quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

SOBRE O USO DO ÓLEO DE NIM NO CONTROLE DE PRAGAS

Ivone, uma colega e leitora deste blog, postou um comentário na matéria do feijão cru como raticida (vide abaixo) citando o pretenso uso do óleo de nim como inseticida por parte de empresas de controle de pragas. Como eu já havia recebido uma outra consulta sobre esse tema, resolvi transformar minha tréplica em um breve sumário desse tema, para conhecimento de leitores que ainda não ouviram falar do óleo de nim, que aqui segue.
Na Índia, possível local de sua origem, existe uma árvore frondosa que vive em média 200 anos que é um espanto: dela tudo se aproveita: frutos, sementes, folhas e caule. Naturalmente, o maior produtor de nim no mundo é a Índia, onde é conhecida há mais de 5.000 anos, mas o Brasil vai muito bem obrigado no cultivo do nim, introduzido em 1990, contando hoje com mais de 6 milhões de árvores plantadas. O nim tem propriedades notáveis em diversos tipos de uso que hoje dela se faz. Chama-se cientificamente de Azadirachta indica e é internacionalmente conhecida como árvore neen, aportuguesado para nim. A principal substância extraída do nim, é a azadiractina que nos interessa nesta abordagem como inseticida. Essa proteína vegetal tem sido amplamente estudada no mundo todo e a cada dia descobre-se um novo uso para proveito humano. Por exemplo, ela é usada até em cosméticos como shampoos (tônico capilar), sabonetes (sarnicida, antimicótico e outras afecções dermatológicas), pasta de dente (bactericida), etc. Na agricultura, a azadiractina é amplamente utilizada no combate e controle de uma grande variedade de insetos e outras pragas comuns (mais de 400 pragas). Na pecuária, tem sido utilizada com sucesso como carrapaticida e no controle da mosca dos chifres (o gado recebe folhas trituradas misturadas ao sal e o ingrediente ativo passa a circular no sangue do animal, de onde é sugado por certos ácaros e insetos hematófagos, onde vai atuar). Portanto, a azadiractina é extremamente versátil. Mas, vamos ao que nos interessa no momento.
A azadiractina, muito empregada na forma de óleo (conhecido como óleo de nim), é um inseticida botânico do grupo dos tetranortriterpenóides (da classe liminóide) extraído da árvore Azadirachta indica e é compatível com muitos inseticidas (onde atua como sinergista) e fungicidas. Aliás, esse estudo de compostos botânicos como adjuvantes e sinergistas para inseticidas, tem produzido inúmeras substâncias muito interessantes como a salanina, a gedunina, o azadirone, a nimbina, a nimbidina e o nimbirol, para citar apenas algumas. Desde o antigo e muito empregado butóxido de piperonila, muita coisa nova surgiu efetivamente!
A azadiractina já foi registrada nos Estados Unidos como inseticida geral com classificação toxicológica de grau IV (relativamente não tóxico). Portanto, é falsa a afirmação de seja “atóxico”, fazendo então companhia ao feijão cru! Essa substância é similar a um hormônio natural dos insetos chamado de ecdisona, o hormônio responsável pela mudança de estágio durante seu desenvolvimento. Quando chega o momento da larva (ou ninfa) mudar de estadio juvenil, o nível do hormônio ecdisona sobe provocando inibição dos hormônios juvenis e assim ocorre a mudança de fase. A cada novo estadio o fenômeno se repete até que finalmente chega a forma adulta do inseto. Pois, a azadiractina bloqueia a síntese da ecdisona que não é produzido mais no organismo do inseto depois da ingestão da azadiractina, resultando uma severa interferência no seu desenvolvimento, levando-o à morte por inviabilidade biológica. A azadiractina tem uma atividade inseticida bastante curta de 7 a 10 dias, mas pode se prolongar dependendo da concentração em que foi utilizada e do inseto alvo. Sua DL50 (toxicidade) está entre 3.540 e 5.000 mg/kg e é preciso que o inseto ingira a azadiractina para que ocorra o efeito adverso; não há registro de absorção através da cutícula e, portanto, não tem efeito de contato. Dessa forma, aranhas, por exemplo, não são afetadas por esse inseticida. Aliás, a maioria esmagadora dos estudos de controle de pragas com o óleo de nim, aborda pragas agrícolas e não domésticas. Há um estudo sobre baratas americanas (Periplaneta americana) onde foi demonstrado seu efeito como redutor de desenvolvimento e diminuição dos ovos férteis. Em pulgas retarda o desenvolvimento, tem efeito repelente e provoca a produção de ovos inférteis. Em certas moscas, retarda o desenvolvimento e é tóxico para larvas. Ah, sim, não é fitotóxico (não afeta plantas).
Então, com tal perfil, por que não usamos mais o óleo de nim no controle de pragas aqui no Brasil? Poderia, mas seu custo ainda é alto e não há muitos estudos mais profundos sobre seu efeito prático em insetos domésticos. Algumas empresas desinfestadoras estão adicionando o óleo de nim a seus inseticidas como sinergista, mas ainda de forma um pouco empírica. Outras estão tentando utilizá-lo substituindo inseticidas químicos, em uma abordagem de menor risco ambiental. E há, infelizmente, outras que dizem empregá-lo (embora não o façam) como mero apelo de marketing, Tradução = propaganda enganosa!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

