sábado, 27 de fevereiro de 2010

BOAS PRÁTICAS OPERACIONAIS PARA DESINFESTADORAS

A Internet tornou-se progressivamente uma ferramenta de trabalho (e também de laser) nas duas últimas décadas. Hoje, já é raro encontrarmos uma empresa que se preze, por menor que seja, que não esteja equipada minimamente com um computador envolvido em dezenas de tarefas de controle e de planejamento. Por extensão, a maioria dos profissionais desinfestadores ambientais faz uso de um PC (computador pessoal) ou de um notebook, um instrumento precioso no exercício de seu trabalho.
No mundo, o uso de computadores pessoais ou empresariais tornou-se corriqueiro e o profissional que deseja estar permanentemente antenado em tudo o que acontece em nosso planetinha, especialmente no seu ramo de trabalho, conecta-se diariamente à web para diferentes fins. Um interessante instrumento accessível a qualquer pessoa que deseje, são os livros virtuais, conhecidos internacionalmente como “E-Books”. Há centenas de sites que oferecem a possibilidade ao interessado de baixar um livro completo e mantê-lo em seu computador para livre consulta quando deseje. Fantástico! Posso montar, por exemplo e se eu quiser, uma verdadeira biblioteca sobre os assuntos de meu interesse, ao toque de algumas teclas seguindo as orientações seqüenciais necessárias.
No Brasil, em língua portuguesa, já há incontáveis E-Books disponíveis na Internet, mas não havia até agora nenhum livro técnico sobre o controle de pragas e assuntos correlatos a esse ramo de atividade profissional. Eu disse... não havia! Pois acaba de ser lançado o primeiro E-Book técnico dessa especialidade em nosso país, em língua portuguesa. Trata-se do GTO 02 (Guia Técnico Operacional) “Boas Práticas Operacionais para Empresas Controladoras de Pragas”, um livro impresso lançado há alguns anos atrás que se esgotou rapidamente e não havia ganho uma segunda edição até agora. Só que desta vez, o livro está sendo apresentado na forma moderna de um E-Book que pode ser baixado diretamente no computador do profissional interessado, onde ficará permanentemente à disposição para leitura e consultas quando for desejado.
Alojado no site especializado em controle de pragas - PragasOnLine – o E-Book pode ser adquirido bastando seguir as instruções de procedimento.
Esse livro é de autoria deste blogueiro e foi escrito para ajudar às empresas desinfestadoras ambientais nos meandros da exigências legais desse ramo de atividade, seja para instalar-se, seja para corrigir não conformidades. Procurei abordar a maioria dos quesitos que as Vigilâncias Sanitárias buscam para fiscalizar o correto cumprimento das disposições legais. É, portanto, um auxiliar no cumprimento dessas disposições. Mas, há também, outras iniciativas comentadas no livro, baseadas apenas no bom senso.
Para fazer o download desse E-Book (baixar), basta acessar o site do PragasOnLine e seguir as instruções. Anote: www.pragas.com.br

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

RDC 52 – MAIS DÚVIDAS!

Nossa leitora Ivone da Extermipest postou um comentário na matéria sobre o óleo Nim (vide abaixo), com uma dúvida sobre a RDC 52, que copio e respondo neste outro post.
Diz Ivone:
“Gostaria de tirar mais uma duvida sobre a RDC 52 de 22/10/09 inciso V ref. licença ambiental. Pois na portaria 9 de 16/11/200 não tenho certeza mais parece que não tem nada sobre esse assunto. Já liguei na vigilância sanitária da minha cidade e eles não sabem, de nada, liguei também na cetesb e ele também nem sabiam disto. Achei estranho! O senhor pode me orientar quanto a isso ou algum lugar que eu poderia me informar?
Respondo:
Eis outro ponto muito controverso na RDC 52. A rigor, pelo que está disposto nessa Resolução, as empresas deveriam se registrar, além da Secretaria de Saúde Estadual, também na Secretaria de Meio Ambiente Estadual, ou qualquer outro órgão equivalente de acordo com o Estado envolvido. Ao que parece, entretanto, nenhuma Secretaria Ambiental estava informada de que teria que conceder licença ambiental também para empresas desinfestadoras e, não estavam, como não estão, preparadas para tanto. Quer dizer, mais uma vez a legislação veio de cima para baixo, imposta à revelia e sem planejamento. Grande novidade! Não é à toa que a Cetesb (órgão ambiental do Estado de São Paulo) afirmou desconhecer o assunto! Essa questão é dúbia e faz parte do pacote de discussões que a Feprag e algumas Associações de Controladores de Pragas de alguns Estados estão tendo com a Anvisa. Esse item ainda não pode ser formalmente cumprido pelas empresas desinfestadores, na data em que faço este comentário. Portanto, minha recomendação é que devamos aguardar um pouco mais para que essas coisas se aclarem ou sejam revistas. Esperamos que isso ocorra logo!

