terça-feira, 29 de junho de 2010

CHARLES DARWIN, O MAIOR DENTRE TODOS OS NATURALISTAS


Ainda nesse incipiente esforço que estou fazendo para resgatar a memória de alguns pesquisadores importantes para a ciência naturalista, não poderia deixar de falar dessa figura única. Charles Robert Darwin, nascido em Shrewsbury, Inglaterra, no dia 12 de fevereiro de 1809, por coincidência no mesmo dia do nascimento de Abraham Lincoln, o memorável presidente americano, iria se tornar o maior e mais combatido naturalista de todos os tempos, por ter formulado a teoria da evolução e seleção natural das espécies. Como muitos cientistas antes dele, Darwin acreditava que toda a vida na Terra havia evoluído (desenvolvido gradualmente) por milhões de anos a partir de alguns poucos ancestrais comuns. Sem ter muitas provas que pudessem atestar suas teorias, em 1836 Darwin embarcou no pequeno navio H.M.S.Beagle, como amigo e cavalheiro de companhia do capitão Fitzroy, também jovem. Esse navio estava em uma expedição científica em volta do mundo e Darwin colhia amostras de animais e plantas em diferentes partes do mundo para estudá-las posteriormente. Um conjunto de pequenas ilhas chamadas Galápagos mostrou-se de exponencial importância nos estudos de Darwin, pois era um arquipélago inabitado, totalmente isolado no meio do Oceano Pacífico, e que continha riquíssimas e variadas fauna e flora.
De volta a Londres, Darwin estudou profundamente seus apontamentos e os espécimes recolhidos, acabando por formular os fundamentos de sua teoria:
• A evolução, de fato, ocorria.
• As mudanças evolucionárias eram lentas e graduais, requerendo milhares ou milhões de anos para se estabelecerem.
• O mecanismo primário da evolução era um processo denominado seleção natural (só os mais fortes e adaptados ao meio sobreviviam)
• As milhões de espécies existentes hoje surgiram de uma única forma de vida através de um processo de ramificação denominado “especiação”.
Darwin então, em 1859, escreveu seu livro bomba para a época: “A origem das Espécies” (o título completo, em inglês, era “Sobre a origem das espécies através de seleção natural ou A preservação e favorecimento das raças na luta pela vida”). Darwin continuou publicando outros livros sobre o tema até sua morte em 1882.
Estava estabelecida a grande discussão dos últimos 120 anos que perdura viva até nossos dias! De um lado os cientistas e pessoas que estudaram História Natural (os chamados “darwinianos”, entre os quais humildemente me incluo). De outro lado, os religiosos apegados a conceitos fundamentais bíblicos e adeptos da genealogia a partir Adão e Eva. Discutem veementemente até hoje, gerando inúmeros episódios sérios e, às vezes, grotescos. Não se apercebem que não são idéias antagônicas, mas paralelas, ambas reafirmando inequivocamente o toque do dedo divino.
Darwin manteve-se sempre alheio a tais discussões filosóficas, mergulhado em seus estudos e sua filha Henrietta, negou publicamente que seu pai tivesse renegado suas teorias no leito de morte, como chegou a ser propalado por uma seita evangélica.
Sir Charles Robert Darwin, o maior naturalista de todos os tempos, em reconhecimento à importância de seu trabalho, teve funeral de Estado e foi enterrado na Abadia de Westminster, Londres, ao lado de Isaac Newton (nesse século, apenas cinco civis não pertencentes à família real inglesa, tiveram tal honra).
Darwin... que cabeça tinha essa figura!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