POSSO USAR FEIJÃO CRU COMO RATICIDA?

Novamente recebo outra consulta sobre o possível uso de feijão cru como raticida. Tenho respondido essa questão repetidamente e até preparei uma nota a respeito que foi veiculada pelo site pragas.com.br há alguns meses atrás. Tudo começou com um trabalho científico publicado em 1994 de autoria do Prof. Pedro Antunes e outros pesquisadores em conjunto da Universidade Federal de Pelotas/RS, FAEM / Depto. de Ciência e Tecnologia Agroindustrial. Eles estavam analisando na época o valor nutricional de quatro cultivares de feijões similares entre si comumente encontrados no comércio brasileiro (Rico 23, Pirata 1, Rosinha G2 e Carioca) e também os fatores antinutricionais como a antitripsina e a lectina (duas proteínas tóxicas existentes em todos os feijões). Nesse ensaio, ratos brancos de laboratório (albinos da espécie Rattus norvegicus) foram submetidos a uma dieta obrigatória e exclusiva desses cultivares de feijão cru e os pesquisadores apresentaram suas conclusões. Sucede que todos os ratos do estudo morreram depois de comer bastante feijão cru, aliás, como seria de se esperar dada à presença daquelas substâncias tóxicas no feijão ainda cru. Eis que 14 anos depois dessa publicação, alguém pensou que se o feijão cru matou os ratos de laboratório, poderia matar também ratos selvagens a um custo, digamos, bem mais barato! E, confundindo de maneira desinformada as coisas, imaginou que em sendo feijão (coisa que o brasileiro come quase todos os dias), havia “descoberto a pólvora”: um alimento barato que seria tóxico só para os ratos. Nada poderia ser mais ecológico e seguro! De maneira totalmente desinformada a tal “novidade” começou a circular pela Internet dando o resultado como certo e promovendo o “novo raticida” como ecológico, atóxico e seguro para seres humanos. Alguns sites e blogs até técnicos reproduziram o refrão, de forma precipitada e sem maiores verificações.
Vamos, mais uma vez, aclarar essa questão. Primeiro, o feijão cru está longe de ser seguro e atóxico para seres humanos! Ao contrário, é bastante tóxico e pode levar um ser humano à morte se ingerido em certa quantidade. A razão é a presença de duas proteínas tóxicas (lectina e antitripsina) no feijão cru que são desnaturadas durante o cozimento, razão pela qual o feijão cozido não causa efeitos tóxicos em quem o ingere. Se aqueles ratos do ensaio tivessem comido feijão cozido ao invés de cru, estariam vivinhos da silva até hoje! Provavelmente, mais gordinhos. O Prof .Pedro Antunes inquirido sobre essa versão apócrifa que circula na forma de post na Internet, mostrou-se horrorizado com o desvio dado à sua pesquisa, pois a intenção dos pesquisadores era apenas demonstrar o efeito nocivo do feijão cru que desaparecia quando o feijão era cozido.
Em segundo lugar, claro que podemos oferecer a uma população de roedores o feijão cru para que eles comam e morram. Contudo, o difícil, para não dizer impossível, será convencer esses roedores a ingerir feijão cru como alimento! Milhões de anos de evolução tornaram os roedores (e uma enorme gama de outros mamíferos monogástricos - aqueles dotados de um só estômago - como o homem, os cães, os gatos e os ratos), avessos à ingestão de feijão cru. Quem comia, morria! Quer melhor aprendizado do que esse?
Portanto, vamos esclarecendo essa balela monumental: feijão cru mata rato se fosse teoricamente ingerido de forma voluntária, mas jamais pode ser adjetivado como atóxico, ecológico ou seguro para a espécie humana. Sócrates não sabia disso, se não, talvez não optasse pela cicuta!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

