terça-feira, 30 de março de 2010

NOSSA ARCA DE NOÉ É MAIS COMPLICADA

No bairro do Morumbi, em São Paulo, uma senhora toma um enorme susto com uma cobra que passeava pelo seu jardim. Em Belo Horizonte, uma menina de pouca idade é ferroada por um escorpião amarelo ao colocar o tênis assim que acordou. Passa mal, é internada e falece. No Rio de Janeiro e em Salvador, as autoridades sanitárias declaram-se incapazes de evitar um pico epidêmico de dengue hemorrágico que ocorre no verão e cuja taxa de mortalidade chega a 2%; a razão é uma infestação urbana descontrolada do mosquito Aedes, o transmissor dessa temida enfermidade. O Centro de Controle de Zoonoses da Prefeitura de são Paulo prevê um grande número de casos humanos de leptospirose, se voltarem a ocorrer inundações na cidade em decorrência das fortes chuvas de verão; a leptospirose é uma doença transmitida pela urina de ratos que habitam os esgotos da cidade. As autoridades sanitárias federais estão realizando sucessivos levantamentos em berçários de diversas maternidades no Brasil, devido ao expressivo número de óbitos em bebês prematuros que vêm sendo registrados; os resultados iniciais desses estudos demonstram que as bactérias causadoras das mortes dos bebês possivelmente estejam sendo disseminadas por baratas ou até mesmo formigas doceiras.
Seja como for, gostemos ou não, dividimos nosso meio ambiente urbano com uma enorme série de diferentes espécies animais que, em conjunto, sobrepassam-nos em número muitíssimas vezes. Muitos desses animais, infelizmente, são importantes transmissores de algumas doenças à espécie humana (zoonoses), por isso com eles nos preocupamos. Todo mundo sabe que cães e gatos podem transmitir a raiva e por isso necessitam ser vacinados todos os anos. Mas, quantos sabem que os inocentes camundongos podem transmitir a leptospirose de curso mortal em 11% dos casos? Que os lerdos escorpiões provocam cerca de 1% de óbitos entre as pessoas que foram ferroadas? Que as aparentemente indefesas e pequenas aranhas marrons causam a necrose de grandes porções de pele e músculo no ponto da picada, deformando as vítimas? Que uma simples picada da pulga de um rato pode nos transmitir a temida peste bubônica em algumas regiões do Brasil? Que um ridículo mosquito pode literalmente arrasar nossa saúde e nos por em risco de vida?
E quem é que cuida de tudo isso? Quem está fazendo alguma coisa para por um pouco de ordem nessa grande arca de Noé em que vivemos?
Bem, há uma porção de gente boa envolvida nos esforços permanentes e incansáveis de lidar com todas essas questões. Tem o pessoal dos órgãos públicos sanitários nas esferas federal, estaduais e municipais assoberbados com enormes problemas de saúde pública. Tem os pesquisadores e professores dos institutos de pesquisa e de ensino técnico especializado, que diuturnamente buscam novas abordagens de controle das pragas urbanas. Tem o pessoal das indústrias produtoras de insumos que permitem alcançar níveis de controle ou até mesmo erradicação. E tem os profissionais controladores de pragas, último recurso do cidadão comum para defender-se dos agravos de saúde trazidos por certas pragas. É muita gente envolvida nesse tema, todos os dias! Axé, minha gente, muito axé!