CRENÇAS E CRENDICES Parte II

- Não, não há “suicídios” entre os escorpiões. Mas os exibicionistas adoram demonstrar que o escorpião se suicida! Colocam o pobre escorpião no centro da mesa de botequim, despejam um pouco de cachaça em volta do infeliz formando um círculo e ateiam fogo. O escorpião, aturdido, permanece quieto, aos poucos sua cauda vai se encurvando, se encurvando em direção à cabeça, onde o ferrão acaba tocando. E o escorpião morre durinho. Pronto! A roda de manguaceiros explode em risadas e piadinhas (“- Bem que minha sogra poderia ter ferrão, porque venenosa ela já é!” ou “- Vou fazer uma roda de fogo em volta da minha mulher”). Mas, o testemunhado “suicídio”do escorpião é pura crendice. Na verdade, sob a ação das altas temperaturas geradas pelo círculo de fogo em torno de si, o escorpião rapidamente se desidrata e as placas do sua carapaça se contraem e se encaixam umas nas outras, fazendo com que a cauda se retorça aparentemente em direção à cabeça. Quando o ferrão encosta na cabeça (às vezes isso não acontece porque a cauda se retorce em outra direção), o infeliz do escorpião já estará mortinho, com os requintes de crueldade dos mentecaptos observadores e praticantes da cena. Suicídio... mas que besteira!

- E já que estamos falando de crendices, não custa comentar que morcego não é uma espécie de “rato voador”. Nada a ver! São dois gêneros completamente diferentes. De comum, ambos são mamíferos e é só. Na classificação sistemática (científica) ambos pertencem à Classe Mammalia, mas as Ordens já são diferentes: o morcego pertence à Ordem Chiroptera (chiro=mão; ptera=asa) e os roedores pertencem à Ordem Rodentia (que roe). A confusão talvez venha dos antigos romanos que, ao nomearem aquele animal, assumiram que ele era um rato que voava: morcego = do latim “rato cego que voa”. A julgar pelos fósseis já encontrados, os morcegos desenvolveram-se na Terra há muito mais tempo que os roedores, ou seja, morcegos já existiam a 60 milhões de anos atrás (final do período Cretáceo, início da era Cenozóica) enquanto que os roedores fizeram sua aparição na forma com que os conhecemos, há apenas 13 milhões de anos (período Pleisto-Pliocênico). O morcego é o único mamífero que voa e rato caminha pelo chão e ligeirinho, para não virar jantar de algum predador qualquer (e são muitos os que buscam roedores para se alimentar). Uma vez ouvi de uma platéia a afirmação que morcego era o rato que morria e criava asas! Até hoje não cheguei à conclusão se o palpiteiro falava sério ou se estava me gozando...
Fiquei quieto e apenas esperei as risadas acabarem.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

RDC 52: MAIS DISCUSSÕES EM ANDAMENTO

Em post anterior, onde comentei sobre a oficialização da RDC 52, a nova legislação baixada pela ANVISA/MS que passou a regulamentar em nível federal as atividades das empresas controladoras de pragas, prometi que analisaria bem o conteúdo dessa nova regulamentação e o comentaria. Bem que tentei, mas surgiram algumas dúvidas que preciso entender antes de me manifestar. Essas dúvidas não são só minhas, obviamente, e as entidades que representam os profissionais e as empresas desinfestadoras, tais como a Feprag (a federação que congrega as associações estaduais) e diversas dessas associações, estão se mobilizando para tentar aclarar e mesmo modificar certos parágrafos e itens da RDC 52. Várias reuniões já foram feitas nesse sentido e uma posição de consenso já foi apresentada à Anvisa que mostrou-se receptiva à argumentação. O parágrafo mais polêmico é o 9º (Seção III – Das instalações), o qual dispõe que... “é vedada a instalação do estabelecimento operacional em... e em áreas adjacentes a residências ou locais de alimentação, creches, escolas e hospitais...”. Aí está o principal ponto de controvérsia. Imaginem a seguinte situação: um empresário investidor decide comprar um terreno para instalar uma empresa desinfestadora; verifica a legislação e descobre um terreno que não tem nem escola, nem creche, nem hospital e nem nada nos terrenos adjacentes, como manda a RDC 52. Adquire o terreno, constrói as instalações operacionais, investe e começa a trabalhar. Daí, um belo dia, uma escola, por exemplo, compra o terreno adjacente e constrói sua sede. Pronto! Quem fica fora da lei? A empresa desinfestadora, mesmo que lá estivesse há anos. Evidentemente essa disposição é incongruente e deve ser modificada até por bom senso, se não por outra razão. Por isso a Feprag, em nome das associações que representa e várias delas igual e diretamente representadas no movimento, estão batalhando para que seja alterado o tal Artigo 9º da Seção III. Quem sabe já nas próximas semanas tenhamos uma definição por parte da Anvisa sobre o assunto. Assim que eu souber de alguma coisa, comunico a vocês, OK?