CONTANDO UM "CAUSO": O MISTÉRIO DA PANELA DE ARROZ

Em minha vida profissionalde de mais de 40 anos controlando pragas (pelo menos tentando), me deparei com muitas situações inusitadas e acabei registrando um ou outro "causo", aquelas historinhas engraçadas ou que parecem mentira. De algumas, participei diretamente e/ou fui observador presente; outras vezes, ouvi de pessoas comuns com quem tive o grande prazer de tropeçar em minhas andanças por nosso imenso país. Lembrei-me de um certo "causo" muito curioso e que quero compartir com meus leitores. Trata-se de um acontecido em uma residência na zona rural de uma família simples e que me foi relatado entre risadas pela própria senhora moradora dessa casa localizada em algum lugar de Santa Catarina. Entitulei esse "causo" de "O Mistério da Panela de Arroz". Contou-me que ali morava ela, seu marido (ambos já um pouco idosos) e um jovem estudante pensionista descendente de orientais, recém chegado,bom moço, admitido para melhorar um pouco as finanças do casal, em regime de meia pensão incluídos café da manhã e jantar. Procurando deixar o pensionista bem à vontade, mas não querendo ruídos noturnos na casa que pudessem interromper o sono do casal, Dona Maria (um nome fictício) o instruiu para que comesse à vontade no jantar, pois não haveria direito à boca livre durante a noite. Na manhã seguinte, Dona Maria encontrou a panela de arroz destampada sobre o fogão e semivazia e imaginou que o pensionista japonês havia, contrariando a regra da casa, feito uma visita noturna às sobras do jantar em altas horas. Na noite seguinte e na consecutiva, o fato se repetiu. Dona Maria ficou agastada e resolveu espreitar à noite para convencer-se do fato e confrontar o elemento nipônico, pois não queria levantar falso. Lá pelas tantas, da cama, Dona Maria percebeu que a luz da cozinha se acendeu, ouviu a tampa da panela de arroz sendo removida ruidosamente e depois um silêncio por alguns minutos. Em seguida a luz foi apagada e fez-se completo silêncio. Dona Maria ficou realmente irritada com o pensionista e despertou o Seu Mateus (outro nome fictício) para lhe contar o sucedido, qualificando a si mesma como testemunha de acusação. Seu Mateus não queria acreditar a princípio e contestou dizendo que Dona Maria deveria estar sonhando e confundindo com a realidade. Naturalmente Dona Maria não gostou nem um pouco da dúvida que pairou sobre seu fiel testemunho auricular e retrucou, dando início a mais uma daquelas intermináveis discussões entre marido e mulher. Tentando conciliar o problema gerado e desejando voltar logo a dormir, Seu Mateus propôs que os dois ficassem acordados na noite seguinte para juntos testemunharem o crime, o que foi aceito por Dona Maria que sentiu-se satisfeita com o plano. Ela mal pode dormir aquela noite e passou o dia inteiro aguardando a peritagem noturna. Mal terminou de jantar, já recolheu-se ao leito, notificando o jovem pensionista que iria fazê-lo e que provavelmente iria dormir pesado, de tão cansada que se encontrava. No quarto ficou o casal a ler e a ouvir baixinho um solerte programa de rádio que tocava músicas sertanejas com dedicatórias tipo "de fulano para sicrana com muito amor". A noite avançava e entre cochilos e sobressaltos o casal aguardava os acontecimentos. Por volta do mesmo horário na madrugada, de repente, a luz da cozinha foi acesa. Dona Maria e Seu Mateus apuraram os ouvidos e em seguida ouviram o som de destampar a panela; silêncio e depois a luz foi apagada. Levantaram-se pressurosos e foram diretamente à cozinha onde acenderam a luz e viram a prova do crime: a panela de arroz estava semivazia novamente. Dona Maria não cabia em si de contentamento, pois havia provado seu testemunho. Seu Mateus, intrigado, observou que só o arroz fora comido e não havia sinais de ataques paralelos a outros alimentos; imaginou que sendo descendente de orientais, o pensionista se interessava em forragear apenas no arroz. Foram rapidamente à porta do quarto do moço tentando auscultar ruídos que demonstrassem estar ele acordado, mas nada conseguiram ouvir. Voltando au quarto, discutiram o assunto e após muitas considerações resolveram que deveriam surpreender o larápio durante a ação gastronômica na próxima madrugada. Que lástima iria ser, consideraram, pois o rapaz era tão bonzinho, tão educado, mas tinha essa falha de caráter. Na noite seguinte, nem mudaram as roupas e Seu Mateus sequer descalçou as botinas; apenas aguardavam o momento final para resolver ao vivo o mistério da panela de arroz. De madrugada... pimba! A luz da cozinha foi acesa e a panela foi destampada. Solertes, os dois pularam da cama e rapidamente entraram de sopetão na cozinha preparadíssimos para dar um grande pito no jovem nissei larápio de arroz. O que viram? Um rotundo rato preto, bem cevado, enfiado no arroz da panela, apenas com as patas trazeiras na borda, mastigando com deleite seu jantar de cada noite. Os dois ficaram aturdidos sem entender nada do que se passava e maior susto levou o rato com a súbita aparição do bicho homem durante sua calma refeição. Tiny Silly Mouse Animated Avatars Rapidamente o rato volteou o corpo, abandonou a panela e celeremente fez seu trajeto de volta à segurança do ninho: de um salto alcançou o cano externo à parede onde corriam os fios elétricos instalados pós contrução da casa dispondo de um daqueles interruptores de luz tipo circular tão comuns; em velocidade, agarrado ao cano, passou sobre o interruptor e... a luz da cozinha se apagou! Estava finalmente esclarecido o mistério da panela de arroz! Quando o rato descia do forro usando o cano de fio elétrico como via de acesso, passava sobre o interruptor acendendo a luz; destampava a panela, coisa que um rato aprende a fazer com grande facilidade e se alimentava; quando voltava ao ninho usando a mesma rota contrária, seu corpo tocava o interruptor e a luz se apagava.
Enquanto isso, no seu quarto de estudante, o tranquilo pensionista japonês dormia seu sono de inocência. No café da manhã, encontrou ele outro clima em casa, bem mais afável. Não entendeu bem o porquê da mudança do casal que voltara a tratá-lo com sorrisos e amabilidades, mas imaginou que isso era coisa de brasileiros, tão esquisitos!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