sábado, 27 de março de 2010

O MISTÉRIO DO FRANGORRATO – PARTE II

OK, vamos continuar a contar o mistério do Frangorrato. Dêem uma olhada logo aí abaixo para relembrar como a coisa começou e até que ponto havíamos chegado. Eu dizia que um acordo fechou a discussão e os queixosos saíram felizes (bem felizes!). O frigorífico também ficou feliz, por que não, já que conseguiram impedir que o caso fosse levado à mídia, o que contentou bastante o supermercado. Bem, o frigorífico não estava super feliz porque agora se preocupava em saber como aquele rato havia entrado no frango. Primeiramente, fotografaram exaustivamente o réu e enviaram-no para uma Universidade para melhores exames. O laudo (simples) apenas confirmou que o rato dividia seu espaço na carcaça com os pés, a moela, a cabeça e o fígado do galinhão, como era de se esperar. O intruso foi identificado como sendo uma ratazana (R.norvegicus) macho adulto (mais de 200g de peso). E nada mais. Sim a embalagem original não havia sido violada! O pessoal do frigorífico até que se esforçou bastante para tentar entender o que havia ocorrido, mas as hipóteses levantadas não satisfaziam. Então, nem me lembro como, fui chamado para tentar descobrir a trama. Lógico, no primeiro contato, uma reunião com o pessoal do frigorífico serviu para algumas respostas importantes. Antes de mais nada, eles mantinham sob contrato, uma empresa local controladora de pragas há cerca de 5 anos e nunca haviam registrado problemas com roedores no perímetro de suas instalações. Fui conhecer a linha de produção que mais ou menos era a seguinte: os frangos eram abatidos mecanicamente por corte do pescoço, as carcaças recebiam um banho com água ferventes já dependuradas em um sistema que se movia o tempo todo (como uma linha de montagem de uma fábrica de automóveis), passavam por uma despenadeira, eram evisceradas logo adiante, a cabeça, pés, moela e fígado eram separados e caiam em uma esteira rolante. A carcaça continuava e era depositada em uma mesa para preparo final, onde operárias colocavam as vísceras no interior de cada uma; a carcaça era então depositada sobre uma bandeja de isopor e envelopada por uma máquina. Dentro do processo, cada carcaça era manipulada e verificada no mínimo por três pessoas. Quer dizer, para que alguma operária dessa linha pudesse enfiar um rato morto dentro de uma carcaça, teria que haver um conluio entre elas, o que era altamente improvável, para não dizer impossível. Não encontrei sequer uma cíbala (fezes) de roedores no frigorífico. Examinei a canaleta de drenagem de águas utilizadas na linha de manipulação: limpa, higienizada e gradeada. Nada encontrei de suspeito na câmara frigorífica onde as carcaças eram estocadas até seu despacho para o comércio. Revisei meus conhecimentos e não encontrei uma única teoria que pudesse minimamente juntar o quebra-cabeças. Fui embora assoviando para disfarçar e até hoje me questiono, sem sucesso! Por via das dúvidas, anotei bem a marca do frango!
O mistério do frangorrato... continua um mistério!

quinta-feira, 25 de março de 2010

SOBRE O ÓLEO DE CITRONELA NA REPELÊNCIA A INSETOS

Recebo em meu e-mail uma consulta sobre a eficiência do óleo de citronela como repelente a insetos. Minha primeira impressão é que os profissionais controladores de pragas estão cada vez mais interessados nesses diferentes óleos essenciais vegetais para uso contra certas pragas. Outro dia falei sobre o Óleo de Nim (vide abaixo) e hoje vou comentar um pouco sobre o Óleo de Citronela, a pedido.
A citronela é uma espécie de capim aromático (lembra o napier usado para arraçoar gado bovino) originária do Pacífico e existem duas espécies (com diferentes teores de citronelal e geraniol, os princípios ativos responsáveis pela ação repelente). Uma é a citronela de Java (Cymbopogon winterianus) que possui maior teor repelente e a segunda é a citronela do Ceilão (Cymbopogon nardus). O conhecimento da ação repelente da citronela sobre insetos, especialmente alados, é milenar e há registros antigos de seu uso em diferentes situações. Na verdade, há vários outros usos interessantes para a citronela como nas dores, reumatismos, LER e inflamações articulares em massagens e fricções. O óleo essencial da citronela tem também sido empregado em coleiras de cães para evitar os ataques de moscas sugadoras e mutucas e até carrapatos e pulgas. Algumas gotas em dois litros de água produzem um ótimo desinfetante tanto para superfícies (pias, mesas, tábuas de carne, etc), como para verduras e legumes. Usado em velas, cremes e loções, o óleo de citronela demonstra uma notável capacidade de repelir insetos e proteger pessoas em áreas de borrachudos, mosquitos e outros voadores picadores.
Com essa capacidade em mente, usar o óleo de citronela combinado com inseticidas pode ser um contrassenso. Se queremos que o inseto entre em contato direto com a superfície onde aplicamos um inseticida, não devemos associar citronela, não é isso? Mas para o profissional controlador de pragas, o óleo de citronela pode ser uma interessante ferramenta para afastar (proteger) um determinado ponto de uma instalação do acesso de pragas, principalmente voadoras. E a planta, pode repelir? A resposta também é afirmativa, obviamente se forem plantadas em pontos aproveitando a direção dos ventos predominantes. Uma vez, recomendei numa granja de aves, que se plantasse pés de citronela intervalados por 1,5m formando uma linha de proteção em torno do galpão das galinhas. Funcionou muito bem! Ajudou bastante a reduzir o problema de moscas. O resto do controle foi químico e manejo adequado.

