quarta-feira, 29 de setembro de 2010

CONTROLANDO ROEDORES EM LATICÍNIO


Nosso leitor Rodrigo Leal postou uma pergunta sobre o controle de roedores em laticínios, logo aí abaixo à esquerda na coluna de perguntas e respostas. Ali, o espaço disponível é pequeno para respostas que exigem certas considerações, de forma que a transformo em post. No meu livro “Manejo de Pragas em Estabelecimentos Alimentícios”, Capítulo III pg.76, faço alguns comentários sobre o assunto e que são pertinentes também para laticínios, pois se trata de um tipo de estabelecimento alimentício, objeto daquele Manual. No entanto, posso acrescentar algumas observações adicionais.
Repetindo o que está superficialmente citado no Manual, dentro da área de manipulação ou processamento do leite e seus derivados, o uso de raticidas fica restrito à proteção de cochos-rato (caixa protetoras) que todo profissional controlador conhece. Não se esqueça de numerá-los e desenhar um croquis da área assinalando os pontos de sua colocação. Claro que devem ser revistas frequentemente para observar se o raticida ali disposto foi tocado e para repô-los. Onde dispor essas caixas? Nos pontos onde a presença de fezes de roedores assim o sugira, nos cantos de paredes, sob materiais e/ou maquinários, sempre tentando evitar exposição direta à visualização de humanos. Dentro de cada caixa, sugiro colocar um raticida em forma de isca e pelo menos um bloco, oferecendo assim mais de uma opção ao roedor que nela penetre. Quando, na revisão, percebermos que um dos raticidas foi ingerido (total ou parcialmente) por roedores, devemos dobrar a quantidade de raticida colocada anteriormente, uma vez que nunca saberemos quantos roedores podem ter visitado aquela caixa de proteção. É comum acontecer o roubo dos raticidas ali colocados, praticado por funcionários do laticínio que tenham problemas com roedores em suas residências. Nesses casos, duas coisas precisam ser feitas: uma, observar bem se os raticidas foram ingeridos por roedores ou simplesmente removidos por pessoas. Quando roedores os ingerem, ficam resíduos e fagulhas das iscas; quando os raticidas são removidos por pessoas, a caixa fica completamente limpa. A segunda coisa a ser feito é comunicar o fato à gerência de seu contrato no laticínio, solicitando providências junto aos funcionários. Às vezes dá certo! Por outro lado, nem todo rato ou camundongo (este menos) se dispõe a entrar numa dessas caixas protetoras, razão pela qual devemos dispor de um grande número de caixas no ambiente, aumentando assim nossa chance de apanhá-los. Outra opção é o uso de armadilhas, ratoeiras ou placas colantes para combater os roedores já infestantes nas áreas internas do laticínio. Eu, particularmente, não gosto dessas opções, pois acho que um roedor preso em um desses artefatos pode causar uma péssima impressão visual, nem sempre do agrado do contratante. Sempre trabalhei nas áreas de produção das indústrias em dois sistemas, a primeira praticando uma “blitz” (um combate super intensivo) durante as horas noturnas quando o laticínio não operava, tomando o cuidado de remover todos os artefatos empregados na manhã seguinte antes do início das atividades na indústria. Na segunda alternativa, se houvesse, nos dias em que por qualquer motivo a indústria fechasse interrompendo sua produção, minha equipe entrava com tudo, praticando um combate super intensivo e tudo removendo antes da volta ao trabalho. Contudo, caso os roedores infestantes não fossem residentes, ou seja, estivessem se abrigando fora da área de produção e ali penetrando apenas para buscar alimento, o combate deve ser feito agudamente nas áreas onde as ninheiras estivessem localizadas. Isso ocorre com freqüência com as ratazanas (Rattus norvegicus), enquanto os camundongos (Mus musculus) e até os ratos pretos (Rattus rattus) podem realmente se tornar residentes na indústria. Medidas de antirratização devem ser indicadas pela empresa controladora a seu contratante, sem dúvida, mas o ônus do controle sempre recairá sobre a empresa controladora contratada. C’est la vie!

domingo, 26 de setembro de 2010

HOJE É O DIA DO CONTROLADOR DE PRAGAS! PARABÉNS MOÇADA!


Pois é, nem todos sabem que hoje, 26 de setembro, é o dia do profissional controlador de pragas! Andei olhando por aí em sites, blogs e outros ligados a essa profissão e, ao que parece, ninguém se lembrou! Não importa, fico contente porque eu lembrei (e comemorei sozinho tomando uma taça de “prosecco”). Sentado no meu canto preferido, enquanto sorvia aquele bom vinho, vasculhei a memória guardada nestes derradeiros 41 anos, desde que comecei a me interessar pelo assunto pragas e seu controle. Em minha mente, desfilaram fatos interessantes que presenciei ou vivi, pessoas também interessantes (e outras nem tanto) que fizeram ou fazem parte de minha vida profissional, acertos e também erros, por que não? Fiquei ali repassando os melhores trechos de minha vida profissional, meus trabalhos nas três Prefeituras onde servi (São Caetano do Sul, São Bernardo do Campo e São Paulo) sempre com atividades ligadas ao controle de roedores e vetores, trabalhos muito bem sucedidos que executei na Mosca Controle de Pragas e depois na Tanco Santec (de minha propriedade); finalizei rememorando passagens e fatos incríveis que vivi na Novartis Saúde Animal. Não pude deixar de curtir memórias de minhas consultorias, onde conheci lugares incríveis em pontos muito diferentes. Foi um passeio formidável.
E sabem por quê? Somente porque hoje é o dia do profissional controlador de pragas!
Parabéns leitor, se você também é um deles!