SOBRE OS PRINCÍPIOS DO CONTROLE DE MOSCAS EM ZONAS RURAIS

Não há criação de animais de produção em confinamento que esteja livre de moscas. Claro! Nas granjas (de aves, de suínos, de gado de leite, de coelhos, etc), as moscas encontram todas as condições que facilitam sua livre proliferação. A predominância da mosca comum (Musca domestica) é grande, mas não raro, encontramos altas infestações de outras espécies de moscas nas mesmas granjas já infestadas pela mosca doméstica, das quais ressalto a mosca dos estábulos (Stomoxys calcitrans). Mas, nesse exíguo espaço, vamos focar o problema da mosca comum e os princípios de seu controle de forma racional. Antes de qualquer coisa vamos lembrar que a Musca domestica (e todas as demais espécies de moscas) tem seu ciclo de vida baseado no que chamamos de “metamorfose completa”, ou seja, seu desenvolvimento se dá em quatro estadios: ovo - larva – pupa – adulto, cada fase com alguns dias de duração; nos meses quentes e chuvosos, o ciclo se completa em pouco mais de uma semana. Cada fêmea pode produzir cerca de 600 a 700 descendentes no curto espaço de pouco mais de 30 dias, que é seu período de vida, sendo essa a principal razão de gerar infestações altíssimas que vão acabar interferindo até na produção dos animais confinados naquela granja. Depois de tentar combater as moscas nas propriedades rurais durante muitas décadas, o conhecimento sobre o assunto evoluiu muito e hoje já conhecemos muito bem os princípios sobre os quais repousa um eficiente e eficaz programa de controle das moscas nas instalações de produção animal. São eles: uma abordagem integrada voltada não só sobre o inseto propriamente dito, mas também (e principalmente) contemplando o ambiente da granja e a preocupação permanente para evitarmos o surgimento de linhagens de moscas resistentes, fenômeno bem mais comum do que se pensa. Bem resumidamente, podemos dividir a abordagem de controle das moscas domésticas nas granjas em:
• métodos físicos (os princípios físicos compreendem o uso de armadilhas e dispositivos de atração, captura e eliminação de moscas como artefatos colantes, armadilhas elétricas e outros mais)
• métodos culturais (monitoramento dos níveis de infestação por estágios a fim de determinar o momento correto para empreender ou acelerar programas de controle; uso de barreiras físicas para evitar o acesso das moscas; o manejo adequado e correto das fezes dos animais confinados; estender o combate a todas as instalações da granja)
• métodos biológicos (permitir, incentivar e proteger a presença de inimigos naturais das moscas principalmente no esterco onde as larvas se desenvolvem)
• métodos químicos (uso de biocidas, os mais específicos possíveis, aplicados sobre as diferentes fases do ciclo da mosca).
O tema é enorme e qualquer dia desses a gente analisa cada aspecto de maneira um pouco mais profunda. Prometo!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