sábado, 20 de março de 2010

O MISTÉRIO DO FRANGORRATO

Minhas andanças como profissional controlador de pragas nestes últimos 40 anos, me levaram para as mais diferentes regiões do país e sempre tive novas oportunidades de me deparar com problemas verdadeiramente intrigantes e desafiadores. Toda a base teórica do conhecimento desse ramo de especialidade, muito valeu para a busca de solução de cada caso e raramente uma situação ficou sem explicação. Vou lhes contar um “causo” sem final feliz, onde a verdade nunca apareceu. Chamei esse “causo” de - O Mistério do Frangorrato. Vamos lá!
Fui chamado até uma cidade de Sta.Catarina para tentar resolver um incidente no mínimo intrigante. Uma dona de casa foi ao supermercado onde habitualmente se abastecia e adquiriu um frango inteiro frigorificado. O frango congelado adquirido estava devidamente lacrado em sua embalagem original e assim foi levado para a casa dessa senhora que havia planejado um solerte frango com farofa para o almoço dominical da família. Aliás, ela, na verdade, havia comprado dois frangos da mesma marca, ambos de porte avantajado, já que a irmã, o cunhado e dois sobrinhos também estariam presentes no ágape dominical. No dia previsto, a senhora mentalizou o que faria com os frangões (não consegui saber qual a receita que seria usada) e logo cedo os retirou para descongelar. Algumas horas depois, carcaças já descongeladas, essa senhora rompeu a embalagem de um dos frangos, removeu cabeça, pés, fígado e moela que muitos frigoríficos produtores inserem dentro da carcaça, e lavou as peças deixando-as reservadas. Pegou o segundo frangão e já ia proceder da mesma forma quando notou um apêndice estranho apontando do interior da carcaça. Era algo um pouco comprido, cilíndrico, da grossura de um dedo mindinho e com certos anéis em sucessão. Já meio horrorizada, ela aproximou a vista e notou que esse apêndice tinha alguns pelos hirsutos como se fosse uma cauda de algum animal desprovido de penas. Lembrem-se, o filme plástico transparente da embalagem original não havia ainda sido rompido. Parecia uma cauda... e era! Ela, com um grito de espanto e horror, identificou uma cauda de rato! Como? Uma cauda de rato? Que espécie de frango seria aquela que teria uma cauda parecida com a de um rato? Confusão na cozinha, ela chama a empregada e o marido como testemunhas. Pânico geral, por via das dúvidas o frangão retorna rapidamente à geladeira até segunda ordem e a família sai para comer pizza no almoço. Obviamente na segunda feira essa senhora e seu indignado marido iriam ao supermercado para exigir satisfações, levando o frangorrato embaixo do braço. O gerente examinou o réu com muito cuidado e sentenciou que, se a embalagem original estava intacta, como de fato estava, o supermercado não poderia ter culpa no cartório e assim a queixa deveria ser levada ao frigorífico que produziu o frangorrato. Mais ainda, o gerente afirmou que o estabelecimento sentia-se igualmente lesado e que iria pedir ao departamento jurídico um acompanhamento pessoal ao assunto. Dois dias depois desaba no frigorífico que, por sinal, localizava-se na mesma cidade da queixosa, uma verdadeira comissão de injuriados constituída pela vítima principal, seu solerte marido, seu advogado adrede nomeado, o cunhado que queria porque queria servir de testemunha ocular (ou talvez antecipando uma parcela do butim), o Gerente Geral do Supermercado e seu advogado e, obviamente, o frangorrato meio congelado. Recebidos formalmente pelo Gerente de controle de qualidade e dois de seus assistentes, devido à gravidade da situação, e foi realizada uma solene reunião de discussão do assunto. De um lado, o Frigorífico achando, a uma primeira análise, que era "armação" e que a Dona Maria estava querendo dar um golpe; de outro, as vítimas já achando que tinham tirado a sorte grande, e para completar a turma do supermercado querendo ficar de fora nesse "embroglio"! Conversa vai, conversa vem ficou claro diante da prova corporal que o caso do frangorrato era digno de crédito e merecia maiores cuidados. Foi feito um acordo inicial entre as partes, pelo qual o corpo de delito deveria ser submetido a provas e testes laboratoriais e periciais, envolvendo muma polpuda soma em dinheiro que passou rapidamente às mãos da queixosa, de seu marido e, por que não dizer, do cunhado. Sim, o advogado dela também levou uma fatia. Pois bem, agora o frigorífico conseguiu recuperar o frangorrato incriminador e foi à luta. Como e por que esse rato abelhudo havia se introduzido na carcaça do frango?
E foi aí que eu entrei na história, mas que deixarei para contar numa próxima postagem. Não percam!