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

DESCOBERTO FÓSSIL DE PEQUENO ROEDOR COM 8 MILHÕES DE ANOS


No centro do Estado de Utah/Estados Unidos, no Condado de Sevier, há um sítio muito freqüentado por paleontologistas (especialistas em fósseis) em busca de novas descobertas, pois a composição do terreno favorece a conservação de fósseis. Esse sítio foi localizado em 1996 por um casal de paleontólogos amadores, Jeff e Denise Roberts, e, desde então, ali já foram descobertos fósseis de ancestrais de camelos, de carnívoros e até de elefantes. Pois agora, um relatório publicado na edição de janeiro da revista científica Journal of Vertebrate Paleontology, nos dá conta que nesse sítio foi descoberta uma pequena hemimandíbula de um roedor ancestral, contendo um dente incisivo e dois molares. Don DeBlieux, o paleontologista coautor do relatório, denominou a nova espécie extinta como Basirepomys robertsi, naturalmente homenageando o casal de descobridores do sítio.
É... roedores estão neste planetinha há muito tempo!
(Fonte: Deseret News / Colaboração: Lucy Figueiredo)

domingo, 14 de fevereiro de 2010

CRENÇAS E CRENDICES (PARTE I)

Vez ou outra, nas minhas andanças, deparo-me com algumas confusões conceituais de colegas profissionais controladores de pragas, seja por repentinos lapsos de memória, seja por mera desatenção, seja porque apenas repete o que ouviu dizer, seja por desconhecimento de causa mesmo. O fato é que alguns profissionais citam certas pragas como causadoras deste ou aquele problema, em completo desacordo com o conhecimento técnico já existente. Por exemplo: roedores transmitindo a Raiva, Leptospirose via latinha de cerveja, baratas como transmissoras eventuais da Febre Amarela e por aí vai. Então, até para surpresa de alguns, vamos ver se esclarecemos algumas dessas crendices e embasar certas crenças.
- Roedores são transmissores potenciais de 32 doenças ao homem (zoonoses) e a outros animais, mas não os incriminem pela transmissão da Raiva. O vírus rábico, potencialmente perigoso e mortal para todos os mamíferos já estudados, ao penetrar de alguma forma em um roedor (coisa meio difícil de ocorrer na Natureza), provoca uma sintomatologia algo diferente. Ao invés de passar pela fase furiosa (fase em que cães e gatos por exemplo tornam-se extremamente agressivos e mordem transmitindo o vírus pela saliva), passa direto da fase prodrômica (a fase inicial onde o vírus apenas se multiplica dentro do hospedeiro) para a fase paralítica. Quer dizer um rato que contrai o vírus rábico não fica agressivo e em pouco tempo já tem as paralisias que a doença provoca; nessa condição, esse rato sequer poderia morder, mesmo que quisesse. Resultado: os roedores não transmitem a Raiva. Tanto que a OMS – Organização Mundial da Saúde – há décadas deixou de indicar tratamento antirrábico para vítimas de mordeduras de roedores.