ARANHAS – PARTE II


Na primeira parte deste post falamos um pouco sobre as aranhas e as espécies brasileira mais perigosas. Vamos comentar agora sobre controle, que é que todos querem saber. Tenho boas e más notícias, mais más que boas! A má: controlar aranhas é bem complicado. A boa: mas dá para controlar!
Por que controlo baratas e outros insetos rasteiros com facilidade e não consigo bons resultados com as aranhas? Uma pergunta simples de resposta complexa. Em primeiro lugar, porque a maioria dos insetos rasteiros, quando parados, encosta boa parte de seu corpo sobre a superfície onde se encontra e, se essa superfície tiver sido tratada, o inseto vai ser afetado. Com as aranhas, isso não acontece. As aranhas não encostam o abdome no chão, nem as pesadas tarântulas. Elas se apóiam em suas pernas que terminam em ponteagudos tarsos, como se fossem pontas de alfinete. Quer dizer, a área que toca a superfície tratada é mínima e assim, a aranha não será afetada pelos produtos aplicados. Não é que as aranhas seja imunes ou resistentes aos biocidas empregados; o problema é que esses biocidas não são colhidos pelo corpo das aranhas em quantidade suficiente para afetá-las. Cappice? Se o operador pulverizar um biocida diretamente sobre uma aranha, provavelmente vai eliminá-la.
Vamos examinar outro ângulo da questão: o que come uma aranha? Inseto vivo. Ora, se conseguirmos eliminar a maioria dos insetos infestantes de uma certa área problema, já vamos interferir severamente na vida das aranhas ali existentes, tirando-lhes o alimento preferencial. Muito possivelmente, muitas delas vão buscar outros ambientes mais favoráveis.
Sim, mas a maior parte das aranhas caseiras se alimentam de insetos voadores capturados em suas teias! Correto, mas as aranhas que tecem teias de espera, permanecem nessas teias aguardando suas presas e se assim é, conseguiremos eliminá-las pulverizando diretamente a teia (e a aranha) com algum biocida!
E as aranhas de jardim (entre elas algumas bem perigosas) que se alojam em pequenos buracos na terra protegidos pela vegetação? Tratemos o jardim, pois! Podemos aplicar algum produto de formulação WP ou PM (pó molhável) apropriado para áreas abertas e que não seja fitotóxico (não afete plantas). Devemos pulverizar a calda (veja rótulo) tratando uniformemente toda a vegetação rasteira do jardim e aguardar alguns dias. As aranhas que ali vivem sairão de suas tocas para caçar durante a noite e vão tocar com seus corpos a vegetação assim tratada. O resultado acaba sendo sua eliminação pelo efeito do biocida empregado.
Outra coisa: aquelas minúsculas aranhas freqüentemente encontradas no interior das residências, geralmente escondidas atrás de móveis ou armários, conhecidas como “papa-moscas”, não têm nenhum risco significativo. Desaparecem quando a casa é desinfestada. E aquelas de corpo bem pequeno e pernas longuíssimas que fazem suas teias nos cantos e quinas junto ao teto, tampouco representam problema. Assustam, amedrontam um ou outro, mas são pacíficas e não atacam nem pessoas e nem animais (exceto suas presas representadas por moscas, pernilongos, mariposas e outros alados).
Os biocidas microencapsulados que produzem resultados tão bons no combate a escorpiões, pelos motivos expostos acima, não são tão efetivos contra aranhas.
Aí está uma panorâmica rápida e resumida do assunto aranhas. Espero ter ajudado de alguma forma.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

JOHN BERKENHOUT, O ESQUECIDO


Foi outro naturalista importante e eclético em sua época, também médico e militar. Dedicou boa parte de sua vida a descrever cientificamente muitas espécies animais, entre elas o Rattus norvegicus que a partir de então ganhou a paternidade de sua descrição: Rattus norvegicus (Berkenhout). Comentei em post anterior que depois do nome científico de ser vivo (animal ou planta) vai entre parênteses o nome do pesquisador que primeiro o descreveu; colocar esse nome não é obrigatório. Na época que Berkenhout descreveu a ratazana (1769), só havia 350 animais descritos. E bastou isso para deixar escrito para sempre seu nome nas citações científicas. Frequentemente erram, colocando o nome de Lineu após o nome Rattus norvegicus. Escreveu diversos importantes livros de história natural.
Não há muito na biografia conhecida de Berkenhout. É sabido que ele nasceu em Yorkshire, Inglaterra, em 1726 e morreu em 1791 e ainda jovem serviu primeiro no exército prussiano (poderoso na época) e depois no exército inglês. Em seguida estudou medicina e já começava suas atividades paralelas como naturalista. Durante a revolução da independência norteamericana, John Berkenhout Junior serviu como agente britânico. Será que foi por isso que se tornou um tanto esquecido na História?