quinta-feira, 11 de março de 2010

COMBATE A ESCORPIÕES: UMA DISCUSSÃO ANTIGA

Um colega mineiro me escreveu solicitando informações sobre o combate químico aos escorpiões, pois sua empresa tem sido consultada com frequência crescente sobre o problema. Ao mesmo tempo, cita que não pode ficar dizendo a seus clientes que não há nada a fazer, exceto medidas ambientais de prevenção. Contou que ficou numa “saia justa” quando ele deu essa orientação a um cliente que replicou: “- E o que eu faço com as dezenas de escorpiões que já invadiram o perímetro de minha casa e estão em toda parte?”
Para esse colega e para os leitores interessarem, comento:
1) Nas décadas de 50 e 60, os escorpiões eram combatidos (com certo sucesso) através da aplicação de organoclorados como o DDT, o BHC, o Lindane e o Clordane. Biocidas pesados e de amplo espectro, eram na época utilizados contra a maioria dos insetos e aracnídeos, tanto na lavoura quanto nas cidades.
2) Todavia, os organoclorados tiveram seu uso progressivamente limitado até que acabaram proscritos na década de 70. Isso se deveu ao seu persistente poder residual que mantinha esses biocidas por muitos anos no ambiente onde eram aplicados.
3) Por que os organoclorados eram eficazes contra escorpiões, já que esses artrópodes podiam perceber (através de suas organelas quimiorreceptoras situadas nos palpos e no peito) a presença de agentes agressivos no ambiente e assim permaneciam protegidos em seus esconderijos, sem se exporem por até um ano e sem se alimentarem? Porque a persistência no ambiente dos organoclorados era bem maior que apenas um ano e quando, finalmente, por uma questão até de sobrevivência, os escorpiões, vencidos pela fome, se expunham fora de seus abrigos, eram afetados pelos organoclorados ali aplicados e sucumbiam.
4) Depois de proibidos os organoclorados, como combatê-los? Foram tempos difíceis, porque os demais grupos de biocidas existentes na época (organofosforados, piretróides, carbamatos e outros de menor relevância), simplesmente não eram capazes de controlar uma infestação de escorpiões de qualquer espécie.
5) Por que isso acontecia? Os escorpiões eram imunes a esses compostos? De jeito nenhum! Se você pulverizasse diretamente um escorpião com a calda de qualquer inseticida, ele morria. Quer dizer, os escorpiões nunca foram imunes a tais grupos químicos.
6) O que acontece na prática é que os escorpiões nunca estão expostos, dando sopa, a espera que venham lhes borrifar com um biocida qualquer. Estão é muito bem protegidos em seus esconderijos. E esses grupos químicos têm uma meia vida pós aplicados muito menor que os organoclorados. Na verdade, seus efeitos residuais duram apenas algumas semanas. Ora, o que fazem os escorpiões? Simplesmente esperam que o efeito residual acabe e só então saem de seus abrigos para caçar. Por isso é que ficamos algumas décadas sem armas químicas eficazes contra escorpiões.
7) Nesse período, tanto os serviços públicos quanto os controladores particulares só podiam ensinar medidas preventivas - higiene ambiental, não acumulem entulhos que possam servir de abrigo, matem as baratas (principal fonte de alimentação urbana dos escorpiões), cuidado ao vestir roupas em áreas infestadas, etc.
8) Porém, na década de 90, uma nova formulação foi desenvolvida e passou a ser comercializada também no Brasil: os microencapsulados que alteraram radicalmente o combate químico aos escorpiões. Nessa formulação o ingrediente ativo do produto está encerrado dentro de diminutas microcápsulas de um polímero semelhante ao nylon. Dessa maneira, quando aplicamos um microencapsulado, o i.a. não está exposto e assim os escorpiões, incapazes de percebê-lo no meio ambiente, se expõem e deambulam em áreas que foram tratadas. As microcápsulas aderem ao corpo do escorpião e terminam por intoxicá-lo.
9) Portanto, novamente voltamos a ter uma arma eficaz de combate químico ao escorpião e centenas e centenas de casos de infestação de escorpiões foram resolvidos sem mais delongas.
10) Um alerta: pelo menos um dos microencapsulados existentes no mercado tem fraco efeito no controle de escorpiões, porque suas microcápsulas se rompem com facilidade já durante a manipulação do produto e, portanto, quando aplicado no ambiente, alerta os escorpiões os quais, então, não se expõem.
11) Sucede que nem tudo são flores no caminho do controlador de pragas. A instituição máxima da Saúde Pública em nosso país, a ANVISA, no que tange à saúde ambiental, sem ter realizado testes de campo e sem acompanhar a evolução natural do conhecimento, até hoje não recomenda o controle químico contra escorpiões limitando-se às velhas recomendações preventivas. Se fizeram testes, não publicaram os resultados para conhecimento dos técnicos. Apenas se posicionaram contra. Lamentável!
12) Há disponíveis no comércio especializado, pelo menos três produtos que a própria Anvisa concedeu registro como eficientes contra escorpiões. No entanto, a Anvisa não prestou atenção nesse detalhe e desrecomenda o combate químico aos escorpiões. Puro contrassenso.
Em minha opinião como técnico especializado e por ter estudado bastante o combate químico aos escorpiões (tendo inclusive publicado trabalho científico a respeito em co-autoria com o Eng.Agr. Clóvis Yassuda), os escorpiões de qualquer espécie podem ser combatidos e eliminados com a aplicação correta e adequada de certos biocidas microencapsulados de uso profissional exclusivo disponíveis no mercado nacional.
Qualquer coisa em contrário, vão ter que me convencer! Omessa!