SOBRE O CONTROLE BIOQUÍMICO DOS INSETOS (IGR e IDI)



Um pouquinho sobre o controle bioquímico dos insetos, atendendo à leitora Ivone em sua sugestão na coluna de perguntas e respostas. Para simplificarmos o assunto (e bem), dá para dividirmos o combate e controle profissional de insetos em duas abordagens: o controle químico e o controle biorracional(que compreende o controle biológico e o controle bioquímico). O controle químico é executado através de compostos orgânicos que intoxicam os insetos tanto nas fases jovens como na adulta, causando-lhes a morte. Ex: oganofosforados, carbamatos, piretróides e neonicotinóides. O controle biológico pressupõe o emprego de algum ser vivo para combater insetos. Há centenas de estudos propondo as mais diferentes abordagens, mas poucas alternativas chegam à fase comercial, como é o caso do Bacillus thuringiensis e do Bacillus sphericus para combater mosquitos. E há o controle bioquímico onde substâncias sintéticas simulam os efeitos de hormônios ou alteram alguma coisa na cadeia normal de síntese de certos compostos vitais no organismo dos insetos. Essa última abordagem é a mais moderna e apresenta várias vantagens sobre os demais métodos. Os compostos nela utilizados podem ser divididos em dois grupos:
Inibidores do Crescimento de Insetos (conhecidos internacionalmente como IGR – Insect Growth Inibitors): metoprene, fenoxicarb, piriproxifen. São substâncias sintéticas que imitam o hormônio juvenil de crescimento dos insetos (JH). Esse hormônio é o que impede o inseto de desenvolver fases mais maduras até chegar à forma adulta. Quando esse hormônio decresce no corpo imaturo do inseto, o que acontece de tempos em tempos bem definidos conforme a espécie , ocorre uma muda para a fase seguinte e assim sucessivamente até que o inseto atinja a fase adulta, onde o JH desaparece. Os IGR simulam no corpo do inseto a presença permanente do hormônio juvenil e, assim, ele não muda para fase seguinte e acaba morrendo por tornar-se biologicamente inviável.
Inibidores do Desenvolvimento de Insetos (a sigla internacional é IDI: Insect Development Inibitors): ciromazina, lufenuron, diflubenzuron, fluazuron, hexaflumuron. São compostos sintéticos que agem impedindo a formação ou deposição da quitina (a proteína que forma a carapaça dos insetos). Dessa maneira, o inseto afetado não consegue executar a muda para a fase seguinte, onde iria precisar de quitina para formar seu exoesqueleto, e acaba tornando-se biologicamente inviável.
E vem ai o futuro! Já vão avançados os estudos sobre a próxima geração de insumos destinados ao controle de insetos: o grupo dos semioquímicos. Nos aspectos funcionais, os semioquímicos são compostos sintéticos que provocam certos comportamentos nos insetos afetados. Por exemplo: os feromônios podem atrair ou repelir certas espécies entre si e os aleloquímicos podem fazer o mesmo entre espécies diferentes. Podem estimular ou inibir o instinto da alimentação, podem provocar o vôo ou inibi-lo, podem induzir ou suprimir o instinto sexual, etc. Mas, nesse campo, estamos ainda engatinhando!
Em nosso país, já há disponível no mercado, boa parte dos compostos aqui citados. Todavia, é preciso atentar para a especificidade de cada um desses produtos. Alguns são muito eficazes contra este ou aquele inseto, mas, nenhum efeito causam em outros.
Foi um passeio rápido, não foi?