- Latinhas de cerveja não causam a Leptospirose. Até que poderiam, sob condições muito especiais e particulares, pouco prováveis de ocorrer na prática. A Leptospirose, uma zoonose (doença transmitida ao homem por animais) muito comum em nosso país, especialmente em grandes cidades sujeitas a enchentes nas estações chuvosas, é causada por uma bactéria (espiroqueta) denominada leptospira com inúmeras espécies diferentes. Na Natureza, essas bactérias adaptaram-se perfeitamente aos roedores como seus hospedeiros permanentes, a tal ponto que neles, essas bactérias sequer provocam doença; passam a viver muito bem, alojadas nos rins dos roedores e ali se multiplicam. O roedor assim contaminado, nada sente, mas cada vez que urina, milhares de leptospiras saem para o meio externo onde vão aguardar uma oportunidade de penetrar em outro hospedeiro. No meio ambiente onde foram depositadas junto com a urina do roedor contaminado, as leptospiras permanecem por algum tempo vivas; inicialmente a própria urina, um meio líquido, as protege, mas quando a urina seca, as leptospiras têm pouco tempo de vida. Se caíram em um local úmido, sombreado e quente, vão conseguir sobreviver até uma semana ou pouco mais. Mas, se caíram em meio seco, ensolarado ou frio, sobrevivem apenas por alguns minutos. Pois bem, uma tampa lacrada de uma latinha de cerveja não é exatamente úmida, quente e escurinha, onde a leptospira pudesse sobreviver aguardando uma boca sedenta e incauta que pudesse removê-la. Ao contrário, ali é um local seco, exposto e, muito provavelmente gelado antes que venha o bocão da vítima. Mas, vamos ainda assim supor que de alguma forma essa leptospira conseguisse sobreviver na tampa da latinha de cerveja, embora eu não possa imaginar como. Vamos imaginar também que nosso bebedor estivesse com tanta sede que nem esperou a cerveja gelar. Vamos imaginar que ele (a vítima) não tivesse sentido o forte odor acre da urina de rato na tampa, embora ela estivesse a centímetros de seu nariz. Vamos imaginar que tudo isso aconteceu e que o incauto cidadão bebeu a cerveja e com ela, leptospiras que alegremente conseguiram seu intento de penetrar em um mamífero (ou deveríamos dizer “cervejífero”?) antes de morrerem. Caem no estômago de nosso amigo e ali, imediatamente vão ser eliminadas pelo suco gástrico tremendamente ácido por natureza. Quer dizer, são tantas as variáveis que deveriam ocorrer para que uma pessoa pudesse adquirir leptospirose a partir de uma latinha de cerveja, que muito dificilmente ocorreria esse caminho todo. Impossível, então? Bem, em biologia não existem as palavras “sempre”e “nunca”. Vai que o cidadão tivesse uma ferida aberta na boca ou uma úlcera esofagiana ou estomacal. Por aí as leptospiras poderiam eventual e remotamente penetrar, mas é bem pouco provável, bem pouco mesmo! Portanto, sempre é bom lavar a latinha da cerveja (ou do refrigerante) antes de ir colocando o bocão sedento para beber, mas por razões higiênicas, muito mais do que por medo de contrair leptospirose. Bebam sem medo! Mas com moderação sempre.
Obs: conseqüentemente, aquela história que circulou pela Internet do pai de uma famosa modelo que teria morrido (ele, não ela, a qual continua vivinha da silva para deleite de nossos olhos) por ter contraído leptospirose a partir de uma lata de cerveja, é conto-da-carochinha, mesmo porque aquela matéria que foi pretensamente atribuída a um professor de epidemiologia da Unesp, foi repudiada pelo indignado e incriminado autor, que afirmou que seu nome foi ali colocado por alguns estudantes, por brincadeira.
Crenças e crendices são tantas que vamos repartir o assunto em tópicos subsequentes, para que a gente possa comentar cada uma delas. Outro dia prosseguiremos com esse tema, OK?


