmissor dessa doença. A transgênese é, sem dúvida, uma nova porta aberta para o futuro. Tudo o que é novo desperta interesse de uns e desconfiança de outros; alguns reveses, efeitos colaterais indesejáveis e perguntas não respondidas surgem como obstáculos no caminho da aceitação universal dessa nova abordagem. Discute-se muito, baseado até em conceitos religiosos, se seria ético ou moralmente aceitável a criação artificial de um novo ser. Contudo, por ser um capítulo novo na ciência, ainda há que se fazer muitos estudos e avançar um bocado no conhecimento, até que possamos confiar plenamente na transgênese.
Pois bem, em Juazeiro na Bahia, há um grupo de pesquisadores de uma organização privada (Moscamed) que, com o apoio oficial da Universidade de São Paulo, do governo baiano e do Ministério da Saúde, está trabalhando com o Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue, para modificá-lo por transgênese produzindo uma cepa que transferiria um gene mortal à sua prole, criando-se assim mais um método de controle desses mosquitos e, por consequência, na transmissão daquela zoonose. Falando assim, parece formidável e o assunto estaria resolvido. Claro que não é bem assim, pois são necessários muitos estudos laboratoriais e a campo para que se verifique a viabilidade do método, como também seu custo/benefício. A boa notícia é que desde 21 de fevereiro último, eles começaram a liberar os Aedes transgênicos no ambiente e vão monitorar os resultados.
O método consiste na utilização de mosquitos machos de uma linhagem transgênica do Aedes aegypti (mosquitos RIDL OX513A geneticamente modificados) para combater a própria população dessa espécie. Cientistas ingleses introduziram um gene (unidades de características hereditárias) nesse mosquito, gene esse que é responsável pela produção de uma proteína. Em altas doses, essa proteína impossibilita o desenvolvimento da prole (filhos) desses mosquitos, ou seja, eles não serão capazes de chegar à fase adulta. Com isso, não havendo a formação de adultos, a população de Aedes no local tratado iria progressivamente decrescendo até sua extinção e, em consequência, a doença tenderia ali a desaparecer. Os testes em campo compreendem três etapas distintas e sucessivas: estudos ambientais da região teste (estimativas populacionais dos mosquitos selvagens, conhecer criadouros e demais espécies que ali vivem); a segunda etapa é conhecer as condições naturais (nível de dispersão dos transgênicos, sua capacidade de competir pela fecundação das fêmeas) e a terceira etapa seria a de supressão quando os machos transgênicos seriam liberados e os resultados monitorados.
Portanto, aguardemos. Quem sabe boas notícias virão!

sábado, 5 de março de 2011

BOAS VINDAS À KOSSIL


Com grande prazer anunciamos o início do apoio da conhecida KOSSIL a este blog. Por volta do início dos anos 80, uma pequena loja situada lá pelos lados do Mercado Municipal de São Paulo que vendia insumos e implementos agrícolas, foi redirecionada por seus então proprietários: Issao e D.Irene, sua esposa. Começaram a vender alguns produtos domissanitários de uso profissional (inseticidas e raticidas) e rapidamente foram conquistando espaço no mercado paulistano e paulista. Secundados pelo Luís na parte administrativa e pelo Osvaldo Sawasato gerenciando as vendas, a “japonesada”, como eram carinhosamente chamados, logo conquistaram a confiança da clientela constituída em sua maioria de profissionais controladores de pragas, um ramo de negócios que ainda procurava se firmar. Época difícil e complicada nesse campo; muitos profissionais da época encostavam a barriga no balcão e vinham com a mesma ladainha: “- Olhe, tô com um serviço contra baratas alemanzinhas na cozinha de um Hotel e queria saber o que é que eu devo usar!”. Pacientemente Osvaldo e seus auxiliares procuravam esclarecer o tal “profissional” sobre o que, como e porque usar este ou aquele biocida. Um dia, a Kossil resolveu criar um ciclo de palestras destinado a sua clientela, com o auxílio de técnicos principalmente da Ciba-Geigy, da ICI e da Bayer, as principais indústrias produtoras de insumos da época. Foi um grande sucesso. Havia uma carência absurda por informações técnicas naquele instante. O mercado foi se transformando e tecnificando; mais e melhor. A tudo a Kossil assistiu, de tudo a Kossil participou. Lembro-me com saudades dos coquetéis técnicos organizados no restaurante da empresa produtora em que eu trabalhava na época, quando a Kossil convidava e lotava o restaurante da empresa com profissionais controladores, quando o tema era completamente livre e sugerido em sequência pelos próprios participantes. Dávamos boas risadas juntos, o pessoal participava interagindo e aprendia com seriedade! Tudo acompanhado de “comeretes e beberetes!”
O tempo caminhava, as associações de classe dos profissionais controladores de pragas assumiram esse papel formador técnico, outros produtores e distribuidores importantes surgiram no mercado alterando e modernizando substancialmente a cara desse ramo de atividade. A KOSSIL já atendia o mercado nacional e logo valorizou sua equipe com a chegada de outros profissionais de qualidade como Sérgio e Douglas. O time se renovava, até que, no começo deste ano, Issao, D.Irene e Luís decidiram passar o bastão para o Osvaldo, o Sergio e ou Douglas, trio bastante conhecedor desse mercado e que assumiu a condução dos negócios da KOSSIL, já em seu novo endereço. Com a atual configuração comercial e administrativa, a KOSSIL agora passou a ser mais um apoiador de qualidade deste blog. Clique sobre o banner da KOSSIL aí do lado esquerdo da coluna e, através de um link automático, o leitor poderá visitar o site.
Bem vinda, KOSSIL. Vamos fazer juntos o blog do Higiene Atual daqui para a frente.