sexta-feira, 11 de junho de 2010

UM POUCO SOBRE ARANHAS

Tenho sido, com certa freqüência, perguntado sobre o tema aranhas em seus mais diferentes aspectos. Quais os riscos, que espécies são perigosas, como controlar, etc. Então, achei que seria interessante fazermos uma revisão superficial sobre esse tema, dividindo em duas partes, OK?
As estatísticas dizem que 50% das mulheres e 10% dos homens sofrem de aracnofobia (medo de aranhas). Pois é! Pode ser uma resposta instintiva ao risco de ser ferroado, herdado de nossos antepassados. Quem são elas, as aranhas? Já foram cientificamente identificadas mais de 40.000 espécies diferentes de aranhas em todo o mundo. São artrópodes peçonhentos (produzem e têm ferrões injetores de veneno), quatro pares de pernas, os segmentos do corpo (cabeça, tórax e abdome) fundidos em dois: cefalotórax e abdome, geralmente quatro pares de olhos, não possuem antenas e são produtoras de seda (glândulas localizadas no interior do abdome). Os fósseis de aracnídeos mais encontrados e estudados, datam do período Devoniano, ou seja, cerca de 386 milhões de anos atrás! Contudo, existe um exemplar de aracnídeo (Palaeotarbus jerami) que data do periodo Siluriano, com 420 milhões de anos e que já possuía uma forma bastante parecida com a forma das aranhas atuais! Vejam como as aranhas são evoluídas.
Praticamente todas as espécies de aranhas são carnívoras e caçadoras (algumas poucas são herbívoras), se alimentando geralmente de insetos, mas as de maior porte como as caranguejeiras, podem capturar filhotes recém nascidos de roedores e aves; não se alimentam de cadáveres. Na verdade, as aranhas só podem se alimentar de alimentos pastosos ou liquefeitos; algumas injetam na vítima enzimas que predigerem os órgãos internos e depois sugam esse conteúdo; outras rompem o tegumento da vítima e ingerem a hemolinfa (o que seria o sangue do inseto).
De uma maneira geral as aranhas vivem isoladas e só se agrupam nas épocas do acasalamento; em muitas espécies esse é um ato terminal, com a fêmea devorando o macho após o coito! Algumas espécies demonstram comportamento social formando colônias, o que é bastante útil quando se trata da defesa da prole. Algumas espécies tecem teias dos mais diferentes modelos, outras produzem tufos de seda apenas para forrar seu ninho. As fêmeas, segundo sua espécie, pode produzir de 1.000 a 2.000 ovos que geralmente ficam protegidos dentro de uma bolsa de seda até o momento da eclosão, quando saem as primeiras ninfas já dotadas de ferrão e glândulas de veneno.
Determinadas espécies são potencialmente perigosas devido à potência de seu veneno. Apenas alguns venenos de aranhas já foram estudados em detalhes. Esses venenos já estudados mostraram uma estrutura molecular complexa e contêm enzimas (e outras proteínas) que causam, no ser humano ferroado, diferentes sintomas e com diversos graus de severidade. Podemos citar dentre as aranhas mais perigosas em nosso país: a armadeira, a marrom, a viúva negra e as caranguejeiras.
Phoneutria (várias espécies): chamada de aranha armadeira, aranha saltadeira, aranha da bananeira. As armadeiras são de hábitos noturnos e não constroem teias, fazendo seu ninho em pequenas escavações e buracos na terra. Locais mais freqüentados: cantos escuros e isolados, escondidas em galhos secos caídos ao solo, pilhas de taboas de madeira, folhagens, em cachos de bananas, restos de materiais de construção. São bastante sensíveis à variação de temperaturas e, quando isto ocorre, buscam refúgio em ambientes mais quentes como, por exemplo, o interior das casas onde, com freqüência, se escondem dentro de sapatos. Quando ameaçadas, tornam-se agressivas e levantam e esticam verticalmente as patas anteriores preparando-se para dar o bote e ferroar. Os sintomas na pessoa picada se caracterizam por dor intensa no local da picada, náuseas, salivação abundante, suores frios e tremores no corpo todo. É preciso tratar com soroterapia em unidade hospitalar especializada.
Loxoceles (oito espécies no Brasil): conhecida como aranha marrom, com cerca de 5cm de tamanho incluindo as pernas, representa um dos maiores problemas de saúde pública no sul do país. Não é uma aranha agressiva (imagine se fosse!), mas seu veneno é muito potente e tem um efeito necrosante (produz deformações) na musculatura do ponto da picada. Eu vi pessoalmente uma menina que havia sido picada na coxa há algumas semanas por uma aranha marrom; coisa feia! Faltava um grande pedaço que havia necrosado e teve que ser extirpado cirurgicamente. No momento da picada, a dor parece à da queimadura de cigarro, o local começa a inchar e algumas horas depois o tecido em volta começa a necrosar. Pode produzir sintomas gerais como náuseas, febre, mal estar e urina de cor achocolatada. O tratamento exige soro antiloxoceles.