terça-feira, 9 de março de 2010

REPELENTE PARA MOSQUITOS (AEDES E CULEX)

Recebi um e-mail interessante sobre um tal repelente para mosquitos feito em casa que gostaria de partilhar com meus leitores. Aviso antecipadamente que não o testei ainda; produzi, mas não tive a oportunidade de testá-lo. O criador, Sr.Ioshiko Nobukuni (nobukuniste@gmail.com) que se autodenominou um sobrevivente da dengue hemorrágica, afirma que os resultados são infalíveis. E denominou o repelente de “Repelente dos Pescadores”. Aí vai (apenas copiei e colei):

FAÇA O REPELENTE DOS PESCADORES EM CASA:
1/2 litro de álcool;- 1 pacote de cravo da Índia (10 gr);- 1 vidro de óleo de nenê (100ml)
Deixe o cravo curtindo no álcool uns 4 dias agitando, cedo e de tarde;
Depois coloque o óleo corporal (pode ser de amêndoas, camomila, erva-doce, aloe vera).
Passe só uma gota no braço e pernas e o mosquito foge do cômodo. O cravo espanta formigas da cozinha e dos eletrônicos, espanta as pulgas dos animais.
O repelente evita que o mosquito sugue o sangue, assim, ele não consegue maturar os ovos e atrapalha a postura, vai diminuindo a proliferação. A comunidade toda tem de usar, como num mutirão. Não forneça sangue para o Aedes aegypti!