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

SOBRE A APLICAÇÃO DE CALDAS INSETICIDAS



Respondendo questão colocada pelo leitor Luiz C.Monteiro aí na coluna de perguntas e respostas, vamos comentar um pouco sobre as técnicas de aplicação de caldas inseticidas através de equipamentos à pressão. Quando falamos de aplicação de inseticidas líquidos, estamos nos referindo a uma aplicação à pressão através de um equipamento apropriado. A menos que lembremos da aplicação através de um simples regador usando a velha lei da gravidade (combate a formigas no jardim). Mas, tirante essa citada forma de aplicação, podemos dividir as técnicas de aplicação em três modalidades. A primeira é a técnica de aplicação localizada onde fazemos uso de um pulverizador com bicos especiais em agulha. Nessa técnica, trabalhosa e morosa, mas altamente eficaz, procuramos injetar a calda inseticida diretamente no interior de fendas, rachaduras, vãos, gretas, orifícios e rejuntes danificados de azulejos ou outras forrações de parede, locais onde, certamente, as espertas baratas alemanzinhas (Blatella germanica) se escondem. A outra técnica possível é a da aplicação de superfície, aplicada pelo mesmo pulverizador, mas com bicos em leque ou em cone. Este último produz uma espécie de garoa em forma de cone que é interessante para cobrir qualquer tipo de superfície, mesmo as angulosas. Muito prático e de alto rendimento! Já o bico em leque, como o nome já diz, produz um jato aberto (em leque), ideal para tratamentos superficiais de áreas mais amplas onde seja necessário cobri-las completamente como paredes e pisos. Falando em pulverizadores manuais, vamos lembrar que existem basicamente dois tipos de equipamentos: os de pressão no êmbolo e os de pressão no tanque. Os primeiros, geralmente são do tipo mochila (são portados nas costas do operador) e a alavanca de pressão é constantemente manejada por um dos braços enquanto a outra mão segura e dirige o revolver aplicador com uma vara dotada do bico pulverizador escolhido. Muito usado na agricultura por ser baixo custo e simples manutenção, esse equipamento de plástico rígido não é muito adequado para operações urbanas de controle de pragas, principalmente porque como o êmbolo (dentro do qual a pressão é produzida pelo movimento da alavanca) tem pouca capacidade e a pressão no bico logo cai, necessitando que a alavanca seja permanentemente acionada (haja braço!). Além disso, um operador iniciante não tem muita noção que seu tamanho dobra com o equipamento nas costas e pode provocar muitos acidentes durante o trabalho, verdadeiros elefantes em loja de cristais! O equipamento mais indicado é o pulverizador manual à pressão no tanque, podendo ser de plástico rígido ou, mais adequadamente, de aço. Nele, antes de iniciar a aplicação, o operador dá várias bombadas na alavanca, produzindo e elevando a pressão interna do equipamento. Ao premer o gatilho, a pressão no bico (acima de 60 libras) é liberada de forma constante, caindo aos poucos, o que garante a aplicação praticamente sempre do mesmo volume de calda a cada ponto.
A outra técnica é a aplicação espacial através de equipamentos apropriados como atomizadores, termonebulizadores (foggers) e UBV (Ultra-Baixo-Volume) que podem ser elétricos ou a motor de combustão. O emprego dessa técnica espacial baseia-se no aproveitamento das correntes de ar naturais do ambiente para que a microgotículas produzidas pelo equipamento atinjam todos os pontos, superfícies e reentrâncias ali existentes. Portanto, ao usarmos essa técnica, estaremos saturando o ar do ambiente com microgotas (abaixo de 5 milimicra) com todas as vantagens e desvantagens do método. Vantagens: aplicação fácil e rápida, excelente cobertura, penetração razoável. Ex. de usos: a céu aberto, em interiores de grandes dimensões como armazéns vazios, digo, sem alimentos estocados. Desvantagens: total impossibilidade de controlarmos onde a calda inseticida vai atingir. Dessa forma, todas as superfícies daquele ambiente vão receber um filme de calda inseticida e isso, obviamente, exclui os locais de armazenagem de alimentos devido ao óbvio risco de contaminação.
É isso. Claro, apenas um sumário, OK?

domingo, 19 de setembro de 2010

DESCOBERTO RATO GIGANTE EM VULCÃO EXTINTO


Parece mentira, mas o vídeo aí está pra provar que é verdade. Lá nas profundezas da selva em um país-ilha chamado Papua-Nova Guiné no Oceano Pacífico, há um vulcão extinto denominado monte Bosavi, com elevação de 2.800m, em cuja cratera há vegetação, cavernas e buracos de vários tamanhos. Essa cratera tem aproximadamente 4 km de diâmetro e suas laterais são muito íngremes, tanto externa quanto internamente, razão pela qual poucos seres humanos se aventuraram a descer ato o fundo, mesmo entre os Kasua, uma tribo que habita a região. Essa topografia criou uma espécie de mundo à parte, pois raramente um animal exógeno ali se dispõe a penetrar e os que lá vivem (há milênios), dela não saem. Seria uma espécie de “ilhas Galápagos” de nosso tempo e os naturalistas do mundo inteiro estão ansiosos para explorar esse rincão perdido no tempo e no espaço. Aliás, as ilhas de Papua-Nova Guiné e Nova Guiné, que ficam próximas às Filipinas, são famosas pelo notório número de diferentes espécies de roedores que ali existem; mais de 57 espécies murídeas já foram encontradas e descritas cientificamente (a maioria dos gêneros Rattus e Mus).
Pois bem, tamanha diversidade tem atraído tanta atenção que, em 2009, a BBC – British Broadcast Corporation – famosa também por manter a Unidade de História Natural em Bristol/Inglaterra, um seleto corpo de cameramen apoiado por cientistas especializados que percorrem o mundo registrando a vida selvagem (seus documentários naturalistas televisivos são absolutamente imperdíveis), decidiu organizar uma expedição exploradora com o objetivo de penetrar na cratera do monte Bosavi, observar e filmar a fauna local. Essa expedição que durou três semanas foi composta por dois cameramen, dois sonoplastas, dois diretores, um médico especializado em atendimento em regiões remotas, um especialista em cordas e rappel e pessoal de suporte. Acompanhou também um seleto grupo de pesquisadores especialistas em morcegos, rãs, pássaros, peixes, mamíferos e insetos coordenados pelo Prof.George McGavin das Universidades Oxford e Derby (Inglaterra). Guiada por nativos kasua ao interior da cratera do monte Bosavi, a expedição teve gratas e grandes surpresas ao descobrir cerca de 40 novas espécies de animais e plantas ainda desconhecidas.
Dr.Kristopher Helgen, um biólogo mamalogista do Instituto Smithsonian Museu Nacional de História Natural de Washington D.C., acompanhou a expedição no grupo dos cientistas e ficou vivamente excitado quando uma câmera infravermelha noturna capturou as imagens de um enorme roedor, bastante semelhante a uma ratazana de esgoto, que passeou lentamente diante das lentes buscando alimento. Suspeitando de imediato que fosse uma nova espécie ainda não conhecida, Dr.Helgen armou algumas armadilhas tipo gaiola, dessas que o roedor tem que entrar para remover a isca e é capturado sem sofrer qualquer dano e na manhã seguinte... lá estava ele. Um exemplar graúdo de um rato macho bem criado! Tinha 82 cm de comprimento (do focinho à ponta da cauda) e pesava próximo a 1,5 kg. Seu pelame era lanoso (pelos marrom-prateados, longos e grossos que provavelmente o protegem do frio e umidade nesse ambiente), razão pela qual a equipe logo passou a chamá-lo de rato lanoso de Bosavi, enquanto Dr.Helgen tentava classificá-lo; ele chegou à conclusão preliminar que o gênero era Mallomys (um grupo bem próximo do nosso conhecido gênero Rattus) e temporariamente denominou a espécie como bosavi. Curiosamente, nosso novo conhecido Mallomys bosavii é uma espécie extremamente dócil e não demonstrou nenhum temor da espécie humana, muito possivelmente porque nunca havia travado contato com um ser humano ou raramente havia feito. É de espantar a capacidade de adaptação e de proliferação que os roedores demonstram em todo o planeta! Se o leitor tiver um tempinho disponível, veja o vídeo do rato gigante.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