Latrodectus (três espécies no Brasil): chamada de viúva negra, essa pequena aranha (até 1 cm de circunferência), costuma habitar o solo em teias bem simples, principalmente onde haja vegetação rasteira, muito comum no litoral. De corpo escuro quase negro, tem uma característica marca vermelha em forma de ampulheta em seu ventre. Não dá para errar. Seu veneno não é muito potente e provoca sintomas moderados, como sudorese, mal estar, agitação e contrações musculares involuntárias.
Lycosa (várias espécies): são as conhecidas e temidas tarântulas (ou caranguejeiras) que, ao contrário do que se pensa, têm um veneno pouco potente. Figurante indispensável nos filmes de terror, a tarântula pode atingir grandes dimensões chegando a um palmo ou mais de diâmetro incluindo as pernas com muitos pelos. A maior aranha do mundo é uma tarântula que ocorre na região amazônica da Venezuela e do Brasil; é a Theraphosa blondi que chega a pesar 150g e ocupa uma área de 30cm de diâmetro incluindo as patas. É um bicharoco de meter medo. Quem quiser conhecê-la, ao vivo e a cores, basta visitar o Instituto Butantan de São Paulo. Lá tem cada uma! A bicha vive sozinha em buracos que escava na terra, forrados com sua seda. Algumas espécies constroem uma armadilha tipo alçapão capaz de capturar insetos que nela pisem (na armadilha, não na aranha, meu!). Alimentam-se de insetos, mas têm clara preferência por pequenos lagartos, filhotes de roedores e de pássaros. As tarântulas, defendem-se girando a traseira de seu corpo para o inimigo e com as pernas traseiras, executam rápidos movimentos de raspagem do terço final das costas, atirando seus pelos contra o animal ou a pessoa que a ameaça; esse pelos são urticantes e alergênicos. Se não conseguir espantar a ameaça, então prepara-se para defender-se com os ferrões, levantando suas patas dianteiras na vertical e preparando um bote, que é curto, diga-se de passagem. Nesse momento, ela dobra de tamanho! Lá mesmo no Butantan, quando ainda era estudante, fui observar mais de perto uma tarântula das cabeludas, devidamente encerrada dentro de um frasco de vidro grosso, o que me pôs mais à vontade. Essa aranha tinha nada menos que 8 olhos, dois dos quais bem grandes e eu podia jurar que ela também me observava, olhos no olho! Girei meu corpo um pouco à esquerda e ela voltou a cabeça para aquele lado; na dúvida, girei para o outro lado e a danada também girou o corpo, continuando a me encarar de frente. Dei a volta no frasco e ela também me acompanhou dando um giro completo. Quer dizer, tive a sensação que ela estava me avaliando como uma refeição em potencial! Tá bom, confesso, eu estou naqueles 10% dos homens que têm aracnofobia. Isso me fez lembrar uma cena do filme “Aracnofobia” (nome muito sugestivo) que fez um certo sucesso há uns 10 anos atrás. Havia um personagem, um Zé Bombinha americano (lá nos Estados Unidos também tem disso, ora se tem!) que levava duas pistolas em coldres na cinta, ligadas a dois pequenos tanques portados às suas costas e ele saia atirando nas aranhas, possivelmente um ácido porque as aranhas atingidas explodiam! Uma pândega, vale à pena ver buscar esse filme (quem ainda encontrar nas videotecas, um comércio em extinção). Pois é, esse coleguinha quando conhecia alguém, logo disparava a pergunta: “- Rato, cobra ou aranha?” A pessoa não entendia e ele explicava: “- Você tem medo do que?” Não é que o carinha tinha razão! Anos mais tarde, trabalhei com um técnico de laboratório na Seção de Vigilância Sanitária da Prefeitura de São Caetano do Sul; bom cara, competente e trabalhador, oriundo do Instituto Biológico, apelidado de Barba por motivos óbvios. Lá pelas tantas, horrorizado, descobri que ele mantinha escondida numa de suas gavetas, uma enorme tarântula como bichinho de estimação e que ela era alimentada com filhotes de camundongos albinos que eram criados no nosso biotério para serem usados no diagnóstico biológico da Raiva. Aproveitando minha condição de chefe, dei um ultimato: ou ele levava a monstrenga embora ou eu mandaria desinfestar o local. Um dia, ainda me informaram que as tarântulas têm vida longa, mais de 10 ou 15 anos! Quer dizer, a tarântula de estimação do Barba deve estar viva até hoje! Gorda, bem tratada! No Livro Guinness de recordes há o registro de uma tarântula que viveu 49 anos! Tô fora! A verdade é que há muita gente que cria as dóceis tarântulas como bichinho de estimação (já vi à venda em PetShops). Mas, tem cada uma!
De novo isso já ficou longo demais. Continuo outro dia.