Como eu disse, não testei. Será que algum leitor gostaria de “servir de cobaia” e depois nos contar se funcionou mesmo? A comunidade agradece!

domingo, 7 de março de 2010

CRENÇAS E CRENDICES Parte III

- As três espécies de roedores urbanos (sinantrópicas) nunca são encontradas no mesmo ambiente, porque os ratos pretos (R.rattus) eliminam os camundongos (M.musculus) e as ratazanas (R.norvegicus) eliminam os ratos pretos, certo? Errado! Embora não tão freqüente, podemos sim encontrar as três espécies comensais compartilhando o mesmo ambiente, bastando que cada espécie ocupe um nicho diferente e haja alimento à vontade para sustentar todas as diferentes colônias. De fato, a ratazana por ser de maior porte e mais agressiva, prevalece sobre ratos pretos e camundongos e os elimina em confrontos diretos. Sucede que esses confrontos raramente acontecem, primeiro porque as duas espécies menores, ao perceberem que seu território foi invadido por ratazanas, procuram imediatamente fugir e saem em busca de outro local onde possam estar mais seguras. E segundo, porque cada espécie tem seu nicho próprio: as ratazanas procuram o subsolo para fazer suas tocas e ninhos, os ratos pretos buscam permanecer longe do solo e os camundongos procuram aninhar-se em desvãos diminutos. Vi dois tipos de situações onde as três espécies conviviam. Uma foi em um Supermercado onde alimento não era problema para nenhuma das espécies infestantes; ratos pretos no forro de onde desciam somente para se alimentar, ratazanas em tocas escavadas nas junções de paredes e piso da área de serviço, entrando e saindo na área comercial e camundongos alojados em motores de balcões e gôndolas frigorificadas. A outra situação foi em granjas (avícolas e suinícolas) onde a ração dos animais provia todo o alimento que os roedores infestantes necessitavam: ratazanas esburacando o solo, ratos pretos alojados nas estruturas de sustentação dos telhados dos galpões de criação e camundongos aninhados nas pilhas de sacos de ração e de outros materiais. Portanto, ao inspecionar alguma instalação em busca de sinais que lhe permitam identificar a espécie infestante, admita a possibilidade de existir outras espécies presentes e procure as evidências. Lembre-se: as técnicas de combate são diferentes para cada espécie comensal.

- “As baratas têm os olhos tão desenvolvidos que conseguem enxergar em plena escuridão”. Não mesmo! Sendo um inseto noturno, as baratas não se orientam pela visão quando em plena escuridão. Para começar, as baratas tornaram-se ativas durante a noite e escondem-se durante a luz do dia, para terem mais chances de escapar de seus predadores que são incontáveis. Afinal, devido ao alto teor protéico das baratas, são elas alvos permanentes de uma série de predadores naturais: qualquer ave aprecia uma barata no almoço com destaque para as galinhas, incansáveis ciscadeiras, gatos brincalhões adoram treinar suas patadas em fugazes baratas que se expõem indevidamente, até ratos podem se aproveitar de um momento de descuido e mastigar uma barata mais lerda. Durante a noite, as baratas, tão permanentemente em risco durante o dia, podem relaxar e sair em busca de alimentos e água. Mas, isso se não houver algum voraz escorpião por perto, um aracnídeo também noturno. Como a escuridão impede a boa visão (exceto para os caçadores noturnos que desenvolveram a chamada “visão noturna” como os felinos, jacarés, corujas e cobras), a opção evolutiva das baratas foi desenvolverem outros sentidos e, quando na escuridão, orientam-se através do tato e do olfato (ambos situados em suas antenas). Seus olhos são relativamente pequenos e situados na cabeça que fica sempre fletida para baixo, abrigada por um escudo protetor. Portanto, baratas não enxergam bem no escuro.
Aliás, aí vai uma pitada de Cultura Inútil: os romanos dos primeiros tempos de sua civilização, chamaram as baratas de “lucífugas” (as que fogem da luz) e só mais tarde é que mudaram o nome para “blatta”.

quarta-feira, 3 de março de 2010

EXTRA, EXTRA: A RDC 52 VAI SER ALTERADA!