CULTURA INÚTIL VI: CARNAVAL


E aproveitando o decantado “tríduo momesco” (aqui na Bahia nunca foi tríduo... é no mínimo 10 dias!) e como ninguém está a fim de coisa séria mesmo, vamos falar um pouco do carnaval. O Concílio (enclave de bispos e cardeais presidido pelo Papa onde se discutem aprovam novas regras da Igreja Católica) da cidade de Aurélia no ano de 519 – século VI D.C.- por falta de algo melhor para fazer, determinou que todo cristão deveria fazer 40 dias de jejum e abstinência antes da semana santa. Nesse período, chamado de Quadragésima pelos romanos, que virou Quaresma por abreviação fonética em Portugal, era recomendado que o cristão se alimentasse frugalmente (comida leve à base de frutas, daí o termo), se abstivesse de comer carne (em latim: “carne levamen”- abster-se de carne) e maneirasse no sexo. Bem mais tarde já na época medieval, séculos depois, esse termo virou carnelevare e deu filhotes como carnaval em português, castelhano e francês, carnival em inglês e karneval em alemão. Mas há outros nomes em outras línguas como masopust em tcheco (neste instante, quem tem mais de 50 anos vai se lembrar da Copa do Mundo de Futebol de 1962 onde o Brasil foi campeão, batendo a Tchecoslováquia por 3 x 1 com o único gol dos inimigos marcado por um jogador que se chamava exatamente Masopust). Bem, como a turma toda ia ter que passar 40 dias se segurando e nada de farra, nem banquetes e nem diversão, o povo achou que deveria farrear por antecipação. E tome festa, tome banquete, tome sexo! Estava inventado o carnaval, um período onde tudo podia! Esbórnia total, porque logo em seguida vinha a duríssima quaresma! O primeiro dia da quaresma é a quarta feira de cinzas, assim chamada porque as pessoas tinham que comparecer à igreja onde queimavam palmas e o padre marcava com essas cinzas a testa dos fiéis com um sinal de cruz, avisando-os que a folia estava terminada e que os pecados cometidos durante o carnaval estavam absolvidos. Bem que a igreja tentou abolir esse tal de carnaval, mas não foi nem ouvida; o máximo que ela conseguiu foi reduzir para apenas três dias de folia (algo completa e totalmente desrespeitado no Brasil desde os primórdios de nossa história). Ainda no mesmo tema, o último dia do carnaval é a terça feira gorda, traduzido literalmente do francês Mardi Gras, porque era a última chance que os foliões tinham de se empanturrar de carne antes de encarar os 40 dias de dieta forçada.
E agora, com licença porque eu vou... “atrás do trio elétrico, só não vai, quem já morreu!”