terça-feira, 8 de junho de 2010

CARLOS LINEU, O PAI DA CLASSIFICAÇÃO SISTEMÁTICA


Prometi, vou cumprir. Vamos conhecer um pouco sobre CAROLUS LINNAEUS (Carl von Linné, em sueco, depois que recebeu o título nobiliárquico; Carl Linnaeus em inglês ou Carlos Lineu em português), talvez o maior cientista da áreas de ciências naturais de todos os tempos. Nascido em 23/5/1707 na cidade de Räshult na Suécia, faleceu a 10/1/1778 em Uppsala também na Suécia. Durante seus 71 anos de vida, a maior parte dedicada aos estudos e à produção de extensa obra, Lineu notabilizou-se pela criação da nomenclatura binomial dos seres vivos, a base da classificação sistemática atual, a que me referi no post anterior a este, o sistema que permitiu dar nomes científicos aos seres vivos. Em sua época, muitos cientistas tinham múltiplas habilidades e se dedicavam a várias áreas ao mesmo tempo. Da Vinci é um ótimo exemplo dessa multicapacidade inventiva. Lineu foi outro. Foi literato, poeta, naturalista, médico e botânico de sucesso; escreveu mais de setenta livros e 300 artigos científicos. De caráter irriquieto, Lineu dedicou muitos anos a viagens de estudo, primeiro pelos países eslavos e depois pela Europa. Ia estudando os vegetais e dando forma à sua obra máxima “Systema Naturae”, onde ele propôs a nomenclatura universalmente aceita e adotada de dois nomes (em latim) para definir o ser vivo (animal ou vegetal). Assim, uma planta que anteriormente se chamava “physalis amno ramosissime ramis angulosis glabris foliis dentoserratis” passou a se chamar simplesmente Physalis angulata (gênero e espécie). Grande Lineu, esse! Mas, como ele era inquieto, lá pelas tantas estudou e resolveu simplesmente inverter a escala termométrica Celsius (criada por Anders Celsius) que passou então a ter o zero como ponto de fusão do gelo e o 100°C como ponto de ebulição da água, redesenhando o termômetro. Cada vez que vocês olharem para um termômetro para saber a temperatura, agradeçam a Lineu por ter facilitado nossa vida! Grande Lineu, grande mesmo!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

NOME CIENTÍFICO: O QUE É ISSO?