Acabo de saber que o item 9 da Seção III da RDC 52, o item mais crítico da Portaria, vai ser alterado. A Feprag e outras Associações de controladores de pragas estiveram em Brasília em contato direto com a Anvisa e conseguiram convencer as autoridades que a redação dada a esse item é bastante prejudicial aos interesses das empresas. Na verdade, tornou o negócio inexeqüível comercialmente (veja referência anterior neste mesmo blog postada em 17/02/2010).
A redação atual proíbe a instalação de empresa desinfestadora em prédio ou edificação de uso coletivo, seja residencial ou comercial, e em áreas adjacentes a residências ou locais de alimentação, creches, escolas e hospitais...
A nova redação, ao que parece, vai apenas proibir a instalação no mesmo prédio em que funciona estabelecimento de uso coletivo. Todavia, devemos esperar que a modificação seja publicada no Diário Oficial da União para que tenha valor legal e possamos comemorar dignamente.

PARA CONTROLAR BARATAS, INSETICIDA GEL/PASTA OU CALDA ?

Há uns 15 anos atrás mais ou menos, chegaram no Brasil os baraticidas em forma de pasta ou gel. Antecipados pelas notícias de sucesso no mercado norteamericano, essas então novas formulações foram bem aceitas por nossos profissionais desinfestadores. Afinal, era a grande novidade do mercado e como tal foi bem recebida por alguns (os progressistas) e nem tanto por outros (os conservadores). Lembro-me do esforço que o velho amigo Cenise (da Sol, distribuidora) teve que fazer para difundir e popularizar o Siege, então da Cyanamid e hoje da Basf, a primeira marca comercial lançada em nosso mercado. Foram dezenas e dezenas de reuniões, palestras técnicas e lançamentos comerciais em diferentes cidades brasileiras. Era preciso literalmente ensinar o novo conceito de substituir as costumeiras pulverizações por aplicação de pontinhos de pasta ou gel. O Siege (palavra inglesa de origem francesa que significa “cerco”) vinha até com um coldre e uma pistola dosadora remetendo à imagem de um sherife do velho oeste americano, obviamente apoiado em um plano de marketing que não havia sido adaptado à nossa cultura. Pouco tempo depois surgiram outros produtos similares e essas formulações acabaram por demonstrar sua eficiência e eficácia, umas mais e outras menos. A discussão inicial se aquela nova proposta para controlar baratas era melhor ou pior do que a pulverização de caldas inseticidas, perdura até hoje em certos núcleos de profissionais desinfestadores. O que se sabe, ao certo, é que ambas as técnicas podem ser eficientes, na dependência das condições ambientais onde o combate será travado, do grau de infestação, do manejo dado ao ambiente, do grau de treinamento dos operadores, da qualidade dos biocidas selecionados, da urgência na obtenção de resultados e outros fatores mais. Há vantagens para cada método e desvantagens também. Certamente, a pulverização de uma calda inseticida diretamente nas frestas, nichos, gretas e reentrâncias produzirá um resultado mais rápido e abrangente, porém o emprego de baraticidas gel ou pastas provocará bem menos distúrbio no ambiente tratado, contaminando-o significativamente menos e não tem necessidade de período de interdição. Cabe ao profissional avaliar os prós e contras de cada metodologia em função do ambiente a ser tratado para tomar sua decisão. Pense bem, não raro, a adoção das duas abordagens em tempos diferentes pode ser a chave do sucesso. Hoje já se fala até na aplicação de dois produtos em gel, aproveitando os melhores benefícios de cada (vide revista Vetores&Pragas Ano XII n°.23, pgs 22 -24). Quem decide é o leitor, afinal.

Contudo, cabe uma última discussão sobre essa formulação sólida; gel ou pasta? São diferentes e apresentam resultados diferentes? Vamos lembrar que pasta é uma formulação de base aquosa, enquanto o gel é uma formulação à base de derivados de petróleo. Os géis não desidratam e nem escorrem em ambientes quentes como cozinhas comerciais ou industriais. As pastas são mais úmidas, sofrem fermentação e por isso atraem mais as baratas. Mais uma vez chamo a atenção dos leitores: como em todos os ramos, há bons e maus produtos. No nosso ramo contudo, os resultados obtidos são fortemente influenciados pela qualidade do biocida empregado. Portanto, avalie bem a questão custo-benefício antes de decidir-se por este ou aquele produto. Para isso mesmo que você é um profissional desinfestador, afinal!