CARACOL GIGANTE AFRICANO: ACABOU VIRANDO PRAGA


Há bastante tempo o homem consome nos melhores restaurantes franceses, com indisfarçável prazer, os famosos escargots, um caracol (Helix spp) delicioso. Eu, particularmente gosto quando preparado à Provençal. Comer caramujo é tipo “Ame-o ou deixe-o”, ou você gosta ou você detesta! Receitas à parte, por volta de 1988 em Curitiba/PR durante uma feira de agronegócios, um helicicultor (a palavra certa para designar o criador de caracóis), apresentou o produto que vinha cultivando para fins comerciais a partir de alguns exemplares contrabandeados da Europa, um grande caracol, bem maior que o escargot, de fácil manejo e excelente custo benefício: o Achatina fulica (pronuncia-se acatina fúlica), conhecido como caramujo africano gigante. A intenção daquele criador era o de vender matrizes para pequenos sitiantes como alternativa de renda, buscando fornecer a restaurantes e também de trazer ao nosso país uma nova fonte produtora de proteína animal muito barata. Essa perspectiva econômica que incluía até a exportação para outros países, aliada à intensa cobertura da mídia na época, fez do caracol africano um sucesso comercial. O achatina não era propriamente desconhecido neste lado do mundo, pois já na década de 40 havia sido trazido para os Estados Unidos (via Havaí) e sua criação em escala comercial já era adiantada. Esse caracol, originário da África (Tanzânia e Quênia) espalhou-se rapidamente pelo mundo, dando-se muito bem especialmente em países tropicais e semitropicais como o nosso. No Brasil, sua ocorrência já foi constatada em 23 Estados. Lá pelas tantas, surgiu a notícia (embora nunca comprovada cientificamente) de que o achatina poderia teoricamente ser também um transmissor de vermes metastrongilídeos ao homem e vários outros mamíferos, já que outras espécies de caracóis assim o faziam. Na verdade, tratou-se de apenas um caso clínico não confirmado. Nada ficou provado até hoje (segundo o Med.Vet. Maurício Aquino, ex Presidente da Associação de Criadores de Escargot do Rio de Janeiro em seu site), mas rapidamente o achatina tornou-se o bandido da vez! Passou a ser, equivocadamente, o principal responsável da temida zoonose denominada meningoencefalite eosinofílica. Então, o achatina passou a representar um “risco potencial” embora trabalhos científicos demonstrem que esse caracol tem baixa susceptibilidade ao Angiostrongylus costaricensis e o A.cantonensis, os principais vermes causadores daquela meningoencefalite.
OK! E daí? Daí que o Ministério da Saúde interveio e o Ibama o declarou proibida a sua criação e comercialização (Instrução Normativa 73 de 18/082005). De repente, criar o caramujo gigante africano tornou-se uma atividade ilegal. Certo ou errado, não é o caso de estar discutindo isso aqui e agora; o que interessa é o que aconteceu então. De repente, centenas e centenas de helicicultores que criavam o achatina para fins comerciais, tiveram que se desfazer de suas criações e sabem o que eles fizeram? Simplesmente liberaram seus caramujos na natureza, desejando-lhes boa sorte. Mal sabiam eles o que estavam fazendo. Cá entre nós, estavam liberando uma espécie exótica (não pertencente à nossa fauna) em ambientes onde não havia (como não há) inimigos naturais. Deu no que deu: a iguaria tornou-se uma praga! Já foram identificados mais de 500 vegetais que o achatina forrageia com apetite, inclusive farelos de cereais. Quer dizer, um animal resistente que vive cinco ou seis anos, muito prolífero, dotado de grande apetite, adaptado aos trópicos e sem inimigos naturais, pulou do prato para o purgatório onde vivem todos os animais que a espécie humana considera pragas. A lavoura passou a ser atacada, as cidades invadidas e os problemas crescentes. As tentativas de colhê-los manualmente como forma de controle deram em nada; sua capacidade de reprodução superou esse método. Enterrá-los e cobrir com sal, infrutífero. Introduzir em nosso país algum outro caracol inimigo biológico (Euglandina rosea) já foi tentado, mas o mal que esse predador causava destruindo outras espécies não alvos, levou ao rápido abandono dessa alternativa. Uma residência invadida por esses caracóis é apenas um dos problemas que causam. Solução: chamar uma empresa controladora de pragas. Sim, e daí? O que pode fazer um profissional contra os caramujos gigantes africanos?
Primeiro passo: identificar com certeza de que se trata do Achatina fulica e não alguma outra espécie autóctono de caramujo. Há algumas parecidas, mas nunca tão grandes.
Segundo passo: identificar todos os pontos onde haja concentração desses caramujos na área-alvo. Busque pontos de alta umidade.
Terceiro passo: coletar manualmente todos os caramujos existentes na área e dar destino final. Enterre-os em buraco ou vala misturando-os com cal virgem (sal não adianta, eles escapam) ou incinere-os em lata grande. No entanto, se fosse eu, eles iriam diretamente para minha panela, temperados com finas ervas e muito alho. Sim, antes, eu os manteria por uma semana em uma caixa com tampa perfurada, alimentando-se exclusivamente de certos temperos como salsinha ou cebolinha (essa dieta forçada faz com que sua carne adquira o gosto do tempero que lhes foi fornecido). Ficam deliciosos!
Passo alternativo: fazer uso de um produto comercial (registrado na Anvisa) no combate aos caramujos africanos gigantes. À base de um metaldeído (grupo: tetrocano), é um granulado que age dessecando o pé do caracol que assim fica desidratado (para de produzir o muco sobre o qual desliza para se locomover) e é eliminado. Portanto, o caramujo não ingere o produto, apenas sofre desidratação. Tanto quanto eu saiba, é o único saneante registrado contra o Achatina fulica. Nunca tive a oportunidade de utilizar esse produto (acho que se chama Metarex fabricado pela De Sangosse), de forma que não posso dar opinião sobre sua eficiência e eficácia.
Se eu não tenho medo de comer o achatina? Não, não tenho medo algum! Para mim, muita fumaça e pouco fogo! Mas, é só minha opinião pessoal. Cada qual deve formar a sua.