Todos os seres vivos (animais ou plantas) têm dois tipos de nome: um, é o nome comum, popular, que todos conhecem, podendo variar de região para região dentro de um mesmo país. O outro, é o nome científico que nem todos sabem (pessoas comuns e até mesmo profissionais controladores de pragas) que é criado por estudiosos especializados que usam os conhecimentos da chamada Classificação Sistemática. Os nomes comuns são aqueles que escutamos e falamos corriqueiramente como barata, rato, escorpião, muriçoca, etc. Complica um pouco quando o mesmo animal (ou planta) é conhecido por mais de um nome comum; por exemplo: a ratazana que também é conhecida como rato de esgoto, rato pardo, rato cinzento, gabiru ou guabiru. Quem sabe dizer que animal é o “rato de botica”? Essa pergunta não vale para os maranhenses porque é de lá que vem esse curioso nome para o solerte camundongo, ou catita para os nordestinos. Pois é exatamente para evitar essa confusão é que existe o nome científico que tem caráter universal, sem regionalismos ou pátrias. Esse nome deve necessariamente ser do conhecimento dos profissionais controladores de pragas.
O nome científico é um nome composto por duas palavras (excepcionalmente três) e é sempre escrito em latim, pois assim determina a convenção internacional, ex: Rattus rattus. Deve ser escrito sempre sublinhado, mas modernamente se aceita que seja escrito em letras itálicas. A primeira inicial é grafada em letra maiúscula e a segunda inicial em letra minúscula. Você pode pensar no nome científico como se fosse o nome e o sobrenome do animal (ou planta). O primeiro nome é o gênero ao qual o individuo pertence, ou seja um grande grupo de seres meio aparentados que tenham muitos traços em comum, mas sejam diferentes entre si. Por exemplo, o gênero Rattus. O segundo nome é o da espécie, o qual define exatamente o indivíduo, não permitindo confusões. Ex: Blatella germanica. Às vezes pode surgir um terceiro nome que definiria a variedade, mas há hoje uma forte tendência entre os estudiosos de eliminar esse terceiro nome, considerando que se trata apenas de linhagens do mesmo animal. Por exemplo, o rato preto era chamado de Rattus rattus alexandrinus, mas passou apenas a Rattus rattus por que o alexandrinus (aliás, caracterizado por uma pelagem bi ou tricolor), foi considerado não mais uma subespécie, e sim apenas uma variedade do mesmo animal, considerando que as diferentes chamadas subespécies são análogas e geneticamente compatíveis. A bactéria causadora da peste bubônica, já foi nomeada e renomeada sucessivas vezes; até alguns anos atrás recebia o nome científico de Yersinia pseudotuberculosis variedade pestis. No entanto, seu nome atual ficou apenas Yersinia pestis.
Pode surgir em alguns escritos, um terceiro nome grafado entre parênteses, logo depois do nome científico. Ex: Rattus rattus (Lineu). Não se complique, isso é apenas o nome do pesquisador que, pela primeira vez, descreveu cientificamente o animal (ou planta); no caso exemplificado, foi o célebre Linneus que registrou a primeira descrição científica do nosso conhecido rato de telhado. Por falar nisso, um dia desses escrevo alguma coisa sobre esse tal de Lineu, só para vocês verem o trabalho desse pesquisador. Fantástico!
Pronto, agora vocês já sabem o que é e para que serve o tal nome científico dos animais (se é que ainda não sabiam, lógico!). Por exemplo, se um colega japonês se referir ao “yanenezumi” você pode não saber que ele esteja falando da nossa popular ratazana, mas se ele falar em Rattus norvegicus (não sei bem como soaria falado por um oriental), certamente você pelo menos entenderá o assunto! O nome científico tem lugar e hora para ser utilizado; não vá sair por aí dizendo para dona da casa que ela está infestada por Blatella germanica na cozinha e Periplaneta americana nos ralos e esgotos. A pobre senhora pode achar que está sendo invadida por E.Ts e não pelas conhecidas baratas alemanzinhas e americanas!

terça-feira, 1 de junho de 2010

TRIMILÉSIMO VISITANTE! HURRA!