FALANDO UM POUCO SOBRE MÉTODOS DE CONTROLE NÃO QUÍMICOS

No mundo todo, incluindo nosso país, as sociedades estão se tornando progressivamente mais quimiófobas (medo de produtos químicos). Essa tendência segue inexoravelmente o caminho da maior preocupação com o meio ambiente e de sua preservação. As famílias e os indivíduos têm uma crescente preocupação com os compostos químicos que são adicionados aos alimentos, administrados aos animais de abate, empregados na água de bebida, usados no combate às pragas tanto na lavoura, quanto nos ambientes domésticos, comerciais e industriais. Em razão disso, cresce a demanda de métodos de controle não químicos por parte das pessoas que contratam as empresas e os profissionais desinfestadores, os quais vêem-se compelidos a buscar alternativas não químicas para controlar pragas, especialmente as urbanas. Vamos rever esse tema de forma bem sumária?
Armadilhas luminosas: destinam-se a atrair e eliminar insetos voadores, principalmente moscas. Geralmente são dotadas de uma luz ultravioleta (atenção: algumas têm apenas uma luz azul escura que não é ultravioleta) capaz de atrair os voadores passantes. Na frente há uma grade eletrificado que “frita” a mosca que nela pousar, mas, devido à carapaça rígida do inseto, com freqüência ele explode” lançando partes do corpo para todos os lados. Uma variante é a armadilha que têm apenas um cartão colante por trás da lâmpada e o inseto que pousar fica ali preso; depois é só trocar esse cartão quando ele estiver cheio de insetos capturados.
Fitas adesivas: empregadas para capturar moscas que naturalmente procuram fios, arames, barbantes, canos e corpos cilíndricos para pousarem. No mercado há fitas adesivas que devem ser colocadas em pontos estratégicos da área.
Ratoeiras e armadilhas mecânicas: para ratos e camundongos. Há dois tipos básicos: as cruentas (provocam a morte do roedor capturado) e as incruentas (apenas capturam o roedor). É bem mais fácil obter bons resultados quando empregadas contra camundongos do que quando as usamos contra ratos. Existem também as placas colantes (cruentas) de grande utilidade em ambientes onde os artefatos mecânicos não vão bem; todavia, essas placas requerem vistorias constantes para remover as que capturaram roedores e repô-las.
Dispositivos de afugentar: aparelhos contra roedores que pretendem apenas proteger uma dada área de sua presença. Os de ultrassom já caíram em desuso porque os roedores rapidamente se acostumam a eles. Os de vibração não têm eficiência comprovada. Os geradores de campo eletromagnéticos são bem eficazes, mas apenas em um raio de 4 m ao seu redor.
Não há muitas pesquisas atualmente nesse campo, mas de repente...
(texto adaptado a partir do livro Manejo de Pragas em estabelecimentos Alimentícios -- acesse pragas.com.br)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