domingo, 12 de setembro de 2010

DESFAZENDO UM ERRO COMUM SOBRE AS MOSCAS DOS BANHEIROS (WC)


Há tempos que estou querendo desfazer um erro muito comum: confundir a mosca dos banheiros (ou dos ralos) com a mosca das latrinas (Fannia scapularis ou F.scalaris). Estamos falando da Clogmia albipunctata, uma mosca verdadeira (díptero) de pequenas dimensões, cor escura quase negra, mas se olharmos mais de perto, vamos enxergar pequenos pontos brancos nas asas, de permeio com um aparente pelame. De forma triangular, ela lembra uma pequena mariposa porque suas asas em repouso são bem abertas. Frequentam as paredes dos banheiros e por isso são também conhecidas como mosca dos ralos e têm hábitos noturnos. Não fazem nenhum mal exceto o incômodo visual e provêm dos ralos; na verdade originam-se nos esgotos e nas caixas de gordura mesmo onde o teor de oxigênio seja baixo, onde colocam seus ovos na borra sobrenadante e aderida às paredes. Eventualmente, podem subir pelos canos dos esgotos e, encontrando um ralo seco, penetram nos banheiros. Do que vivem? Alimentam-se de fungos e liquens muito comuns nas úmidas paredes dos banheiros e lavabos, sejam públicos ou privados. Não são tão rápidas no vôo como suas primas maiores, a mosca doméstica. É complicado eliminá-las porque a maioria dos profissionais limita-se a aplicar seus biocidas diretamente nas paredes dos banheiros, esquecendo-se que esses locais normalmente são muito úmidos e quentes, especialmente se ali for o local de banhos e duchas. Toda essa umidade vai rapidamente atacar os inseticidas aplicados hidrolisando-os e tornando-os ineficazes. Para resolver o problema, é preciso localizar e tratar a fonte do problema, a caixa de gordura, a fossa séptica ou outro ponto onde haja gordura (proveniente de fezes ou restos alimentares) acumulada de alguma forma e aderida às paredes. E não basta somente aplicar inseticidas nessa borra endurecida porque as moscas dos banheiros introduzem seus ovos no interior da gordura, de forma que as larvas ficarão protegidas de algum inseticida que tenha sido aplicado na superfície. Minha recomendação é que essa borra gordurosa seja eliminada da caixa por sucção (limpa fossas). Só isso já vai atacar diretamente a causa. Cessará a conseqüência!
Acredite! Vi esse problema em muitos hotéis e assim resolvi. Bom trabalho!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

SOBRE OS PERCEVEJOS DE CAMA (BEDBUGS)