quarta-feira, 2 de março de 2011

SIT – UMA INTERESSANTE ABORDAGEM DE CONTROLE BIOLÓGICO DE INSETOS



O biólogo Carlos Madeira, um amigo do Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo, chama nossa atenção para um interessante estudo que está ocorrendo na UNESP de Botucatu/SP, sobre o controle biológico do Aedes aegypti (mosquito transmissor da dengue) através do chamado SIT – Sterile Insect Technique – uma abordagem que utiliza machos estéreis como fator de controle populacional. Resolvemos postar uma rápida revisão desse conceito para informação de nossos leitores.
A SIT não é propriamente uma coisa nova, pois foi concebida em 1950 por dois pesquisadores norte americanos Dr. Raymond C. Buschland e Dr. Edward F Knipling (esse aí da foto) que foram agraciados em conjunto com o prêmio World Food Prize de 1990 por suas descobertas. Para que nossos leitores se situem, lembramos que o controle de insetos tem, atualmente, três vertentes importantes: o controle químico (predominante atualmente) onde os insetos são eliminados através de compostos químicos sintéticos (inseticidas, larvicidas, formicidas, mosquicidas, pulicidas e outros mais, conforme a espécie a ser combatida); o controle bioquímico (ainda despontando e com futuro promissor) onde se emprega hormônios sintéticos que alteram o equilíbrio hormonal dos insetos em diferentes fases de seu desenvolvimento e o controle biológico, onde se utiliza um ser vivo para controlar outro ser vivo, bem exemplificado pelas toxinas de alguns bacilos que são mortais para algumas espécies de mosquitos.
A técnica SIT mostra inegáveis vantagens sobre o controle químico que é inespecífico e afeta indistintamente a maioria das espécies de insetos presentes em um dado meio ambiente onde foi aplicado. A técnica SIT pressupõe o uso de certos isótopos radioativos capazes de provocar a esterilidade em machos adultos de determinados insetos. Esses machos estéreis são então soltos na Natureza e ali vão competir com os machos selvagens na busca das fêmeas para fecundá-las, o que não ocorre, dado que esses machos irradiados foram incapacitados para a fecundação. A cópula ocorre, mas os óvulos não se transformam em ovos. Considerando que a fêmea só copula uma única vez, se essa cópula se der com um desses machos estéreis, ela não gerará descendentes. A médio e longo prazo a tendência dessa população será de progressivamente decrescer até se extinguir. Esse é o conceito da SIT.
Como isso tudo deve ocorrer na Natureza e com tantas variáveis, nem sempre essa técnica mostra-se eficaz a ponto de poder ser adotada indistintamente. A viabilidade do controle via SIT depende de diversos fatores, a saber: proporção de mosquitos estéreis liberados e a população nativa de machos selvagens, o período de tempo durante o qual os mosquitos inférteis são liberados; a competitividade dos mosquitos machos irradiados versus os mosquitos selvagens e outros fatores ambientais.
Entre as dificuldades e obstáculos que podem ser encontrados na adoção dessa técnica, pode-se ainda citar:
• Assim como na técnica do controle químico, às vezes, é necessário tratamentos repetidos para baixar a população do inseto alvo antes de se dar início à técnica SIT com emprego dos machos estéreis.
• A sexagem dos indivíduos capturados, nem sempre é fácil e rápida; a sexagem em laboratório é necessária para separar os machos, os quais serão esterilizados.
• O tratamento de irradiação pode, em certos casos, afetar a saúde do macho submetido ao processo, o qual pode não conseguir competir com machos selvagens na busca das fêmeas. Todavia, novos métodos de irradiação que não afetem a integridade dos machos tratados, estão sendo pesquisados por diversos grupos de cientistas em todo o mundo.
• A técnica SIT é específica por espécie do gênero considerado.
• Os procedimentos padronizados para uma irradiação em massa, não pode dar lugar a erros. Desde os anos 50, quando a SIT foi inicialmente empregada para controle de insetos, diversos erros foram cometidos em diferentes pontos do globo, onde machos tratados inadequadamente não se tornavam estéreis e eram soltos, provocando o fracasso dos programas de controle.
• A técnica tem que ser aplicada em grandes áreas, pois podem ocorrer migrações de machos selvagens a partir de áreas externas e as áreas tratadas serão repovoadas.
• O maior entrave ainda é o custo da produção de números expressivos de machos estéreis, um problema inegável para países do terceiro mundo.
• No caso do Aedes, como reconhecem os pesquisadores da UNESP, a distribuição heterogênea dos criadouros e certas características comportamentais do inseto, dificultam ainda mais a aplicação da SIT como método de eleição.
Portanto, a técnica SIT apesar de ser muito promissora, como aconteceu nos Estados Unidos no controle da mosca das miíases (bicheira), a Cochlyomia omnivorax, e também em Zanzibar no controle da mosca tsé-tsé, transmissora da wuchereriose (elefantíase) – Wuchereria bancrofti - ainda carece de estudos mais profundos e amplos até que possa ser uma alternativa prática para o profissional de controle de pragas e da Saúde Pública.
Abordagens biotecnológicas baseadas em artrópodes transgênicos continuam em franco desenvolvimento. A liberação desses organismos na Natureza não está completamente formalizada e regulada (normas oficiais), mesmo no Brasil. Há a necessidade de regras e limites estreitos para tanto, já que os impactos ambientais podem ser desastrosos. Os benefícios econômicos do SIT já foram demonstrados em vários casos no exterior: nos Estados Unidos, a miíase tem sido debelada através de um programa SIT, no México algumas moscas de frutas foram controladas da mesma forma, bem como no Chile, com custo/benefício bem interessante.
Quem viver... verá!