OS RATOS E A TERRÍVEL HISTÓRIA DA PESTE BUBÔNICA

Nenhuma outra doença influenciou tanto a história da humanidade quanto a peste. Causada por uma bactéria hoje denominada Yersinia pestis, a doença é transmitida principalmente pelas chamadas pulgas dos ratos (Xenopsylla cheopis) e tem curso mortal tanto para roedores, quanto para humanos. Muito se aprendeu sobre essa temida doença desde que Alexandre Yersin em 1894 descobriu o bacilo responsável. Ninguém sabe como e quando esse bacilo apareceu na Terra; provavelmente evoluiu junto com outros microorganismos em distantes eras geológicas. Mas, evoluiu mal porque causa a morte do hospedeiro onde se aloja, forçando o bacilo a buscar continuamente outros hospedeiros para garantir a perpetuação de sua espécie, o que é feito através de uma pulga. Só lembrando: a bactéria penetra em um roedor (via pulga) onde se multiplica rapidamente fluindo no sangue do hospedeiro. A pulga desse hospedeiro ao se alimentar do seu sangue infectado, suga o sangue carregado de bacilos que, no interior do inseto, vão se multiplicar, localizando-se especialmente no esôfago onde acabam formando uma "rolha" que o tampa. Enquanto isso, o roedor infectado acaba morrendo da doença; o sangue do hospedeiro para de circular e suas pulgas não conseguem mais se alimentar no cadáver. Com fome, as pulgas abandonam esse cadáver e procuram outro roedor a quem vão picar para se alimentar. As pulgas com o esôfago tamponado, não conseguem se alimentar e regurgitam o sangue sugado de volta para o novo hospedeiro, levando os bacilos. Resultado: o novo hospedeiro se infecta e está condenado à morte. No entanto, quando a maioria dos roedores dessa colônia morrer, as pulgas infectadas buscam outros tipos de hospedeiro e pode acontecer que seja um humano passante a quem vão tentar picar. O sangue humanos não lhes agrada e elas desistem , mas aí, o infeliz já estará contaminado e aproximadamente dentro dos seguintes seis dias, estará severamente adoentado (vômitos, dores de cabeça, febre muito alta). E assim, sucessivamente, acontecem as epidemias de peste.
Pois bem, a história da peste é uma história de bactérias, pulgas, ratos e homens. A seda começou a penetrar na Ásia Central por volta do século 3 A.C. vinda da China, trazida por longas caravanas no lombo de camelos. Na bagagem, a caríssima seda, mas também roedores possivelmente infectados com o bacilo da peste. Os romanos conheceram a seda durante sua expansão para a Ásia e seu sucesso foi fantástico entre patrícias e patrícios romanos. Esse rendoso comércio foi fortemente afetado por volta de 270 A.C., porque muitas caravanas simplesmente desapareciam no caminho devido à morte de todos os caravaneiros acometidos pela peste. Assim mesmo, o avanço da peste foi lento e alcançou a China somente sete séculos depois (610 A.C.). Contudo, para a Europa, o caminho foi mais rápido devido às embarcações romanas que traziam roedores infectados da Ásia. Já em 161 D.C. ratos pretos (R.rattus) haviam invadido a Itália e com eles a primeira epidemia ocidental de peste grassou por 15 anos dizimando a população romana e de todo o Mediterrâneo, despovoando a faixa litorânea. Outra epidemia estourou em 542 em todos os países mediterrâneos provocando a morte de cem milhões de pessoas em dois séculos. Com tamanha perda de vidas, instalou-se uma era que hoje chamamos de obscurantismo, porque a estrutura social (e cultural) foi desmantelada completamente. Morreram os cidadãos comuns, mas também morreram os nobres, os militares, os professores, os médicos, os religiosos, os engenheiros, os comerciantes, os lavradores e os produtores, causando a estagnação do conhecimento humano e de sua transmissão à gerações seguintes (a cultura foi preservada no interior de monastérios e clausuras pelos monges católicos). Em 1346, por exemplo, os tártaros que haviam invadido a Europa, durante o assédio à cidade de Caffa (um posto avançado genovês) às margens do mar Negro, catapultaram cadáveres de pestosos para o interior dos muros disseminando a peste entre os cidadãos que abandonaram a cidade (levando involuntariamente roedores e suas pulgas para toda a região). As consequências da Peste Negra foram profundas e indeléveis. Os historiadores nos contam as epidemias terríveis de peste que sucessivamente golpearam a Europa: 1348(a mais violenta), 1363, 1374, 1383, 1389, 1410, 1528, 1652, 1720 e 1771, ceifando milhares de vidas.
Quer dizer, nunca uma doença epidêmica fez tanto estrago na história da humanidade quanto a peste! Transmitida por quem? Uma pulga e um rato.
E no Brasil, tem peste? Tem sim, mas está restrita a algumas regiões do norte e nordeste do país, com dois microfocos em Teresópolis e Petrópolis no Estado do Rio de Janeiro, mas em caráter meramente endêmico. Já não chega os sérios problemas de saúde que temos e ainda mais esse? Xô, gururu!