Ilha de Manhattan, Cidade de Nova Iorque nos Estados Unidos, imediações do Central Park (a região mais cara da cidade), um Hotel 5 estrelas (verdadeiro luxo com diárias começando em USD 450), 25º andar, suíte 2514, Mr. Kimberley e sua esposa, depois de um ótimo jantar com amigos locais no Iroquois regado a Beaujolais safra 2006 (uma excelente safra na França), aninham-se nos finos lençóis de uma cama king size (6 travesseiros de plumas de ganso). Final perfeito para um dia perfeito. Conversam trivialmente sobre os acontecimentos do dia e o sono rapidamente chega. Mas, nem bem começavam a dormir e um pinicão nas costas de Mr.Kimberley meio que o acorda; outro pinicão no braço desta vez e mais outro na barriga da perna o acordam completamente. A Sra. Kimberley também acorda, pois sentira uma pinicada na barriga. Luz acesa, procuram ver se havia algum bicho naquela cama que pudesse estar atacando o casal, pulgas talvez, para espanto dos dois. E, horrorizados, observam... meia dúzia de uns insetos pequenos correndo entre os lençóis tentando fugir da luz. O indignado Mr. Kimberley pelo telefone chama a Recepção e despeja seu irritado protesto. Claro, o Hotel fez um acordo para evitar que fosse processado e que a notícia pudesse ser veiculada pela imprensa.
Ficção científica? Historinha romanceada para despertar a atenção de nossos leitores? Nada disso... pura realidade! De repente, a cidade de Nova Iorque declarou-se infestada por percevejos de cama (que eles chamam de bedbugs). Com o advento do DDT na década de 40, os percevejos haviam sido eliminados como pragas nos centros urbanos, mas em 1995 eles começaram a reaparecer nas cidades (a primeira a acusar o problema havia sido Londres). Os hotéis entraram em polvorosa, os residentes buscaram socorro, houve até quem achasse que era um ataque biológico do Bin Laden! As empresas controladoras de pragas subitamente tornaram-se a bola da vez, como se diz por aí. Nunca tiveram tantos chamados de urgência, nunca fizeram tantos negócios, nunca tiveram tanta importância como então. Há dados que permitem afirmar-se que, hoje, aproximadamente de 25% dos hotéis americanos apresentam-se, ou já apresentaram-se, infestados por percevejo. Tenho recebido com maior freqüência e-mails pedindo informações sobre essa nova praga. Quer dizer, o ressurgimento dos percevejos de cama é um fato, talvez, mundial!
Nova praga? Nem tanto! O Cimex lectularius, percevejo de cama, já é um velho conhecido nosso e no interior, onde ainda muito se usa colchões estofados com crina de cavalo ou com palha, esses insetos adoram se esconder para aguardar o cair da noite, hora de sua refeição preferida: sangue humano. Então, nos modernos colchões de molas, ou de espuma, eles não se alojam? Pois sim! Estão lá para azucrinar a noite dos incautos que ali deitarem. Vamos dar uma olhada mais de perto nesses percevejos bem adaptados a viver nos centros urbanos.
Os percevejos comuns (Cimex lectularius) são insetos hematófagos estritos, quer dizer, ou se alimentam de sangue ou se alimentam de sangue, de preferência humano, embora possam sugar animais de sangue quente. São atraídos até suas vítimas pelo gás carbônico exalado durante a expiração, depois pelo calor e certamente por alguns odores. O percevejo perfura a pele da vítima com um aparelho bucal composto de dois tubos: por um, ele injeta sua saliva que contem uma substância anticoagulante e outra que é anestésica; pelo outro tubo sugam o sangue (que evolução, não! Darwin foi um gênio). Depois de sugar por uns 5 minutos, buscam um esconderijo para digerir o alimento sem ser incomodado (voltam para dentro do colchão ou buscam algum orifício, rachadura ou oco na estrutura da cama). Embora o percevejo possa sobreviver um ano sem se alimentar, em condições normais ele se alimenta a cada cinco ou dez dias. Em 2009 foram publicados relatos científicos do surgimento de linhagens de percevejos já resistentes a certos inseticidas. Aprendi na infância que quando a gente esmagava um percevejo, ele liberava um cheiro muito ruim e desagradável; por isso a turma deixava em paz um percevejo quando encontrado. Hoje eu sei que o percevejo criou uma forma de defesa contra seus predadores, exalando dois feromônios fétidos, o 2-octenal e o 2-hexenal. Os percevejos se desenvolvem por metamorfose incompleta (ovo - seis estágios ninfais – adulto). Combatê-los com organofosforados e mesmo com os proscritos organoclorados não vai adiantar nada porque eles se tornaram resistentes a esses inseticidas. Algumas populações de percevejos especialmente no hemisfério norte, já exibiram sinais de resistência até contra alguns piretróides (como a deltametrina). Testes recentes com essas populações resistentes demonstraram, felizmente, que o hidroprene os elimina, como também o carbamato propoxur (disponível no mercado brasileiro). Até hoje não foi possível provar que o percevejo atue como transmissor de qualquer zoonose à espécie humana; dessa forma, eles são responsabilizados apenas por dermatites, reações cutâneas alérgicas e outras reações locais; em casos raros de pesado ataque de percevejos, sem serem combatidos, alguns problemas sistêmicos podem surgir.
Olha o percevejo aí, gente!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

AGORA JÁ SÃO 5.000 VISITANTES!