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O “MISTÉRIO DA GOIABADA”: OUTRO “CAUSO” A SER CONTADO


Nessa vida de mais de 40 anos controlando pragas urbanas e rurais, fui observador testemunhal, ou muito de perto, de uma porção de “causos” interessantes e que ficaram guardados na memória. Em postagem anterior (veja abaixo) contei um causo do mistério da panela de arroz. Hoje vou contar o “mistério da goiabada”.
Um dia, recebi um chamado de uma grande indústria paulista solicitando uma consultoria urgente em sua fábrica de enlatados, pois havia aparecido um rato dentro de uma lata de goiabada, cheia! Ouvindo o relato inicial, de imediato denominei o assunto de “o mistério da goiabada” e lá fui eu me sentindo um verdadeiro Sherlock Holmes tupiniquim. Resumindo a história, uma senhora havia comprado uma lata de goiabada daquela marca em um Supermercado e, ao abri-la em casa, deparou-se com um camundongo inteirinho mergulhado no doce. É, um Mus musculus de cabo a rabo! Entre horrorizada e irritada, voltou ao supermercado para reclamar e exigir reparações. Naturalmente o estabelecimento comercial negou qualquer responsabilidade ou envolvimento no problema e igualmente posicionou-se como vítima, recomendando que a senhora reclamasse seus direitos junto ao fabricante. Foi o que ela fez em seguida. A indústria recebeu a denúncia com enorme preocupação, pois uma eventual divulgação pela imprensa desse fato causaria um prejuízo de enormes proporções à sua imagem, que seria arranhada, com reflexos imediatos no volume de vendas. Após algumas reuniões com a interessada e seu advogado (naturalmente ela já havia constituído um representante legal), houve acordo entre as partes envolvendo uma certa compensação financeira (não fiquei sabendo quanto, mas deve ter sido bastante) mais o fornecimento de uma linha completa dos produtos dessa Indústria por um ano. Em troca, a senhora entregou a famigerada lata de goiabada temperada com o nefasto camundongo e assinou um termo de confidencialidade. Pois bem, a partir desse momento entro na história. Logicamente a indústria precisava saber como o camundongo terrorista havia se infiltrado na goiabada sem ser convidado, para evitar a repetição do fato. Resumindo, no processo de fabricação do doce enlatado, a goiabada era preparada a quente (muito quente) em caldeirões de mistura e de lá, através de tubulações, a massa era empurrada para bicos que injetavam quantidades predeterminadas em cada lata aberta que passava abaixo em uma esteira rolante, numa determinada velocidade. Mais à frente, na mesma esteira rolante, as latas eram recolhidas por outra máquina que cravava as respectivas tampas e elas seguiam para o empacotamento em caixas de despacho, tudo automatizado. Fui verificar e observei que o bico de injeção tinha um diâmetro por onde nenhum camundongo poderia passar, mesmo empurrado. Verificando a lata em questão, notei que o tal camundongo estava completamente incluído na massa, evidenciando que ele ali entrara quando a massa ainda estava quente e na forma pastosa. Verifiquei também que havia goiabada sob seu corpo, o que demonstrava que ele não estava na lata quando a massa foi depositada. E assim fui tentando eliminar as possibilidades, já que a explicação não era tão aparente. Claro, minha primeira suspeita havia sido de uma infestação por camundongos naquela área da indústria. Pois, por mais que eu procurasse as evidências de infestação murina, não encontrei absolutamente nada. Ademais, a indústria mantinha sob contrato uma empresa controladora de pragas (boa, por sinal), que sustentava um programa permanente de controle, com visitas quinzenais. Excluídas as possibilidades de queda acidental do camundongo dentro da lata, naturalmente a suspeita seguinte era que ele poderia ter sido “plantado” por algum operário. Difícil dizer, pois não havia qualquer evidência que pudesse comprovar essa teoria! Quebrei a cabeça e não conseguia inicialmente encontrar um meio de comprovar ou não essa hipótese. Essa suspeita era importantíssima para a indústria, pois o mesmo operário poderia repetir a façanha, com conseqüências imprevisíveis. Que mistério danado, esse. Felizmente, tive um lampejo: se o estômago do infeliz contivesse alimento (teria, se ele houvesse se alimentado logo antes de finar-se), eu poderia mandar examinar esse conteúdo gástrico para apurar se era de alimentos encontrados na indústria ou não. Em caso positivo, a evidência seria de que o camundongo era residente na indústria. Em caso negativo, obviamente ele teria sido trazido de fora e “plantado” na lata de goiabada. Entrou aí um golpe de sorte, havia conteúdo estomacal! A vida me ensinou que um pouco de sorte ajuda um bocado! O instituto Adolpho Lutz de São Paulo efetuou essa análise e o laudo mostrou que o conteúdo estomacal era de alimentos tais que... não existiam na indústria. Tradução: o camundongo havia sido trazido de fora e introduzido na lata de goiabada de forma criminosa, com intenção específica de prejudicar a indústria. Assim, fechei meu relatório final para o que havia sido contratado. Não havia muitos operários nessa linha de produção, de sorte que a indústria prontamente tinha seus suspeitos. Mais tarde fiquei sabendo que, de fato, um determinado operário julgando-se prejudicado em alguma questão com a indústria ou mesmo uma desavença com seu chefe, planejara o crime trazendo um camundongo apanhado por uma ratoeira em sua casa e do bolso de seu uniforme, havia sido transferido para a tal lata de goiabada.
O mistério da goiabada acabara de ser resolvido. “- Elementar, meu caro Watson!”