Todos aqui da Redação do blog do Higiene Atual estamos comemorando a visita de número 3.000 - redatores, ilustradores, corretores, pautistas, jornalistas, linotipistas, estagiários, gráficos, conselho editorial, aspones, assemelhados, todos enfim comemoram efusivamente. Já bebemos juntos uma caixa inteira de champagne Veuve Glicot rosé! Tô brincando, lógico. Na redação deste blog, tem eu e mais eu carregando o piano. Ah, sem esquecer o David que também se diverte ilustrando certas matérias... quando ele acorda de bom humor. Ele ressuscitou a velha dupla David & Golias que publicava tiras cômicas no Higiene Atual quando era impresso.
3.033 visitantes até minutos atrás é uma marca nada desprezível para um blog altamente especializado em controle de pragas como é este aqui. Sabe por que? Porque são mais de 3.000 clicks de profissionais controladores de pragas que já nos visitaram desde novembro último quando o blog foi lançado. É ou não é para se orgulhar? Quer dizer, tirando as de minha mãe e minhas filhas que nos querem prestigiar ainda que os temas sejam áridos para elas, o resto é visita de gente interessada, além de especializada. E vamos em frente, porque atrás vem gente!
A nossos leitores, um solene e sincero muito obrigado, do Davi e do Golias!

UM MUNDO SEM DEFENSIVOS...

...seria, no mínimo, um mundo diferente daquele em que vivemos. De acordo com o Dr. Norman Boulaug, um dos cientistas já laureados com o prêmio Nobel, o banimento dos defensivos químicos no atual estágio do desenvolvimento humano, levaria inevitavelmente a uma dramática alta dos custos dos alimentos e uma queda fatal na sua produção. Recrudesceriam as doenças transmitidas por insetos e roedores com acontecimentos imprevisíveis e pondo em risco toda a espécie humana.
Os alimentos que consumimos hoje apresentam-se sem vermes, larvas e ovos, não devido à tecnologia em sua manufatura prévenda ao consumidor, mas sim devido às medidas de controle de pragas empregadas na lavoura, na pecuária, nas fazendas, nas granjas produtoras, nos silos e armazéns de estocagem, nas fábricas processadoras e nos estabelecimentos comerciais onde são vendidos ou consumidos. Em países mais desenvolvidos, como resultado de modernos programas de controle de pragas, as perdas de alimentos situam-se em torno de 10% do produzido, comparados aos 30, 40 e 50% de certos países terceiromundistas. É o triste ciclo negativo da produção alimentar!
Doenças transmitidas por insetos como a malária, o dengue, as encefalites, a peste bubônica, a febre tifóide, o calazar, para citar apenas algumas, estão hoje sob relativo controle no nosso e em outros países de ocorrência endêmica, muito em função de enormes esforços governamentais, da empresa privada e dos próprios cidadãos, fazendo uso de bases químicas transformadas em inseticidas tanto de uso profissional, como de uso doméstico, tentando recuperar o meio ambiente deteriorado e desequilibrado pela ação do próprio homem.
As discussões de fundo ecológico, tão em moda nos dias de hoje, freqüentemente são levadas ao radicalismo preservacionista, tão prejudicial quanto a febre desenvolvimentista a qualquer preço. Nessas discussões, não raro, os biocidas são colocados como vilões a serem denunciados, execrados e banidos. Sem eles, no entanto, as moscas seriam tantas que literalmente nos impediriam de abrirmos a boca, os pernilongos sugariam nosso sangue até a última gota e tornariam nossa vida insuportável disseminando zoonoses em níveis epidêmicos com conseqüências imprevisíveis, as baratas comeriam nossos alimentos deixando-nos à míngua e os roedores devorariam o que sobrasse. É claro que esse quadro pintado com cores intencionalmente fortes dificilmente ocorreria na prática, pois o bom senso nos diz que ainda não podemos abolir o uso de produtos químicos sem causarmos um enorme problema à própria humanidade. Mas, serve de incentivo à busca de soluções alternativas e mais avançadas para que possamos equacionar tal problema através de abordagens menos deletérias ao meio ambiente. Os sinais aí estão demonstrando que estamos no caminho certo; o surgimento já em fase comercial de defensivos biorracionais (controle biológico e bioquímico), alguns altamente específicos contras seus alvos, indica o caminho. Quanto tempo mais? 15 anos, 30? Mas, vai acontecer, tenho a certeza.