Para ser exato, 5.030 visitantes até minutos atrás! Fico contente, parte de meus objetivos quando criei o blog do Higiene Atual está sendo atingido: divulgar assuntos técnicos para profissionais controladores de pragas, os desinfestadores. Não só isso, é claro, discutir, lembrar e abordar diferentes temas, comentar, responder (quando sei), polemizar se necessário. Foi para isso que em novembro último o Higiene Atual voltou ao ar, desta vez pela Internet. Aos poucos a seção de perguntas e comentários curtos vai também sendo usada por nossos leitores (veja aí na coluna da esquerda); dali surgiram idéias boas para figurar nos posts. Enfim, vamos construindo junto a pauta do Higiene Atual a cada momento. E vamos aceitar sugestões dos leitores; sugiram, se quiserem e, quem sabe, transformamos em mais uma postagem de interesse de nossa comunidade profissional.
Pessoal, obrigado mais uma vez por ter transformado este blog em um sucesso incrível! Grazie, prego. Vielle danke. Domo arigatô. Muchas gracias. Merci beaucoup. Thank you. Muito obrigado!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

OUTRA VEZ, SOBRE O LIVRO VIRTUAL BOAS PRÁTICAS (E-book)


A pedidos, volto a comentar sobre o E-book (livro virtual) BOAS PRÁTICAS OPERACIONAIS PARA EMPRESAS CONTROLADORAS DE PRAGAS de nossa autoria. Vocês sabem, a tendência mundial é a de evitar o livro impresso em papel e substituí-lo por livro virtual (Internet); daqui a pouco, mais alguns anos, e todo mundo terá uma biblioteca virtual em seu computador, do tamanho que quiser, com os títulos que quiser e com a facilidade ao alcance de um click. Na Internet já é possível encontrar muitíssimos livros virtuais à venda e mesmo muitas obras que podem ser baixadas gratuitamente, como certos clássicos da literatura mundial. Eu mesmo já comecei a montar minha biblioteca técnica particular. Caramba... como a vida ficou mais fácil! Quando comecei a me especializar, há 40 anos atrás, vocês não podem calcular a trabalheira que era conseguir literatura para estudar; era tudo pelo Correio com semanas e semanas de espera entre uma carta e outra. O telex veio ajudar e mais à frente o fax revolucionou as comunicações. Mas, era dureza! Hoje, basta um rápido acesso a algum site de busca e pronto, estou dentro de uma biblioteca pesquisando o que busco. O tal livro virtual (E-book) tem enormes vantagens e fiquei fã, além de ser ecologicamente correto, pois não usa papel. A Natureza agradece.
Então, há alguns anos atrás publiquei meu segundo GTO (Guia Técnico Operacional) que abordava as boas práticas operacionais, as quais deveriam ser adotadas por empresas controladoras de pragas. A intenção era de auxiliar as empresas já estabelecidas, e as que viessem a se estabelecer, a se enquadrarem dentro de certas regras para o correto desempenho de suas atividades e evitar aborrecimentos com a fiscalização das Vigilâncias Sanitárias estaduais ou municipais. O livro foi muito bem aceito pela comunidade dos controladores de pragas em nosso país e, para minha surpresa e satisfação, esgotou-se rapidamente em menos de seis meses. Assim ficou durante anos, pois a impressão gráfica foi ficando cada vez mais cara e atingindo preços proibitivos, especialmente para quem não tem uma Editora para suportar os custos, como é o meu caso. Até que surgiu, e rapidamente ganhou espaço, a alternativa do livro virtual, simples, limpo e barato, que acabou me convencendo.
Há uns seis meses atrás, através do site do Pragas On Line (www.pragas.com.br), voltamos a disponibilizar aquele GTO. O leitor interessado nesse E-book deve acessar o referido site e ali vai encontrar uma seção de vendas de livros e DVDs técnicos; entre eles está o GTO Boas Práticas, ainda o único livro virtual da coleção. Obviamente, sou suspeito para comentar o conteúdo do livro, mas tenho recebido de meus leitores muitas referências elogiosas, de forma que acho que as informações ali contidas devem estar sendo de utilidade para os colegas controladores de pragas.
Um abraço.

UM POUQUINHO SOBRE OS CAMUNDONGOS (Mus musculus)


Acho que já comentei aqui mesmo neste blog que estou finalizando mais um GTO – Guia Técnico Operacional – desta feita sobre roedores e seu controle. Projeto antigo, venho coletando informações e dando forma ao livro já há alguns anos, uma vez que quero que esse Guia seja bem abrangente e de fácil leitura. Antes que me perguntem quando vai ficar pronto, já vou dizendo que ainda falta escrever alguma coisa, mas eu diria que cerca de 80% já está escrito. Como já fiz anteriormente (Sobre Dinossauros e Roedores, artigo publicado em recente edição da revista da ABCVP), pincei um pedaço do GTO que estou escrevendo e transcrevi, adaptando para o blog do Higiene Atual, a fim de que nossos leitores sintam o gostinho, uma provinha somente.
Nosso conhecido camundongo (Mus musculus) tem sua vida inteira em um período curto de 9 a 12 meses, razão pela qual atinge a maturidade sexual bem cedo, cerca de 6 a 10 semanas após seu nascimento. A prenhês também é bem curta, cerca de 19 a 21 dias e as proles geralmente se situam entre 5 e 6 filhotes. A fêmea entra em cio entre 5 e 10 vezes em sua vida e o canibalismo dos filhotes é raro, geralmente ocorrendo quando a fêmea está em trabalho de parto e algum distúrbio o interrompe . Então, os camundongos têm que aproveitar a vida, porque essa sim é uma vida curta! E aproveitam: são onívoros (comem de tudo), andam por toda parte subindo e descendo com facilidade, os machos dominantes formam seu próprio harém e banem os filhos machos de seu território quando eles atingem a maturidade sexual, alojam-se em pequenos espaços fazendo ninhos cuidadosamente forrados de materiais macios e pelos da própria mãe, só se expõem à noite a fim de evitar os riscos dos passeios diurnos, têm olhos globosos especializados em perceber movimentos mesmo na escuridão (olha o gato aí, gente!). Tendo comida, até que levam uma boa vida. Se não fosse seu ponto fraco: a curiosidade. Ah, a maldita curiosidade que já causou tantas mortes entre os camundongos! Sentem uma atração fatal por qualquer objeto novo que tenha surgido em seu território (3 m de raio e 3m para cima). É algo novo? Lá vão eles investigar, cheirar, olhar bem, tocar e... TLEC! A ratoeira liquida essa farra. Seus primos maiores como a ratazana e o rato preto são desconfiados e não se arriscam com objetos novos e com isso vão sobrevivendo. Apesar de enorme quantidade de modelos diferentes de ratoeiras e armadilhas que existe no comércio, a boa e velha ratoeira tipo “quebra-costas”, parece ainda ser das mais eficazes no combate a camundongos. Dessas, as mais modernas até dispensam o uso de iscas (que a gente vê nos desenhos animados especialmente), pois possuem uma plataforma que aciona o mecanismo de disparo sob o peso do camundongo que ali sobe para investigar o objeto. Para combatê-los, quando a infestação ainda é leve, uma campanha usando ratoeiras (várias ao mesmo tempo) pode ser capaz de controlar o problema, mas se a infestação tornou-se pesada antes da intervenção, é bom pensar no uso de rodenticidas. E daí, surge um problema: muitos cadáveres vão acabar escondidos das vistas e em poucos dias um terrível mau odor vai tomar conta do ambiente. Pior a emenda que o soneto! Algumas empresas controladoras fazem uso das armadilhas colantes que, facilmente localizáveis, contornam parcialmente esse problema. De qualquer forma, não é tão fácil assim combater camundongos como pode parecer a uma primeira vista. Primeiro, porque se você viu um na área, nunca pense que ele está sozinho (ou sozinha); geralmente há uma numerosa família escondida só esperando a noite cair para cair na farra. Eles roem, e como roem! Atacam especialmente os cereais em grão que não estejam em recipientes muito bem fechados, não desprezam doces e bolos, deleitam-se com tortas, pães e quitutes. Sentem de longe o cheiro apetitoso de um raticida, especialmente de boa qualidade, para sorte nossa. Para aumentarmos a eficácia das iscas raticidas que estamos empregando, devemos dividir o conteúdo de um sachet em três ou quatro montículos separados por, digamos, um palmo de distância. Lembre-se que os camundongos são mordiscadores, isto é, apenas mordiscam um alimento e já saem em busca de outro abandonando o pitéu anterior. Com esse artifício de repartir a isca raticida, o camundongo vai ingerir um pouquinho no primeiro montículo, um pouquinho no segundo e assim por diante; quando ele tiver satisfeito... um abraço, um camundongo a menos na casa. Aceitam muito bem os raticidas em blocos, principalmente aqueles que têm menos parafina. Os pontos de passagem e visita dos camundongos em um ambiente são facilmente localizáveis pela presença de suas fezes em quantidade.
Outro dia falo um pouco mais, está bem?

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A DIFERENÇA ENTRE CIÊNCIA E “ACHOLOGIA”


Com certa freqüência recebo perguntas de nossos leitores via Internet, e mesmo pessoalmente em palestras que, de alguma forma, têm a ver com mitos ou fatos, crenças e crendices ou verdades. Tento sempre explicar começando sobre a diferença entre o que é um conhecimento científico e uma suposição ou mito. Sobrou agora um pouco de tempo para comentar através do blog esse tema.
Ciência, em seu significado mais amplo, refere-se a qualquer conhecimento obtido por meios verificáveis, ou seja, que podem ser reproduzidos e que cheguem ao mesmo resultado. Em outras palavras, conhecimentos baseados em empiricismo (tentativa e erro), experimentação (fruto da pesquisa) ou naturalismo metodológico (estudo de causas naturais, simplificando). Por exemplo, um fato observado por pessoas comuns no comportamento de uma determinada espécie de roedor, depois de estudado cientificamente e comprovado, passa a fazer parte da ciência, do conhecimento científico; enquanto isso não acontecer, esse fato é apenas um conhecimento empírico, talvez um mito. Quer dizer, uma observação não confiável. As pessoas, e até certos técnicos menos preparados, confundem muito essas duas coisas e passam a repetir uma determinada crença como sendo uma verdade. Na boca de um leigo, é até aceitável, já que o leigo, como o próprio nome diz, não tem obrigação nenhuma de conhecer o fato cientificamente. Mas, na boca de um técnico, um mito repetido o condena no mínimo ao Purgatório (conforme o mito, direto para o Inferno! Sem apelação!).
Os cientistas sustentam que a investigação científica está baseada na chamada metodologia científica, um processo muito rigoroso para o correto desenvolvimento e avaliação de explicações naturais de certos fenômenos baseados em observações empíricas confiáveis, e não em argumentos retóricos populares ou mesmo de autoridades. Em outras palavras e simplificando: para se chegar a um fato científico, ainda que originado em observações empíricas, é preciso estudá-lo através de métodos científicos muito bem estabelecidos. Não é “à galega”, usando o jargão popular, que vamos chegar à verdade.
O resto... é puro “achismo”!